Elogio do fracasso
Que bom é não ser bem-sucedido! Como o João de Sorte da fábula, celebro meu fracasso neste momento tão propício para a derrota. Se eu fosse um vencedor teria que viajar de um lado para outro de avião Brasil afora, nesta hora tão ruim da aviação. Imaginem se eu, advogado, tivesse clientes em Brasília. Teria que enfrentar aeroportos cheios, dormir no chão e torcer para não haver uma catástrofe.
Longa vida a nossas sábias autoridades, que já sabem de pequenos que avião no chão não cai. Em antecipação elas determinaram até a proibição da venda de passagens, pensando em nossa segurança.
É melhor mesmo que ninguém me procure, que eu permaneça um rábula obscuro e sem clientes para o resto da vida, um porta de cadeia, ou um “caça-ambulâncias” (tradução livre do termo usado pelos gringos, “ambulance-chaser”). Procurar ambulâncias é tudo que nos sobra mesmo, incluindo aí camburões, rabecões, viaturas da defesa civil e caminhões dos bombeiros, nos socorrendo de nossos chabus, de nossas explosões espetaculares.
Sigo as sirenes e encontro os potenciais clientes. Mães arrasadas, filhos inconsoláveis, corpos estendidos no solo. Uma bala perdida, um motorista bêbado, um Airbus desgovernado, quase tudo basta.
Seria péssimo ser eficiente e tornar-me um executivo requisitado ou empresário de sucesso. Teria que contratar e demitir gente, pensar em carga tributária, risco-Brasil, enfrentar a Justiça e os sindicatos. Eu seria chamado para fóruns, simpósios e palestras do Bernardinho ou do Parreira, para aprender como vencer e ter pensamento positivo. Eu teria que ler “O Monge e o Executivo”, ou “O Segredo”. Há metafísica bastante para pensar em nada, dizia Alberto Caeiro/Fernando Pessoa. Melhor ficar quieto, vendo Big Brother e lendo Harry Potter.
A mesma coisa serve para o Brasil. Melhor que a economia não cresça mesmo, como nos últimos trinta anos. Imigrantes iriam querer vir para cá. Já bastam esses refugiados cubanos, que insistem em largar o paraíso comunista, onde criança alguma dorme ao relento. Italianos, espanhóis, portugueses e japoneses disputando nosso espaço. Imaginem só. Como iríamos alimentar todos? Pensar que isso já aconteceu, que passado terrível...
Se nosso país fosse um sucesso viraria notícia mais do que já é, com nossos desastres e massacres. Políticos honestos, lideranças sérias, educação de qualidade, serviços públicos de primeira. Ninguém entenderia nada. Deixa para lá. A bagunça é nossa, os mortos são nossos, nesse caos a gente se entende.
País muito rico só atrai inveja. Ele passa a sofrer com terremotos, tsunamis e outras hecatombes. Fica muito ganancioso e invade outros países para roubar seus recursos naturais. Participa de missões da ONU e forças-tarefa multilaterais, irrita os xiitas e passa a sofrer ataques terroristas.
Não, é melhor ficarmos aqui, esquecidos, matando-nos uns aos outros na santa paz. Em escala suficiente para baixar a população em 50.000 almas ao ano por homicídios e outras 25.000 anuais por acidentes de trânsito, mas não a ponto de fazer com que os marines nos impeçam de continuar com o genocídio de brasileiros. Não, não temos armas de destruição em massa aqui, pode ficar calmo, Tio Sam. Não precisa se preocupar conosco.
Fica combinado assim, então. Eu não faço sucesso, e vocês, meus conterrâneos, continuam na m...esma, também. Essas disputas por dinheiro e poder são inúteis, tudo é vaidade e aflição de espírito. Uma coisa poderemos ganhar um dia, sem esquentar muito a cabeça. Seremos um dia o maior país mal-sucedido do mundo. Quem viver verá.
Como o João de Sorte da fábula, nós um dia trocamos nosso ouro por uma grande pedra de amolar sem valor. E quando a pedra caiu no poço, ficamos aliviados por não ter que carregar mais nada. Que benção!
Longa vida a nossas sábias autoridades, que já sabem de pequenos que avião no chão não cai. Em antecipação elas determinaram até a proibição da venda de passagens, pensando em nossa segurança.
É melhor mesmo que ninguém me procure, que eu permaneça um rábula obscuro e sem clientes para o resto da vida, um porta de cadeia, ou um “caça-ambulâncias” (tradução livre do termo usado pelos gringos, “ambulance-chaser”). Procurar ambulâncias é tudo que nos sobra mesmo, incluindo aí camburões, rabecões, viaturas da defesa civil e caminhões dos bombeiros, nos socorrendo de nossos chabus, de nossas explosões espetaculares.
Sigo as sirenes e encontro os potenciais clientes. Mães arrasadas, filhos inconsoláveis, corpos estendidos no solo. Uma bala perdida, um motorista bêbado, um Airbus desgovernado, quase tudo basta.
Seria péssimo ser eficiente e tornar-me um executivo requisitado ou empresário de sucesso. Teria que contratar e demitir gente, pensar em carga tributária, risco-Brasil, enfrentar a Justiça e os sindicatos. Eu seria chamado para fóruns, simpósios e palestras do Bernardinho ou do Parreira, para aprender como vencer e ter pensamento positivo. Eu teria que ler “O Monge e o Executivo”, ou “O Segredo”. Há metafísica bastante para pensar em nada, dizia Alberto Caeiro/Fernando Pessoa. Melhor ficar quieto, vendo Big Brother e lendo Harry Potter.
A mesma coisa serve para o Brasil. Melhor que a economia não cresça mesmo, como nos últimos trinta anos. Imigrantes iriam querer vir para cá. Já bastam esses refugiados cubanos, que insistem em largar o paraíso comunista, onde criança alguma dorme ao relento. Italianos, espanhóis, portugueses e japoneses disputando nosso espaço. Imaginem só. Como iríamos alimentar todos? Pensar que isso já aconteceu, que passado terrível...
Se nosso país fosse um sucesso viraria notícia mais do que já é, com nossos desastres e massacres. Políticos honestos, lideranças sérias, educação de qualidade, serviços públicos de primeira. Ninguém entenderia nada. Deixa para lá. A bagunça é nossa, os mortos são nossos, nesse caos a gente se entende.
País muito rico só atrai inveja. Ele passa a sofrer com terremotos, tsunamis e outras hecatombes. Fica muito ganancioso e invade outros países para roubar seus recursos naturais. Participa de missões da ONU e forças-tarefa multilaterais, irrita os xiitas e passa a sofrer ataques terroristas.
Não, é melhor ficarmos aqui, esquecidos, matando-nos uns aos outros na santa paz. Em escala suficiente para baixar a população em 50.000 almas ao ano por homicídios e outras 25.000 anuais por acidentes de trânsito, mas não a ponto de fazer com que os marines nos impeçam de continuar com o genocídio de brasileiros. Não, não temos armas de destruição em massa aqui, pode ficar calmo, Tio Sam. Não precisa se preocupar conosco.
Fica combinado assim, então. Eu não faço sucesso, e vocês, meus conterrâneos, continuam na m...esma, também. Essas disputas por dinheiro e poder são inúteis, tudo é vaidade e aflição de espírito. Uma coisa poderemos ganhar um dia, sem esquentar muito a cabeça. Seremos um dia o maior país mal-sucedido do mundo. Quem viver verá.
Como o João de Sorte da fábula, nós um dia trocamos nosso ouro por uma grande pedra de amolar sem valor. E quando a pedra caiu no poço, ficamos aliviados por não ter que carregar mais nada. Que benção!
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