Lei Seca

Um espaço para discutir as grandes questões. Editor-chefe: Luiz Augusto

Nome:

Advogado, vive em São Paulo

segunda-feira, julho 30, 2007

No Museu Britânico - Parte 2

Jogo rápido, o post final sobre o Museu.
Para começar bem, um grande e compassivo Buda gigante, entre um andar e outro:

Uma estátua de cavalo, supostamente vinda, se bem me lembro, do Templo de Halicarnasso. Seria isto possível? Devo ter lido errado. Aqui:

Uma múmia, imagem forte e evitável na hora da janta. Reparem que seus pertences estão dispostas na tumba. É a conta menor que ela tirou da vida (lembrando João Cabral de Melo Neto):

Um valente caçador em meio aos bichos. Reparem no escorpião, na cobra e no cão aos pés da obra:

E uma modernice africana, um guerreiro estilizado:Em breve, o último dia em Londres.

sábado, julho 28, 2007

No Museu Britânico - Parte 1

Retomando a narração da viagem à Europa, tirei uma manhã para visitar o Museu Britânico. Aqui estão algumas das coisas que vi.
Um moai da ilha de Páscoa, situada no Oceano Pacífico:
Um totem dos índios norte-americanos. Vim a saber que cada bicho representa um encontro entre um ancestral da tribo e um animal amigo (provavelmente pica-paus ou tucanos, só tinha bicho narigudo...):
A famosa Pedra de Rosetta, um dos artefatos mais famosos do mundo, responsável pela tradução dos hieróglifos egípcios. Foi um francês que traduziu, pertencia à França, mas os ingleses ficaram com a pedra como espólio das guerras napoleônicas:

A entrada de um templo babilônico:

E um templo grego reconstituído integralmente:

Há mais coisas de assombrar os viventes, que mostrarei num próximo post.

sexta-feira, julho 27, 2007

Elogio do fracasso

Que bom é não ser bem-sucedido! Como o João de Sorte da fábula, celebro meu fracasso neste momento tão propício para a derrota. Se eu fosse um vencedor teria que viajar de um lado para outro de avião Brasil afora, nesta hora tão ruim da aviação. Imaginem se eu, advogado, tivesse clientes em Brasília. Teria que enfrentar aeroportos cheios, dormir no chão e torcer para não haver uma catástrofe.
Longa vida a nossas sábias autoridades, que já sabem de pequenos que avião no chão não cai. Em antecipação elas determinaram até a proibição da venda de passagens, pensando em nossa segurança.
É melhor mesmo que ninguém me procure, que eu permaneça um rábula obscuro e sem clientes para o resto da vida, um porta de cadeia, ou um “caça-ambulâncias” (tradução livre do termo usado pelos gringos, “ambulance-chaser”). Procurar ambulâncias é tudo que nos sobra mesmo, incluindo aí camburões, rabecões, viaturas da defesa civil e caminhões dos bombeiros, nos socorrendo de nossos chabus, de nossas explosões espetaculares.
Sigo as sirenes e encontro os potenciais clientes. Mães arrasadas, filhos inconsoláveis, corpos estendidos no solo. Uma bala perdida, um motorista bêbado, um Airbus desgovernado, quase tudo basta.
Seria péssimo ser eficiente e tornar-me um executivo requisitado ou empresário de sucesso. Teria que contratar e demitir gente, pensar em carga tributária, risco-Brasil, enfrentar a Justiça e os sindicatos. Eu seria chamado para fóruns, simpósios e palestras do Bernardinho ou do Parreira, para aprender como vencer e ter pensamento positivo. Eu teria que ler “O Monge e o Executivo”, ou “O Segredo”. Há metafísica bastante para pensar em nada, dizia Alberto Caeiro/Fernando Pessoa. Melhor ficar quieto, vendo Big Brother e lendo Harry Potter.
A mesma coisa serve para o Brasil. Melhor que a economia não cresça mesmo, como nos últimos trinta anos. Imigrantes iriam querer vir para cá. Já bastam esses refugiados cubanos, que insistem em largar o paraíso comunista, onde criança alguma dorme ao relento. Italianos, espanhóis, portugueses e japoneses disputando nosso espaço. Imaginem só. Como iríamos alimentar todos? Pensar que isso já aconteceu, que passado terrível...
Se nosso país fosse um sucesso viraria notícia mais do que já é, com nossos desastres e massacres. Políticos honestos, lideranças sérias, educação de qualidade, serviços públicos de primeira. Ninguém entenderia nada. Deixa para lá. A bagunça é nossa, os mortos são nossos, nesse caos a gente se entende.
País muito rico só atrai inveja. Ele passa a sofrer com terremotos, tsunamis e outras hecatombes. Fica muito ganancioso e invade outros países para roubar seus recursos naturais. Participa de missões da ONU e forças-tarefa multilaterais, irrita os xiitas e passa a sofrer ataques terroristas.
Não, é melhor ficarmos aqui, esquecidos, matando-nos uns aos outros na santa paz. Em escala suficiente para baixar a população em 50.000 almas ao ano por homicídios e outras 25.000 anuais por acidentes de trânsito, mas não a ponto de fazer com que os marines nos impeçam de continuar com o genocídio de brasileiros. Não, não temos armas de destruição em massa aqui, pode ficar calmo, Tio Sam. Não precisa se preocupar conosco.
Fica combinado assim, então. Eu não faço sucesso, e vocês, meus conterrâneos, continuam na m...esma, também. Essas disputas por dinheiro e poder são inúteis, tudo é vaidade e aflição de espírito. Uma coisa poderemos ganhar um dia, sem esquentar muito a cabeça. Seremos um dia o maior país mal-sucedido do mundo. Quem viver verá.
Como o João de Sorte da fábula, nós um dia trocamos nosso ouro por uma grande pedra de amolar sem valor. E quando a pedra caiu no poço, ficamos aliviados por não ter que carregar mais nada. Que benção!

quinta-feira, julho 26, 2007

Grandes momentos em discursos presidenciais

Vou reproduzir neste blog um quadro popular do programa do americano David Letterman. Eu coloco um ou dois trechos de discursos presidenciais do passado, e coloco um do atual. Lá vai:

Juscelino Kubitschek: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu País e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”

Lula: "Toda vez que o avião fecha a porta, eu entrego minha sorte a Deus. Eu estou na mão de um comandante que é um ser humano..."

terça-feira, julho 24, 2007

Brincadeira de condomínio fechado

Após um dia estafante em sua firma o Sr. Roberto Dias, típico profissional de meia-idade bem sucedido, chega no seu sedã de luxo aos portões do condomínio fechado em que mora com sua família. Ultrapassa a cancela, a guarita, os homens de preto, e segue por ruas de sonho até sua casa. Vive num comercial de margarina. Ambiente controlado e inexpugnável. O resto do mundo fica lá fora.
Tudo está quieto. Ele apanha os jornais do dia, liga a TV de plasma e desaba na poltrona. Está ali, nem lendo direito, tampouco prestando atenção nos canais, quando chega seu filho, Júnior, nove anos de idade. O menino deita no chão, a seus pés.
- Oi pai!
Roberto mal levanta os olhos das cotações da Bolsa:
- Oi filho, tudo bem?
- Tudo. Eu estava na praça, brincando com o Segundinho, com o Filho e com o Netinho.
- Ah, e do que vocês brincavam (bom momento para fusões, é a manchete)?
- De polícia e ladrão
- Puxa, os garotos ainda brincam disso? E o que cada um era (aumenta volume da TV)?
O Segundinho era o Jaqui Bauer. O Filho era o Decster. E o Netinho era o Sauier.
- Mas quem são esses (vira página do jornal)?
- Ah, são heróis de seriados da TV. Do 24 horas, do Decster, e do Losti. Bem, tinha um outro pessoal brincando com a gente, filhos dos serventes, aqueles que ficam na creche dos funcionários. Eles eram os vilões, mas ninguém conhecido. Nós éramos os principais, e eles tinham um plano para explodir a garage bandi, a gourmê area e o launge.
- E o que os seus amigos fizeram, Junior (Natura domina mercado)?
- O Segundinho, digo, o Jaqui Bauer, torturou todo mundo até descobrir onde estavam as bombas.
- Nossa, sério (risco-Brasil em queda)?
- Brincadeira, né? Ele descobriu que tinha um outro terrorista escondido. Aí o Filho, digo, o Decster, foi até lá, e matou a pessoa na frente de todo mundo, para dar uma lição a eles.
- Que imaginação (puxa, a Bovespa subiu 120 pontos hoje...)!
- Pois é. Aí demos pelo sumiço do Sauier. Ele tinha ido dar uma volta com uma menina, a Alanis. Acho que eles tão ficando. Acabou perdendo tudo, o bobo.
- E você, era quem? Brincou ou só viu eles brincarem (assista hoje no jornal das oito...)?
- Eu era o Toni Soprano, também do seriado. Foi eu que coloquei as bombas, para distrair a polícia. Ia chegar um carregamento grande hoje, de um caminhão roubado. Eu fiquei na espera, jogando cartas e assistindo um stripitisi. Aí o Jaqui Bauer e o Decster vieram me prender.
- Você foi preso? – O Sr. Dias larga enfim o jornal, para pegar um drinque no bar.
- Claro que não. Eu subornei tudo mundo e escapei. A mãe está em casa? To com fome. Mãe!!!
O menino corre escada acima, em direção aos quartos. O pai tem orgulho do filho, tão inteligente, e com tanta imaginação.
Era mais simples quando ele, há muito tempo atrás, brincava disso. Só havia dois papéis a escolher. Talvez um dia irá deixar seu herdeiro passear fora dos muros do condomínio. Ele merece. Apanha de novo o jornal. Sorve o uísque.

segunda-feira, julho 23, 2007

Caos aéreo e Estado de Direito

(Versão de artigo de minha autoria publicado em 06/07/2007 em alguns jornais)

O austríaco Friedrich A. Hayek dedicou o livro “O Caminho da Servidão” (1944) ao que chamou de “socialistas de todos os partidos”. Trata-se de um clássico do pensamento liberal, que parece ter sido pouco aproveitado por quem pretendia atingir. A obra do escritor é um primor e veio na esteira da ascensão de regimes totalitários que culminaram na Segunda Guerra mundial. Alguns de seus conceitos podem ser aplicados em nossos dias, sobretudo os trechos que dizem respeito à aplicação de lei. Os problemas com os atrasos nos aeroportos do país jamais seriam sonhados por Hayek, embora algumas de suas idéias atualmente caiam como uma luva para a situação que vivemos.
Segundo o austríaco, “a característica que mais claramente distingue um país livre de um país submetido a um governo arbitrário é a observância, no primeiro, dos grandes princípios conhecidos como o Estado de Direito. (...) Isso significa que todas as ações do governo são regidas por normas previamente estabelecidas e divulgadas – as quais tornam possível prever, com razoável grau de certeza, de que modo a autoridade usará seus poderes coercitivos em dadas circunstâncias, permitindo a cada um planejar suas atividades individuais com base nesse conhecimento”.
Não quero parecer exagerado. Mas vale comparar o problema do “caos aéreo” com as teorias de Hayek. Vejamos. Os problemas nos aeroportos brasileiros vêm sendo provocados por greves de controladores e policiais, problemas técnicos e panes, entre outras causas que não têm a ver com os passageiros. Mais do que nunca, está claro que o Estado de Direito sofre ameaças constantes dos principais envolvidos no episódio, sejam eles o governo federal, servidores públicos e seus sindicatos, e as empresas de aviação.
Nos últimos meses, as pessoas colocam os pés nos aeroportos sem saber se vão embarcar, o que impede o planejamento. Negócios são perdidos, férias canceladas, famílias terminam separadas e muitos compromissos importantes têm de ser adiados. Isso é o que Hayek chamaria de arbítrio, pois é onde acaba a liberdade de escolha do cidadão.
E o que fazem os responsáveis por toda essa situação? O governo federal, num misto de paralisia e deboche, é capaz apenas de fazer declarações desrespeitosas. Não consegue, com o perdão do trocadilho, controlar os controladores de vôo e suas demandas sindicais. A Polícia Federal ainda contribui com as filas para obtenção de passaportes.
O governo federal também falha na hora de fornecer uma estrutura aeroportuária razoável, que não seja frágil ao ponto de manter aviões no chão por causa de urubus, cachorros na pista, neblina e a falta de um ou dois controladores ao trabalho (exemplos extraídos do noticiário recente). E não faltam dinheiro arrecadado com os tributos e uma das mais altas taxas de embarque do planeta. Os servidores e seus sindicatos exigem direitos e se esquecem dos deveres. Como não existe uma lei que regule a greve no setor público, os controladores de vôo militares estão claramente amotinados.
Já as a companhias aéreas promovem “overbooking” (venda de passagens acima da lotação) e violam direitos dos consumidores, tratando seus clientes como gado, abandonando-os à própria sorte no chão dos aeroportos, sem direito à alimentação, traslado, hotel e informações. Sem a menor cerimônia, rasgam o Código dos Direitos do Consumidor. Esse desrespeito generalizado à minoria que anda de avião neste país é um ataque ao próprio Estado de Direito, sem exagero. Tolhidos no seu direito de ir e vir, os passageiros não vivem em uma democracia, já que lhes foi tirada a capacidade de planejar.
Hayek diria que, “segundo as regras do jogo conhecidas, o indivíduo é livre para perseguir suas metas e desejos pessoais, tendo a certeza de que os poderes do governo não serão empregados no propósito deliberado de fazer malograr seus esforços”.
Mas me parece que isso não é mais válido no Brasil. Do jeito que a situação vem se desenrolando, a impressão é que rumamos de cabeça baixa ao abismo do arbítrio. Para isso, o governo nos fornece passaporte e traslado. Sem qualquer objeção.

Post-scriptum: Onze dias depois da publicação deste texto, ocorre o acidente em Congonhas. Estão tentando impedir o ir e vir também com a eliminação física dos viajantes.

domingo, julho 22, 2007

O Castelo Warwick e Stratford-U-Avon

Vamos descansar um pouco e retomar a saga européia.
Na última parada, eu estava em Londres. Bem, no dia seguinte embarquei num trem rumo à Stratford-Upon-Avon, cidade natal do bardo Shakespeare.
No comboio um grupo de moças que trabalhavam no Madame Tussaud´s, o museu de cera de Londres, levavam um boneco de cera do escritor para o castelo Warwick, que é dos mesmos donos. Elas me convenceram a ir lá, que era bem no meio do caminho, e depois continuar para Stratford. Vi na tabela dos horários dos trens que isso era possível, se ficasse só duas horas no castelo.
Dito e feito, desci na cidade de Warwick, no coração da Inglaterra. Caminhei até a impressionante fortaleza:

Escalei as torres e visitei suas masmorras. Bem conservado, e organizado para dar lucro aos seus donos, jeitão de museu. A vista do alto:

Algumas aves de rapina, como urubus, águias, e uma espécie de coruja, eram expostas num pavilhão. Perto, uma ponte destruída ligava o nada ao lugar nenhum, como algumas obras de engenharia brasileiras:

Uma enorme trebuchet, uma catapulta, estava num dos pátios, e haveria uma demonstração ao meio-dia. Perdi porque o MC falava demais, enrolou, e eu tinha que voltar ao trem. Após zanzar pelo labiríntico centro de Warwick, retornei à estação, rumo ao destino final do dia.
Stratford, às margens do rio Avon, é dominada pela figura de William Shakespeare, homenageado em toda a parte. Foi onde ele viveu e morreu. A casa onde ele nasceu:
É cidade bem preservada, com casas no estilo Tudor da época do bardo. A Igreja Trinity, em reformas, guarda seus restos mortais. Não entrei em nenhuma das casas, todas cobravam ingresso. Existia até o chalé de sua amante, Anne Hathaway (o mesmo nome da bela atriz de Hollywood).
Uma visão do rio Avon, que de vez em quando alaga a cidade:

E da casa onde William morreu:
Bacana, não? E assim acaba este dia.
No próximo episódio trarei imagens do Museu Britânico, e de alguns artefatos históricos bem famosos.

sábado, julho 21, 2007

Os Senhores das Moscas

Fica registrado o parabéns desse humilde blog à toda a cúpula da Anac pelo recebimento ontem da medalha do mérito Santos-Dumont, outorgada pela Aeronáutica brasileira pelos relevantes serviços prestados à aviação brasileira.
Dá vontade de cantar Porrada, dos Titãs:

"Medalinhas para o presidente
Condecorações aos veteranos
Bonificações para os bancários
Congratulações para os banqueiros
Porrada
Nos caras que não fazem nada."

O poder está deixando essa gente cega. Façam que nem o Lula e vão operar a vista, e se tratem com Simancol.
Falta aos Ilmos. bacharéis a concessão de títulos de nobreza. Marqueses? Viscondes? Barões? Não, o de Senhores das Moscas.

sexta-feira, julho 20, 2007

Tapando a bola de fogo com a peneira

É natural do ser humano evitar responsabilidades. O humorista americano Jerry Seinfeld disse uma vez no seu “show” televisivo algo mais ou menos assim: “Responsabilidade é péssimo. Quando algo acontece, todos querem saber quem é o responsável...”.
Mas a força com que o governo federal tenta mascarar sua responsabilidade pelo avião explodido em São Paulo é nauseante. Por mais que Lula tente, não há como não parecer que ele não tem as mãos e os pés cheios de sangue, as botas cheias de barro do solo amazônico que primeiro acolheu as vítimas do avião da Gol, e a cabeça e o paletó cheios da fuligem produto da carbonização do avião da Tam. Já são mais de trezentos e cinqüenta mortos.
A única preocupação deles é fazer a tragédia não colar na casca de teflon do presidente.
Isso parece ser recorrente no petismo. Falta a eles crítica e auto-crítica. Quando um jornalista gringo chamou Lula de bebum, ele quis expulsá-lo do país. Se um reclame faz troça de uma ministra que mandou a gente relaxar gozar (link para a propaganda aqui: http://www.youtube.com/watch?v=jCr_rcRF2Ts), a pedido do governo ela é tirada do ar. Após 90.000 pessoas espontaneamente vaiarem o presidente no Maracanã, seus áulicos fazem malabarismos verbais para apontar uma conspiração. Provavelmente foi o maestro John Neschling que coordenou o coro, puxados com um dó de peito do tenor Pavarotti. Ora, eles não sabiam que tinha sido isso? Ficam sabendo aqui, em primeira mão...
Agora, chegará o dia em que algum gênio da raça vai revelar que a pista em Congonhas era mesmo muito pequena para dar segurança (dãh...), que o serviço de reforma na mesma foi mal-feito (é mesmo?), que eles preferiram priorizar aquele lanche horroroso servido no saguão (nem diga...) ao invés da infra-estrutura, e que um aeroporto em que o fato dos moradores dos prédios vizinhos poderem ver os pilotos dos aviões tirando meleca do nariz nas aterrisagens e decolagens, como no trânsito, indica que algo está no lugar errado (os prédios ou o aeroporto).
Aí os petistas vão dizer o quê? Que nossa vaia é orquestrada? Que os 180 milhões de brasileiros revoltados foram incitados pela oposição e pelas elites? Só restará a eles enfiar a cabeça no chão, como avestruzes.
Seria lamentável se dessa história, para variar, não saísse um culpado. Que não caísse o insosso ministro Valdir Pires, e toda a cúpula da Anac e da Infraerro. E que mais uma vez a culpa não fosse de Ninguém (o do Gil Vicente), e sim do Homem de um Braço Só, do filme O Fugitivo, aquele sacana.

quinta-feira, julho 19, 2007

Nós estamos mortos

Nós, brasileiros, morremos também. Estamos defuntos, como aqueles corpos carbonizados no avião. Demos um duplo twist carpado no ar e aterrisamos do outro lado da avenida. Morremos na contramão atrapalhando o tráfego. Apodrecemos e queimamos dentro de nossas carcaças. Já éramos, não mais somos, finados estamos.
Tivemos nosso Onze de Setembro particular. A diferença é que nós arremessamos aquele avião fora da pista. Escolhemos aquele gente no poder, lhes demos força. E eles lotearam as infraerros com barnabés, dividiram as licitações fajutas, autorizaram o funcionamento das rampas de lançamento assassinas.
Nós somos nossa própria Al-Qaeda. Rasgamos nossos próprios pulsos. Regredimos com vontade e velocidade. Voltamos aos tempos anteriores à Santos-Dumont, não podemos mais voar. Vamos aos poucos regredindo aos tempos das capitanias hereditárias. Em pouco tempo estaremos de volta às cavernas. Quiçá pararemos nossa involução no estado de amebas, ou nadaremos mais uma vez no caldo primordial.
São Paulo. Seus habitantes são federações de ilhas distantes. Estrelas em galáxias diferentes. Vivemos nessa cidade pensando apenas no litoral.
Se alguém nos perguntar sobre nosso dia, e sobre nossas novidades, podemos dizer, com ar largado: “Aqui em São Paulo? Ah, um avião escorregou em Congonhas e caiu no meio da rua, bateu num prédio. Vocês viram aquela bola de fogo? Ah, fim de semana tem praia, viu?”.
Nada me deixa mais triste, ao dizer para alguém que sou de Santos, ouvir: “E por que você não mora lá?” Ou “Você vai e volta?” Morar aqui é anti-natural, ninguém acredita que é possível, com nosso ar sujo e nossa selvageria. Eu falo que quero a alta-cultura, meu trabalho está aqui, insisto em passar os fins de semana nestas bandas. Por isso fico.
Mas a toada é de ganhar o máximo de dinheiro possível além-mar (aqui) e voltar para Portugal (o litoral norte, Alphaville, o interior, Campos do Jordão, Atibaia). Não ficamos, não estamos nem aí. Os aviões despencam em nossas ruas e nem parece que foi em nossa cidade, parece coisa de uma reprise esquecida. Foi longe demais, em outro bairro, outro planeta. Apenas causou alguns quilômetros a mais de congestionamento.
Nós estamos mortos.

terça-feira, julho 17, 2007

"De novo, e muito pior"

O título acima era a manchete da Folha de São Paulo do dia 1º de fevereiro de 1974, sobre o incêndio do edifício Joelma, ocorrido na véspera, e que matou muita gente, repeteco do fogo que consumira o edifício Andraus, dois anos antes. De um fogo para outro, nada havia mudado em termos de segurança e prevenção à incêndios.
Podemos dizer o mesmo hoje: "De novo, e muito pior", ante o acidente com o avião da Tam ocorrido hoje em São Paulo, no aeroporto de Congonhas. Parece que nada aprendemos com o choque entre o Legacy e o Gol, ano passado.
A pista em Congonhas já havia sido interditada por ordem judicial, por ser insegura quando chove. Prédios subiram descontroladamente ao redor do aeroporto. A capacidade de atendimento já havia sido há muito ultrapassada. Era a crônica de um desastre anunciado.
Imagine-se o desespero das famílias dos passageiros e tripulantes numa hora dessas.
Lamentável. É de aguardar-se o desdobramento desse caso, mas teremos mais angu no caos aéreo.
Quanta gente vai ter que morrer até esse governo fazer algo?

segunda-feira, julho 16, 2007

Os padres priápicos

Quem já viajou no interior de São Paulo provavelmente parou num posto de beira de estrada e encontrou à venda um daqueles bonecos de padre com batina. Puxa-se a corda e uma ereção enorme se forma sob o paninho. Sabedoria popular, como os ditados e provérbios.
Manchete do Estado de hoje anuncia: "Igreja paga US$ 660 milhões para vítimas de pedofilia". É a conta por anos e anos de abusos cometidos por padres e freiras em terras americanas.
Janer Cristaldo, em seu blog, disse: "Quando os religiosos aprenderão que quem vive plenamente sua sexualidade não precisa abusar do próximo?"
O escritor lusitano Alexandre Herculano, no século XIX, disse em sua obra "Eurico, o Presbítero":

"Eu, por minha parte, fraco argumentador, só tenho pensado no celibato à luz do senti­mento e sob a influência da impressão singular que desde verdes anos fez em mim a idéia da irremediável solidão da alma a que a igreja condenou os seus ministros, espécie de amputação espiritual, em que para o sacerdote morre a esperança de completar a sua existência na terra".

Triste é que alguns deles são os que mais pregam posturas anti-naturais e humanas em matéria de sexualidade, aborto, uso de camisinha e prevenção de doenças venéreas.
Ontem falava-se justamente de hipocrisia no Manhattan Connection, programa da GNT (canal 41 no cabo ou gato). Era sobre o senador americano, notório defensor da abstinência sexual para jovens como forma de prevenir doenças e gravidez, que era ardoroso freqüentador de prostitutas. Outro fariseu, hipócrita, sepulcro caiado, etc., de que fala a Bíblia.
E assim la nave va...
Em tempo, e em adição ao post anterior, manchete do Estado, caderno Metrópole: "Estudo liga gravidez indesejada a crimes violentos em cidade de SP", em outra confirmação das teses do livro Freaknomics, de Steven Levitt, que analisou o impacto da gravidez adolescente e da proibição do aborto e aumento da criminalidade.

domingo, julho 15, 2007

Junior

Leio no Estado de hoje que há uma frente parlamentar anti-aborto no Congresso Nacional, formada por deputados e senadores que não querem a liberação do aborto. Alguns querem até proibir o aborto no caso de estupro ou de risco de vida à gestante, e punir como hediondo o aborto de fetos inviáveis (anencefálicos, etc). É a posição do ano 1939, anterior à Parte Especial do Código Penal brasileiro.
São uns insensíveis. Vamos fazer o seguinte, e ver se V. Excelências, homens, lógico, mantem a sua posição após a seguinte experiência científica:

1-) As Ilmas. Excelências tomam o engravidol, a droga que permitiu ao Arnold Schwarzenegger ficar grávido na comédia Junior, filme de Ivan Reitman.
2-) Nossas cobaias escolhem um mancebo priápico de suas preferências, que irá conhecé-los no sentido bíblico, à força.
3-) Após eles ficarem grávidos ou tiverem um filho que morrerá no parto, eles levam os projetos à plenário, e votam de acordo com as suas convicções.

Outra notícia, que não tem nada a ver com o que disse acima, faz constar que 1 em cada 6 habitantes de São Paulo mora em favelas. Muita gente nascida para viver de forma digna, no país em que planejamento familiar é palavrão. E viva o direito à vida! E viva o voto obrigatório!

sábado, julho 14, 2007

Pagando aluguel ao Starbucks

Propaganda de graça, nada ganhei com isso. Entre na sua cafeteria Starbucks. Pegue seu lugar. Escolha sua opção de café favorito (normal, expresso, mocha, capuccino). Opte por uma cobertura (chantilly, creme, leite). Ele pode vir descafeinado também. Ponha açúcar ou adoçante. Leia revistas ou jornais, tome mais café. O preço é meio caro, mas foi um prazer, não? Pronto, você acabou de pagar aluguel ao Starbucks.
Essa pelo menos é algo que voltou a chamar a atenção dos versados em Economia. É lição antiga, como a mais-valia do Marx, mas que está nas livrarias em roupagem nova, e na seção de auto-ajuda para finanças.
É o seguinte. Quando compramos um cafezinho, na verdade estamos pagando um custo extra. Bem mais que o mero custo do pó de café, água quente e açúcar da xícara. Paga-se a estrutura que servirá o café, óbvio (empregados, logística, insumos), mas, principalmente, o ponto. Daí o aluguel pago. Melhor o ponto, mais caro cafezinho nosso de cada dia.
Já tinha tido uma noção dessa idéia ao ler Pai Rico, Pai Pobre, de Robert Kiyosaki e Sharon Lecter. Eles disseram (num dos livros da série) que o lendário fundador do McDonald´s, Ray Kroc, numa palestra a jovens empreendedores, perguntou a estes qual era o seu negócio. Eles responderam rápido: “É venda de hambúrguer, lógico”. “Não, meu negócio são os imóveis”.
O McDonald´s não vende lanches. Ele aluga espaço temporário às pessoas. Pontos para lanchonetes. Os melhores possíveis no mundo. Times Square, Nova York. Piccaddily Circus, Londres. Avenida de Las Ramblas, Barcelona. Piazza di Spagna, Roma. Avenida Paulista, São Paulo. Onde houver uma multidão, haverão fincados os famosos arcos amarelos, mais conhecidos provavelmente que a cruz católica (parafraseando John Lennon).
(Parênteses. Disse um amigo meu, publicitário, que a cor antigamente usada na decoração das lanchonetes dos McDonald´s brasileiro, com profusão de vermelho e amarelo, era uma forma de apressar o consumo. São cores que tornariam as pessoas inquietas e um tanto irritadiças, sem vontade de permanecer sentadas ali, o que faria elas comerem rápido e saírem logo do restaurante, deixando logo o assento livre. E pronto para ser alugado de novo).
O livro que melhor desenvolve essa idéia que exponho é O Economista Clandestino, de Tim Harford. Nesse lançamento recente, o autor pega justamente o exemplo das cafeterias e destrincha as razões pela qual nosso café é mais caro. Falando de Londres, ele explica que os pontos nas saídas de estações de trens e aeroportos são disputadíssimos pelas grandes redes (Costa, Starbucks, etc.). Elas se esforçam para fazer os clientes tropeçarem nas suas lojas e quiosques (situados estrategicamente), que pagarão mais caro para não ter que andar muito ou por estarem com pressa. Paga-se pela conveniência.
Outro truque exposto por Harford é o que as grandes redes usam para tirar mais dinheiro de quem pode pagar mais. Como elas não tem como cobrar mais de um cliente que elas sabem ser mais rico sem provocar chiadeira, elas cobram mais por um diferencial. Assim, se encontrarmos de novo aquela chata no caixa, levando meia hora para fazer o pedido, exigindo um “carioca, com chantilly, descafeinado , grãos etíopes e açúcar mascavo”, console-se sabendo que a mala pagará a mais por isso. Porque essas bobagens todas a mais no café nada pesam para as grandes corporações “cafeteiras”. São apenas o meio de pinçar no meio da multidão os perdulários que não se importam em pagar a mais pelo café.
Aliás, o Starbucks aqui no Brasil está cobrando o preço de grife, como tudo que é pretensamente chique. Lá fora é banal tomar um café deles, toma-se no trem. Aqui, cobra-se uma fábula por aquele copão tamanho refrigerante que não agüentamos tomar inteiro.
(Outro parênteses. Reportagem da revista Carta Capital noticiou a venda numa cafeteria paulista de uma xícara de café de 20 reais. É o Kopi Luwak, feito com grãos que atravessam o aparelho digestivo do animal chamado civeta, uma espécie de gato indonésio. A iguaria foi maldosamente apelidado de “cafezes”).
Nada é o que parece ser. Se nosso hambúrguer e nosso café é mero pagamento de aluguel, há muitas outras coisas na vida que cobram o preço escondido. Certos livros, por exemplo. A série Pai Rico, Pai Pobre poderia ter suas lições mais valiosas resumidas num caderno de jornal de doze páginas. Mas aí os autores não iam ficar ricos. Razão pela qual eles estão nos vendendo apenas papel. Só papel, como o higiênico ou sulfite. Impresso, vá lá, numa série com dezenas (?) de títulos. Caso de outro livros detestáveis, como aquele tomo para concursos do William Douglas, ou o queridinho da vez, O Segredo.
Vou passar um café aqui em casa. Aluguel eu já pago ao meu senhorio. Servidos?

sexta-feira, julho 13, 2007

Encontro de titãs: Jack Bauer e Agente Bola

Em histórica reunião no aeroporto de Cumbica, Guarulhos, Jack Bauer (o ator Kiefer Sutherland, do seriado 24 horas) juntou forças com meu amigo, o agente Bola. A terra tremeu! Tal conjunção só ocorreu pela última vez quando Bruce Lee fez um filme com Chuck Norris. Chequem só:


Mas nem eles podem com a violência no Rio e com o caos aéreo. Pelo menos, por algumas horas, nossas fronteiras ficaram mais protegidas (e normalmente estão, quando Bola está de plantão).

quarta-feira, julho 11, 2007

London Town

Outra vez em Londres. Outra troca de guarda.
Sigo para o Palácio de Buckingham, lar das estrebarias reais (Royal Meadows) e da própria família real. Era recente, uma brasileira havia sido agarrada por um dos príncipes.
Não publicarei a única foto frontal que tenho do castelo por dois motivos. Não há novidade nela, e os leitores podem ver os cartões-postais disponíveis. E eu apareço nela. Vocês já perceberam que sou avesso à publicidade, quase um escritor recluso...
Aqui, uma policial à cavalo e a multidão de súditos da rainha:

Sem paciência de ver a cerimônia até o fim, saí andando até o Hyde Park. Perto das homenagens aos soldados mortos na Segunda Guerra a guarda que se retirava passou em marcha por um arco (do Triunfo?). Fiquei de lado, "maginando", como aquele matuto no canto esquerdo do quadro do Pedro Américo sobre o grito do Ipiranga:

O quadro, só para que vocês entendam do que estou falando:

Andei até o bairro de Kensigton. Tomei chá e entrei na Harrod´s, a super-loja. Não comprei nada lá, tudo caro.

Muitos museus interessantes por ali, tudo na faixa. Visitei o Victoria & Albert Museum, onde havia réplicas de quadros e monumentos, e muitos itens de decoração. Uma coluna de Trajano:

E um casal de bichos:

Entrei também no museu de História Natural. Muitos dinossauros. Filmei um T-Rex robô bem convincente (quando der eu coloco o filme).


Terminei o dia rondando o Royal Albert Hall, a famosa sala de concertos. Quem sabe um dia eu volte lá e assista algo bom...


Noutro dia, o castelo Warwick e Stratford-U-Avon

terça-feira, julho 10, 2007

Ah, ser um gordo

Se gordo eu fosse, que coisa boa. Seria chamado de gordinho simpático ou por algum apelido terminado em ão. Gutão. Luizão. Abusaria dos doces e tomaria broncas dos doutores pelo colesterol alto, triglicérides descontroladas, gorduras trans e tudo o mais.
Teria homéricos ataques de gota e reclamaria do ácido úrico. Mancaria até a geladeira, para me consolar. Tomaria pisões dos meus sobrinhos no pé doente, que cairiam na risada, fugindo do paquiderme. Perseguiria-os com a bengala em riste e bufando.
Fartaria-me de quitutes, acepipes, pastéis, bolos e suspiros. Comeria até sacudir as bochechas flácidas. Escutaria piadas que me fariam ter ataques apopléticos, ocasiões que riria até me fartar, cuspindo farelos e deixando a comida cair na roupa e no babador.
Ocuparia espaço, muito espaço. Quebraria cadeiras, levantando embaraçado e aflito, com o rosto ardendo em fogo. Derrubaria bandejas com os cotovelos e me viraria bruscamente, nocauteando os franzinos com minha constituição vigorosa, que as moças diriam ser a “de um boi”, e sacudiria a pança, batendo com as mãos em concha e dizendo ser a barriguinha da “prosperidade”.
Sentaria como o Buda e meditaria, planejando o que jantaria na hora do almoço e o que almoçaria no café da manhã, que seria o desjejum dos campeões, uma desforra. Faria pratos do tamanho do Pão de Açúcar. Os donos de quilos teriam minhas fotos, a fim de proibir minha entrada. Castigaria balanças, que trincariam, chiariam e resfolegariam a fim de me agüentar, suas engrenagens forçadas ao limite.
Faria marmitas, embrulharia restos e carregaria quentinhas a toda parte.
E comeria tortas, compotas, geléias, gelatinas, quebra-queixos, brigadeiros, pães e polentas, tomaria sorvetes que escorrem pelos braços e manjaria néctares que grudariam nas mãos. Arrancaria com os dedos as coxas de aves assadas e deixaria as digitais gordurosas como pistas de minha passagem.
Só teria amigos pesados. E um chamaria ao outro de gordo ou gooordo, como no interiooor. Lutaríamos sumô e daríamos cascudos nos magrelos.
Faria esteira de moletom, colocaria adoçante no café e tomaria Coca Diet, pois só gordo faz essas coisas ruins. Iria me internar num spa, mas contrabandeando uísque e bolachas para os outros detentos. Seria popular, o homem que arranja as coisas na prisão. Ouviria falar sobre dietas e sobre redução do estômago, e afastaria essas sugestões com deboche: estou apenas forte.
Discutiria com bilheteiros e aeromoças. Não vou pagar outra passagem. Se me fizessem pagar, ocuparia três lugares.
Faria pedidos milagrosos de lanches, sanduíches tão portentosos e recheados que as moças diriam benzadeus e cairiam de amores.
Dormiria muito, para engordar mais, até o colchão ter o meu formato. Pediria serviço de quarto e assistiria televisão até decorar a programação.
Deitaria na praia e deixaria as crianças fazerem castelos de areia em cima. Depois entraria no mar e boiaria. Ao me cansar, rolaria nas ondas e chafurdaria na lama, como um nativo das Ilhas Cook, divertindo a todos. Alguém me chamaria de baleia e eu fingiria estar bravo, só para não perder a moral. Arremessaria lama no cocuruto do folgado, que ficaria bem quieto, por ser um frango.
Se eu fosse à piscina anunciaria o show do leão-marinho e daria um mergulho de acabar com a água, molhando o jornal dos senhores e estragando o penteado das senhoras.
Mas isso não acontece, porque sou magro. Que pena...

segunda-feira, julho 09, 2007

Inglaterra - O castelo de Windsor e Oxford

Num modesto desafio de logística, consegui visitar o castelo de Windsor e a universitária Oxford no mesmo dia, ajudado por trens que iam na mesma direção.
O castelo é uma espécie de casa de campo da realeza britânica. A rainha passa alguns fins de semana por lá. Eis uma de suas torres, em bela colina de mato rampante:

A exploração do castelo levou uma manhã. Antes de entrar um grupo de chineses pediu para que eu tirasse uma foto deles. Fiquei muito curioso em saber como é a vida deles lá, mas me contive. Pensei em mostrar que eu estava justamente lendo os Cisnes Selvagens, da Jung Chang, que estava na mochila, mas também deixei para lá.

Mais jóias valiosas e desenhos de artistas estavam expostos numa ala. Um pouco antes das 11 horas começou a troca da guarda, com uma animada banda de músicas militares, e uma multidão por testemunha, espalhada no gramado e nos jardins.

Uma panorâmica do complexo, que me lembrou muito Pisa, na Toscana:

Finda a troca, voltei à estação de trem e toquei rumo à Oxford. Chego lá na hora do almoço, e após comer passo a explorar a cidade.

Há muitos jovens e bicicletas nas ruas, um prenúncio de Amsterdam. Se alguém disser que estudou em Oxford, perguntem em qual escola, são várias. Não se fala Oxford como quem fala Sorbonne, e nem essa hoje quer dizer algo. O Bill Clinton estudou em Oxford. Ah, uma das escolas, creio que de música:

Vou percebendo que viajar é tomar um súbito interesse por arquitetura. É uma das coisas que mais fotografamos, além de pessoas, obras de arte e eventos. Virei um arquiteto amador. A Radcliffe Camera, que hoje é sala de leitura da biblioteca:

Passei por outras faculdades conhecidas, que cobravam até ingresso para entrar. Um uma delas havia uma mesa comprida para os estudantes, como aquela do filme do Harry Potter.

Cidade de clima bom, seria agradável estudar lá. Muita história. Mas, no fim do dia, estava de volta a Londres. Esse dia, e um outro dia no Castelo Warwick e em Stratford-Upon-Avon é o próximo episódio.

terça-feira, julho 03, 2007

Alta-costura para as massas

Estava eu, recém-chegado do trabalho, ainda com as roupas de batalha, pensando em escrever uma crônica, mas paralisado pela preguiça. Toca a campainha. É Nelson Rodrigues, com o cigarro nos lábios, gravatas e suspensórios:
- E aí, tu não vais escrever?
- Nelson, é você? Que honra, a casa está uma bagunça, entre, entre (afasto a pilha de jornais da entrada) ...
Arranjo uma cadeira para Nelson e me sento em outra:
- Nelson, você apareceu em boa hora. Queria escrever, mas não sei sobre o quê.
- Problema besta. Escreve uma história sobre uma viúva infeliz que se mata tomando guaraná com formicida.
- O que é isso, Nelson? Isso seria te plagiar.
- Plagiar a vida? Isso é a realidade. Como ela é.
- Já há tantas histórias sobre isso...
- Que nada, não com a tua visão.
- Tá, pode ser. Mas é um tema meio batido, sem profundidade.
- Imagina! Você tem que ser raso mesmo, escrever rápido, sem pensar muito. Fazer alta-costura para as massas. Bolar uma história por dia, entre o matraquear das máquinas de escrever da redação, com o filho da puta do chefe na tua nuca, pedindo o texto no prazo.
- Não foi você mesmo que disse que toda unanimidade é burra?
- Falei. Você quer escrever para ser lido ou quer guardar a sua voz, como a voz de Deus no Tabacaria do Álvaro de Campos, no fundo do poço? Você prefere ser um gênio incompreendido e morrer louco como o Van Gogh, sem um puto, ou quer ter o sucesso do Dan Brown ou do Stephen King?
- Acho que ser o Dan Brown é mais divertido.
- Claro que é. Até porque gênio você não é. Talvez só incompreendido e louco.
- Poxa, Nelson, essa magoou. Mas estou cansado. Ainda estou de gravata e camisa social, acabei de chegar...
- Crie sua lenda, rapaz. Depois você fala que escrever era a tua tara. Que você não suportava o teu serviço chato e corria de volta, doido para escrever. Que você rascunhava histórias na repartição. Esboçava tramas no trânsito. Criava personagens na cadeira do Teatro Municipal, escutando Mozart. Você já está até bem para a foto do livro, um ar de escritor blasé, de mangas de camisa e gravata torta. Fuma um, toma um uísque, para clarear as idéias.
- Ainda estou sem assunto.
- Pegue uma obsessão sua. Escreva sobre uma garota que te abandonou, uma derrota, uma humilhação. Lembre de quando você corou de vergonha ou de raiva. Espie o mundo pelo buraco da fechadura. Seja moleque, menino, leve, leviano. Dê vazão a uma tara.
Levanto, cheio de moral:
- Não sei quais são minhas obsessões, Nelson. Sei que já tenho um tema, obrigado. Vou falar de uma vez em que espionei pelo buraco da fechadura uma amiga da minha irmã tomando banho, na minha casa, durante a adolescência. Quando ainda existiam fechaduras com buracos grandes. Que gostosa!
Nelson se levanta também. Dá pulinhos, esfrega as mãos:
- É isso, meu jovem. Fala mais. Ela era bonita? Novinha? Virgem?
- Nelson, você vai ter que ler a história mais tarde, como todo mundo. Eu vou escrever outro dia. Aliás, porque eu já escrevi o post de hoje.
- O quê, nossa conversa?
- Que crica, Nelson! Está bom, praticamente um diálogo de Platão.
- E você é o Platão?
- Não sei. Mas você é o Sócrates. E eu te condeno a tomar cicuta.
A visão turva por um segundo. Ao abrir os olhos de novo, Nelson não estava mais lá.

segunda-feira, julho 02, 2007

Inevitável como a Morte

Recebi a conta de luz hoje. R$ 36,51, do qual R$ 9,47 são tributos. Uma carga tributária pessoal de 35,02%, mais de um terço do consumo de energia. Consola-me saber que esse dinheiro está sendo bem aplicado.
O último que sair (do Brasil) apague a luz, por favor.

domingo, julho 01, 2007

O medo de empregar

(Publicado no jornal O ESTADO DE S. PAULO 30.06.07 e reproduzido aqui com autorização do autor)


O MEDO DE EMPREGAR

*Cícero Domingos Penha

Os empreendedores brasileiros vivem hoje mais um grande drama. O medo de gerar emprego. Fator alarmante para um País que possui um índice de desemprego acima de 10%, mais de 30 milhões de trabalhadores na informalidade e um exército acima de 8 milhões de jovens formados sem a chance do primeiro trabalho.

Vários motivos contribuem para esse medo: o preço brutal dos encargos sociais que já ultrapassa a casa de 103%. A enorme burocracia que custa dinheiro, atenção, tempo e raiva. A insegurança relativa ao comportamento excessivamente protetor da lei e da justiça do trabalho. O receio da fiscalização do Ministério do Trabalho que, muitas vezes, autua e julga ao mesmo tempo. A não prevalência do negociado sobre o legislado. A responsabilidade solidária em relação a terceirizados. As ações por danos morais por qualquer deslize seu ou de seus prepostos. O poder do juiz de bloquear sua conta bancária numa ação trabalhista e a quantidade e a complexidade das obrigações legais.

Um empregador, hoje em dia, não importa seu tamanho ou atividade, deve, em matéria trabalhista, obedecer 46 dispositivos constitucionais, 922 artigos da CLT. Mais de 200 leis e decretos-leis de caráter especifico, 79 convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho), mais de 120 portarias ministeriais, mais de 30 NRs (Normas Regulamentadoras) com mais de 2.000 dispositivos sobre segurança e medicina do trabalho. Mais de 60 portarias sobre fiscalização do trabalho, mais de 300 súmulas do TST e as obrigações dos acordos sindicais e inúmeras jurisprudências contraditórias dos nossos tribunais.

Atualmente, no mundo, o Brasil é o numero 1 em ações trabalhistas. Entram na justiça 2 milhões de novos processos por ano. Reclamar é fácil, o ônus da prova está invertido. Panorama assim torna impossível um empreendedor prever seu passivo trabalhista e é desanimador. Um modelo como este só parece viável num país do reino da fantasia onde empregos nascem em árvores

A situação se agrava em relação aos micro e pequenos empregadores, ironicamente os responsáveis pela geração de mais 70% das vagas de trabalho no Brasil. Estes se vêem apavorados com medo de ofertar novos emprego e perder o que já possuem. Qualquer profissional autônomo, liberal ou microempresário, prefere trabalhar sozinho, mantendo seu negócio pequeno e não correr esses riscos. Até as donas de casa têm receio de contratar. No campo, o produtor teme dar emprego e depois ficar sem sua propriedade.

Os riscos de empreender ultrapassaram os limites da razoabilidade. A chamada proteção ao trabalhador hipossuficiente tornou-se um verdadeiro tiro pela culatra: uma minoria, em tese, superprotegida e a maioria desempregada, pessoas com vontade de empreender, mas com medo de contratar. Um País rico em leis trabalhista e pobre em empregos. Um imbróglio legal matando o empreendedorismo que gera novas vagas

Não haverá crescimento econômico sem empreendedores motivados. Por isso, urge-se uma cruzada por reformas que possam levar ao surgimento de um sistema trabalhista moderno, com regras mais simples, menos paternalismo e incentivo a negociação direta. Com dispositivos inteligentes que atendam as diferentes formas de trabalho de uma economia globalizada altamente concorrida onde flexibilidade e administração de custos são palavras de ordem ditadas pelo cliente. Enfim, um modelo que assegure os direitos básicos do trabalhador, mas que também incentive o empreendedorismo, e não que gere pânico em quem emprega.

Para todos os responsáveis por ajudar nessas mudanças, principalmente o Congresso Nacional, a quem compete legislar, fica aqui uma das lições do estadista norte-americano Abraham Lincoln, duas vezes presidente dos Estados Unidos:“Não ajudarás o assalariado se arruinares aquele que lhe paga.”



*Cícero Domingos Penha é Presidente do Conselho
Relações Trabalhistas da Fiemg-Regional Paranaíba e
Diretor de Talentos Humanos do Grupo Algar
E-mail: cícero@algar.com.br