Lei Seca

Um espaço para discutir as grandes questões. Editor-chefe: Luiz Augusto

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Advogado, vive em São Paulo

sexta-feira, outubro 26, 2007

O crime do padre Júlio

Pelo que se lê em toda parte, parece que a grande ameaça aos católicos são os próprios sacerdotes. Ao menos nos EUA. Indenizações milionárias são pagas a quem foi seviciado e abusado na infância por padres. Algumas dioceses cogitaram pedir falência para escapar da conta.
Ecos desse escândalo demoraram a chegar no Brasil. Dizer que aqui não há padres que gostam de criancinhas é como o Presidente do Irã ter declarado que naquele país não existem homossexuais. Sim, infelizmente, nós temos esse tipo de clérigo.
Se as denúncias se confirmarem, o nosso caso mais notório será o do “padre de passeata” Júlio Lancelotti. Esse religioso, extorquido por um bandido durante três anos, entregou a este R$ 80 mil. A ameaça era não ver exposto um caso de abuso de um adolescente. E o dinheiro pode ter sido tirado da ONG que o padre comanda, que recebe mais de meio milhão de reais da Prefeitura de São Paulo. Escândalo suculento, envolvendo verbas públicas e sexo com menores.
Muitos provérbios populares me vêm à cabeça com esse affair Lancelotti:

- Onde há fumaça há fogo
- Casa de ferreiro, espeto de pau
- Quem não deve não teme
- Diga-me com quem andas e te direi quem és
- Quem com ferro fere com ferro será ferido

Teria sido melhor que Lancelotti tivesse lido outros Provérbios, os da Bíblia, do livro de mesmo nome: “Meu filho, se os pecadores te atraírem com teus afagos, não condescendas com eles (capítulo 1, versículo 10)”. Ou o versículo 1 do capítulo 6, perfeito para quem aceita dar garantias de crédito a bandidos que compram carros de luxo: “Meu filho, se ficares por fiador do teu amigo, deste por ele a tua mão a um estranho; com as palavras da tua boca te meteste no laço, e ficaste preso pela tua própria linguagem”.
Lógico, não se está falando que o padre Júlio é culpado. Ele é inocente até que se prove o contrário. Acho que o assunto é outro. A mãe da questão é a castração que a Igreja Católica Apostólica Romana impõe aos seus integrantes. O celibato clerical.
Alexandre Herculano, grandeescritor português, já se ocupava da questão no século XIX, em citação clássica (até manjada):

“Eu, por minha parte, fraco argumentador, só tenho pensado no celibato à luz do sentimento e sob a influência da impressão singular que desde verdes anos fez em mim a idéia da irremediável solidão da alma a que a igreja condenou os seus ministros, espécie de amputação espiritual, em que para o sacerdote morre a esperança de completar a sua existência na terra (Euríco, o Presbítero)”.

A Igreja sustenta uma posição anacrônica, e cara. Não entendo esse repúdio ao sexo, coisa tão natural quanto dormir ou respirar. Não há vida sem ele, exceto as unicelulares. E se impõe que padres, freiras e monges vivam como se não tivessem uma parte de seus corpos, sem poder unir suas vidas às de outras pessoas.Ora, a vida sempre encontra um jeito. Os abusos nascem porque a Igreja condena um padre a viver como um eunuco, sem que possa casar e constituir família. Daí os ataques aos jovens de seu rebanho. Daí os abusos. Daí as indenizações milionárias e os escândalos.

quinta-feira, outubro 25, 2007

A sobrevivência do mais fraco

Os não-iniciados pensam que a evolução, tal proposta por Charles Darwin, é algo linear. O mais forte vai superando seus rivais e ficando cada vez mais poderoso e evoluído. Creio que o aperfeiçoamento pode se dar em recuos e avanços, e que a fraqueza por vezes pode ser força. Uma mutação favorável pode surgir de uma condição adversa, e que leve uma espécie a achar um outro nicho e forma de viver. Muito tempo depois, aquela opção pode se mostrar mais benéfica.
Num anti-argumento de autoridade, digo que não pesquisei outro estudo a fim de embasar minhas afirmações. Não sou paleontólogo ou biólogo, apenas palpiteiro.
Pelo que temos de estudos evolutivos até agora, o homem veio mesmo dos primatas, para a fúria dos criacionistas, que acreditam em Adão e Eva e que o planeta Terra surgiu há seis mil anos atrás, apenas com base na Bíblia. Partindo dessa premissa, que o homem é um macaco que hoje assiste TV, vou recontar brevemente o que aconteceu, até chegarmos ao homo sapiens.
Algumas espécies de primatas, como gorilas e macacos, habitam até hoje o topo das árvores. Isso era assim há milhares de anos atrás, na África. Alimentavam-se do que encontravam nas copas folhadas. Mudanças no clima desfolharam as árvores e mataram muitas delas. A área de floresta foi reduzida. Não haveria mais espaço para todos os bichos nos galhos. Alguém teria que ceder, ou melhor, descer.
Os macacos mais fortes ganharam a disputa. Mantiveram seu nicho, e poderiam continuar a se alimentar das folhas e frutos das árvores. Eles ganharam e estão aí até hoje, balançando de galho em galho e fazendo macacadas.
Os macacos mais fracos, os que desceram, se viram num ambiente diferente e hostil. Não havia alimento fácil na savana. Nada mais de sombra sob as árvores. Bichos maiores e mais rápidos, como leões e panteras, matavam os recém-chegados sem dificuldade. Só lhes restou correr para as cavernas.
Resumirei sua evolução restante em poucas linhas, em fatos ocorridos não necessariamente nessa ordem. Perderam pêlos. Passaram a andar em duas patas. Seu cérebro aumentou. Começaram a pensar e a se comunicar. Apanharam pedras e paus do solo, utilizando-os como instrumento. Dominaram o fogo. Com instrumentos ainda melhores, podiam caçar bichos maiores que eles. Domesticaram outros animais. Aprenderam a plantar e a colher. Espalharam-se pelo planeta. É o homem. Acredita ser a espécie dominante.
De um macaco fraco e escorraçado das árvores, viramos uma espécie que gerou Bach e lança satélites no espaço sideral. Escrevemos poesia e formulamos pensamentos abstratos. Os chimpanzés que ficaram nas árvores tem sua sobrevivência e seu habitat ameaçado justamente por nós, mais fortes que eles. Temos rifles para matá-los e escavadeiras para destruir suas casas.
Mas a crença de que somos a espécie dominante e mais importante da natureza nos cega. A crença das religiões de que somos mais que carne, que há um Céu, que voltaremos em outro corpo, é puro antropocentrismo e wishfull thinking (queremos que assim seja). E nos indulge para nossas malfeitorias. Nos torna divinos sem sermos. Provavelmente não há outra vida e estamos destruindo nossa única casa, com nosso estilo de viver suicida.
Há espécies que jamais abandonaram seus nichos, como os gorilas das árvores. As amebas estão da mesma forma desde as origens da vida. Os peixes nadam nos mares. As aves voam no céu. Assim como as bactérias, microscópicas e letais para nós. Elas só vão se tornando mais resistentes a antibióticos, ameaçando nossa existência no planeta.
Há outro bicho que há milhões de anos tem a mesma forma, está satisfeito em viver na sujeira, e que sobrevive com muito pouco. É a barata. As cucarachas sobreviverão às nossas bombas atômicas e à falta de sol de um inverno nuclear. Caminharão nos escombros de nossas cidades mortas. Rastejarão sobre nossas partituras e teses de doutorado, e a nossa cantada inteligência superior.
Uma lição nos seria útil, e nos levaria a uma outra relação com o planeta e os seres vivos. Fraqueza pode ser força. Ao dar uma chinelada num inseto, recordemos que não somos a espécie dominante. Isso nos faria descer de nossos galhos elevados.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Sua opinião é muito importante para nós...e para sempre

Tempos atrás, aluguei um filme numa locadora situada na Avenida Paulista. Quando precisei devolver o filme, por falta de vaga, atravessei o carro na calçada e corri até a loja, esbaforido, com medo que um marronzinho colocasse um doloroso adicional ao preço da locação. No balcão, uma mocinha de azul me olhou com má-vontade enquanto eu fazia minha entrada triunfal. Larguei o filme em suas mãos, me desculpando pela pressa. Enquanto saía pela mesma porta, ouvi ela reclamando que eu devia sair pela porta de saída, do outro lado. Dei de ombros e repeti que estava apressado. Peguei o carro, não havia multa. Mas achei absurdo a atitude dela. Que diferença fazia que porta alguém entra ou sai?
Continuei freguês deles, sem nenhuma lembrança do incidente. Aí, mais recentemente, peguei um DVD riscado na mesma loja. Reclamei ao devolver, não pude ver o final do filme. Dois dias depois, pedi a uma funcionária, outra, que olhasse para mim o resultado da reclamação. Ela digitou meu nome completo e acessou meu cadastro. Para minha surpresa, havia uma espécie de prontuário. Inverto a ordem. A segunda entrada dizia: “Cliente reclamou de risco no DVD. Produto checado. Não foi constatado erro”. Isso só indicava que não veria o final de um filme alugado. Tudo bem.
A primeira entrada era mais pesada: “Cliente quis sair pela porta de entrada”.
Que invasão de privacidade! Então o incidente só estava esquecido para mim? E ficará para sempre nos anais da locadora. Mesmo que todos os que envolvidos naquele fatídico dia de minha pressa não trabalhem mais lá, não sejam mais clientes, ou morram. Mesmo que o aquecimento global, daqui a milhares de anos, engula São Paulo sob as águas do Atlântico (que exagero...). Mesmo que o português se junte ao latim como língua morta, e ninguém entenda o que aquela frase quer dizer. Para todo e sempre constará nos computadores da locadora: “Cliente quis sair pela porta de entrada”.
Para ficar numa imagem de filme já imaginei o capitão Nascimento, do Tropa de Elite, dizendo para mim, furioso: “Pede para sair, 01. Pede para sair pela entrada”.
Todo esse tempo eu era uma piada ambulante. Cada vez que eu peguei um filme lá, às minhas costas, os funcionários diziam: “Ah, é aquele cara que quis sair pela entrada”. Ou, com raiva: “Esse folgado quis sair pela outra porta”. Talvez algo do gênero: “Ele é o Bizarro, da Liga do Mal. Ele faz tudo ao contrário. Ele entra pela saída e sai pela entrada”.
Formulei uma reclamação, a terceira. Quero que não conste que fiz a primeira reclamação. Se preciso, entrarei com um habeas data para isso, ou outra medida judicial cabível.
Mas seria isso universal? Em toda loja constará um cadastro desses (nove foras o nome no SPC e no SERASA)? Por exemplo, no restaurante há algo no meu nome do gênero: “Pediu carne no ponto e reclamou que estava cru”, de 1999. Ou na loja de sapatos há um “provou modelo por meia hora, achou apertado e não comprou”, fato ocorrido em 2002. No cabelereiro há um “O moço queria deixar as madeixas compridas. Cortei curto de sacanagem”, datado de 1991.
Um dia de mau humor e estacionamento irregular nos custa um registro perpétuo num banco de dados.
Tudo isso é muito estranho. Lembra aquele conto do Borges. Em algum canto da eternidade há um gigantesco quadro-negro para cada pessoa. Ele contém cada palavra do dicionário, e uma contagem. Lá está o número de vezes em que alguém comerá kiwi ou terá relação com essa fruta. A vida avança, e as palavras vão sendo riscadas do quadro. Quando a palavra coração é riscada pela última vez, é seu fim. É a última batida.
Em algum lugar, num computador velho, para toda a eternidade, constará sobre mim: “Cliente quis sair pela porta de entrada”. Essa não será riscada nunca do quadro-negro da minha vida.
Talvez isto conste da minha lápide, é um bom lema: “Eu saí pela porta de entrada”. Sem trocadilho infame.

terça-feira, outubro 23, 2007

O super-vilão de nossos tempos

As crianças de hoje não vão lembrar. Em minha infância existiam outros super-vilões. Super-Homem, Batman, e os Superamigos enfrentavam heróis de sinal trocado, poderosos como eles. Lex Luthor, Brainiac e Bizarro, a Legião do Mal. O Shazam lutava contra o esquerdista, desculpe, sinistro Doutor Silvana, com seu jaleco branco e óculos fundo de garrafa (ele era ruim, mas não tinha idéias marxistas). Os Smurfs se viam às voltas com as maquinações do bruxo Gargamel, doido para colocar os duendes azuis no caldeirão.
Esses vilões da ficção geralmente eram gênios superdotados, tinham planos mirabolantes, mas que sempre davam com os burros n´água. Alguns se contentavam em amarrar donzelas indefesas em trilhos de trem. Outros queriam dominar o mundo. Detalhe é que o bem sempre vencia.
Os tempos mudaram. Convivemos hoje com um super-vilão real, Osama bin Laden, ou Usama, como os gringos o chamam, ou UBL (eles adoram siglas).
Ele tem todas as características de um malvadão de gibi. É milionário, não precisa trabalhar, tem todo o tempo do mundo para planejar suas ações e vinganças malignas, além de meios para financiar seus capangas, armas, tecnologia sofisticada e fugas. Vive escondido em alguma fortaleza ou caverna inexpugnável que os “heróis”, a nossa polícia do mundo norte-americana (marines, CIA, FBI, etc.) poderiam até saber onde é, mas preferem não procurar.
Osama tem até uniforme, que consiste em traje do deserto completo e rifle. Não sei como ainda não vendem bonecos com sua efígie nas melhores casas do ramo. Ele aparece de vez em quando na TV, como um “poltergeist”, apenas para assombrar todo mundo e dizer que não morreu. Às vezes com a barba pintada. Mas sempre pregando a morte da América e saudando Alá, meu bom Alá.
O que move Osama? Ele poderia ser apenas mais um príncipe saudita extravagante e milionário, com sua Mercedes possante, acendendo charutos com notas de cem dólares. Mas largou tudo e se enfiou no deserto afegão, a fim de lutar contra os invasores soviéticos. Isso não é vilanesco/heróico? É coisa de desenho animado ou história em quadrinhos. Ele viu demais Guerra nas Estrelas quando menor.
Osama tem seguidores fiéis ao redor do mundo, e sua própria Liga da Justiça às avessas, a rede Al-Qaeda, formada de outros grandes e pequenos vilões, com suas próprias bases de treinamento e até uma guerra particular, no Iraque, onde treinam suas malfeitorias explodindo inocentes e soldados inimigos, e às vezes também se explodem, tudo em nome das virgens do paraíso.
Mais eficiente que seus colegas de ficção, o super-vilão bin Laden, o maior psicopata de todos os tempos, já foi bem sucedido em alguns planos. Sem falar do que ocorre no já mencionado fiasco bushista iraquiano, OBL ou UBL, há alguns anos, ordenou a um bando de capangas que se treinasse em simuladores de vôo, seqüestrasse quatro aviões de carreira e os lançasse em alvos pré-escolhidos em solo americano.
(Um parêntese. Diz a lenda que Osama recusou a sugestão de jogar uma das aeronaves numa usina nuclear, o que poderia ter transformado a Costa Leste americana num inútil deserto radiativo pelos próximos milênios. Até ele teria achado isso extremo).
O resultado do seu plano? Um avião caiu na Pensilvânia sem atingir seu objetivo, mas matou todos a bordo. Um outro atingiu o Pentágono. E outros dois derrubaram as Torres Gêmeas em Manhattan, nos maiores ataques terroristas da História. Todos nos aviões e muita gente nos alvos morreu. A data identifica a ação, 11 de Setembro.
Hoje, sempre que algum plano malvado e mirabolante é revelado, lá está o dedo onipresente de Osama. O homem do sapato-bomba. A tentativa de usar explosivos líquidos em aviões, e que vetou nossas perigosas garrafas de água nos embarques. A imaginação fértil de bin Laden parece não ter limites, o homem é pior que o Doutor Silvana. Lex Luthor é ficha perto dele.
Alguns tempo se passou. O Afeganistão foi invadido. A guerra do Iraque prossegue matando gente dia sim e o outro também, nos campos de batalha e em bombas do terror, como as que explodiram em Madri e Londres. O Ocidente teme que a Al-Qaeda (podem chamar também de Legião do Mal) consiga armas nucleares. O risco de um dia New York ser obliterada do mapa é real. E bin Laden ainda está foragido. Ocupa o posto número 1 da lista dos Dez Mais do FBI. O xerife Bush oferece grande recompensa por sua captura.
Super-Homem, onde está você?

segunda-feira, outubro 22, 2007

Presidentes e o nosso céu azul

Uma atendente de tele-marketing certa vez ligou para meu pai. Gerúndio por conta e risco dela:

- O senhor teria interesse em estar assinando a Veja novamente?
- Não, a revista só fala do Renan Calheiros. Há outros assuntos. Cansei...

Por que este senhor, típico representante da classe média brasileira, está indignado com a pobre da revista Veja, que apenas expôs as malfeitorias daquele ainda senador, em sua missão institucional? Por sentir que as maquinações de Brasília, muito distantes de sua vida em Santos, não lhe interessam.
Parece não fazer diferença para nós quem dentre Renan, Sarney, Tião, Lula, Arlindo, ou quaisquer desses senhores irá ocupar presidências Brasil afora.
Lembro de um filme, Céu Azul. Um oficial e cientista da Aeronáutica americana (Tommy Lee Jones) muda com sua família para o deserto, no meio do nada. Ele é um dos responsáveis pelos testes das bombas nucleares americanas. O nome do projeto é, justamente, Céu Azul, pois queria se provar que apesar das armas poderem causar grande destruição o firmamento continuaria da mesma cor, a vida seguiria.
Mas embaixo de seus lençóis, em sua própria casa, Tommy viveria uma revolução de maior impacto e radiação. Sua mulher (Jéssica Lange) mantinha um tórrido affair com um colega de farda de seu marido, e seu oficial superior.
O personagem de Tommy, que em seu trabalho testemunhava o nascimento dos artefatos que iriam modificar a forma dos homens fazerem guerra, sofreria mais em seu cotidiano com a dor de corno causada por sua mulher insatisfeita do que com as bombas de hidrogênio. O chifre é mais poderoso que a espada, ou, no caso, a bomba H.
O sentimento é esse. Mudam os donos do poder. E nos permanecemos. O céu continua azul. Renan caiu. E daí? Acho que só ele e a mulher sentiram diferença, já que tiveram que sair da casa oficial de Presidente do Senado.
Eu poderia lamentar algo na linha: “Nossa! O homem comum está distante da política. Cai o rei de ouros, cai o rei de copas, não fica nada (plagiando a canção) e ele prossegue com sua vida, alheio, desinteressado”. Sim, eu poderia ainda plagiar Bertolt Brecht e dizer algo na linha do “o pior analfabeto é o analfabeto político”, blá, blá, blá...
Mas, querem saber? Isso tudo é ótimo. Já imaginaram se estivéssemos na época em que a queda de um rei impactava as vidas dos súditos? Se arautos a cavalo estivessem vindo nesse momento cortar nossas cabeças e tomar nossas casas? Alguém gostaria de guilhotinas e forcas na praça, e uma multidão irada aos berros?
Se o presidente do Senado cai, outra eleição é feita. Se o presidente da República sofre impeachment, o vice assume. Assim é que deve ser, chato e previsível, sem alterar nossas vidas. E amanhã tem praia e céu azul.
Disse Diogo Mainardi, na orelha de seu volume de crônicas Lula é minha anta: “Acho que os brasileiros, por falta de experiência democrática, atribuem uma importância exagerada ao presidente da República. Um presidente é só um burocrata medíocre que a gente contrata por quatro anos para desempenhar uma tarefa que nenhuma pessoa minimamente sensata estaria disposta a desempenhar. Ele não é nosso chefe: nós é que somos chefes dele."
Acho que é por aí. O ideal será que um dia todas essas presidências e motivos de vaidade e aflição de espírito um dia serem um emprego chato e que ninguém queira fazer. Como no conto de ficção científica Plantão, do americano Philip K. Dick, em que um super-computador é o presidente dos EUA, e o seu substituto humano eventual (em hipótese sequer cogitada) é um sindicalista mal-pago e motivo de piada, apontado para o cargo.
Bom, no nosso caso já temos o nosso sindicalista (bem-pago) na Presidência do Brasil. Só nos falta uma boa dose de espírito cívico e de cobrança para transformarmos o seu emprego agradável, com férias em bases da Marinha no litoral e viagens ilimitadas ao estrangeiro num tormento que ninguém queira. Vamos tentar?

Reaças, nós?

Enquete do Aliás (caderno do Estadão) de ontem deu o resultado: 91% dos brasileiros pesquisados acreditam que deve haver a castração química de pedófilos, contra 9% dos que não.
Meus corolários:

1-) 102% dos pesquisados não sabem o que é castração química;
2-) 103% dos pesquisados confundem pedófilo com podólogo;
3-) É de 104% a chance de que o padre Lancelotti venha a sofrer a "capação" química. E cadeia para esse perigoso podólogo!
4-) 105% dos pesquisados ficarão extremamente ofendidos se chamados de reacionários ou "reaças";
5-) 106% dos brasileiros acham que algo pode ser maior que 100%.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Para não dizer que não postei as flores...

Pessoal, calma, não morri nem fui abduzido por aliens. Andei ocupado com a vida real. Aliás, estou em férias e espero postar algumas crônicas em breve.
Achei melhor postar algo, qualquer coisa, antes que vocês me abandonassem de vez, e o blogger cancelasse minha conta.
Se tenho algo legal a dizer? Ah? Hmmm... Claro, segunda-feira fui no Municipal ver o grande pianista brasileiro, Nelson Freire. Genial!!!
Na semana anterior conheci a Sala São Paulo, lugar lindo e de ótima acústica.
Andei me ocupando bem, não?
Aguardem o meu retorno definitivo e a minha vingança "maligrina"...
P.S - Fui citado no blog do Reinaldo Azevedo. Não eu, mas sim meu alter-ego real, o Clark Kent (o Luiz Augusto é meu nome fantasia, tipo Capitão Nascimento).

quinta-feira, outubro 11, 2007

Brincadeira com livros

Recebi uma corrente interessante de meu amigo, o advogado, político e blogueiro Sidney Vida:

"Recebi do meu amigo Evandro Ferreira as regras para uma brincadeira com livros. Então transcrevo aqui a frase que encontrei:
“Os aliados comprometiam-se a não depor as armas senão em comum acordo e depois da derrubada de Solano López, ficando proibida qualquer iniciativa separada de paz por um dos países aliados”
O livro é Maldita Guerra, de Francisco Doratioto. O livro trata sobre os cinco anos da guerra do Paraguai, que opôs paraguaios e brasileiros, uruguaios e argentinos. O livro desmonta mitos antigos sobre o conflito e faz revelações surpreendentes sobre este marco da nossa história. O autor rejeita a interpretação de que o imperialismo inglês seria o responsável pelo desencadear da luta.
É uma nova história da guerra escrita por um ótimo historiador, e o melhor: sem o viés esquerdista.
O livro estava bem na minha frente, acima do meu computador, na estante que guarda a maioria dos meus livros, que fazem parte do meu pequeno, porém, robusto acervo.
Segundo as regras devo transmitir o jogo para outros cinco blogs. Escolho, portanto, o Mauro Haddad, o Diogo Chiuso, o Gutão, o Eduardo Carvalho e o Tiago Villarinho (quem sabe assim você toma coragem e monta logo o seu blog, né). Seguem as regras para quem quiser participar da brincadeira:
1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abra-o na página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs."

De volta
Aliás, estou justamente começando a ler o "Maldita Guerra", parece bom.
Tinha começado a ler também o livro de contos "Nada é o que parece ser", da escritora americana Patricia Highsmith (criadora de Ripley, também um herói sem nenhum caráter). Farei com este livro a brincadeira. Aqui vai a 5º frase da página 161:

"No dia anterior, Nicky levara o carro até a cidade do México com seu amigo, o senhor Sigismundo, na direção, já que ambos tinham negócios no hotel para resolver." (do conto O Carro)
Tanto mistério nessa singela frase, não? Parece algo a ver com negociatas misteriosas, fechadas ao som de mariachis, enquanto margaritas são servidas num hotel pé-quebrado ao sul do Rio Grande, e que provavelmente terminará bem mal.
Já, já, eu indicarei os cinco blogs onde a brincadeira, espero, continue.

terça-feira, outubro 02, 2007

Um passe VIP para o mundo

Quero algo que me dê livre acesso às benesses do mundo, uma espécie de passe VIP para a vida. Em tudo eu seria Very Importante Person (ou People). E isso nada tem a ver com dinheiro.
Se eu entrar num avião haverá espaço para as pernas. Bom, isso parece que o dinheiro resolve.
O passe VIP para o mundo é mais. Falarei de coisas que, como na propaganda, não tem preço.
Num restaurante, independente da presença de mulheres, serei servido primeiro, e não preciso esperar ninguém para começar a comer. Machista e rude, não?
Em caso de incêndio no prédio serei o primeiro a ser resgatado. Categoria à parte e mais cotada que crianças.
Um túnel se abrirá apenas para meu carro, para qualquer lugar que eu for, evitando o trânsito e congestionamentos. É melhor que um helicóptero.
As possibilidades são infinitas.
Dormir à vontade. Terei o colchão que quero, na cama que escolherei.
Haverá festas todo dia. Casamentos, formaturas, batizados, despedidas de solteiro e happy hours, tudo dependendo do meu humor.
Se quero ficar em casa lendo ou vendo um filme, choverá.
Quando eu pisar na rua haverá sol, mas sem muito calor. Uma brisa leve me seguirá em toda a parte.
Crianças birrentas e malcriadas serão mudas de nascença.
Algo leve, como jazz, será a trilha sonora do planeta, com ajuste automático de volume, pacificando os espíritos.
Todos os bandidos e escroques serão enviados a uma lua afastada de Júpiter, longe das nossas vistas e do noticiário.
Colegas de trabalho difíceis darão expediente com outras pessoas, nunca comigo. O mesmo, mutatis mutandis, ocorrerá com bêbados chatos (habitarão bares em outra cidade), e aborrescentes darão seus gritinhos e levarão suas tatuagens e gírias para outro lugar. Quiçá para a Papua Nova Guiné.
Talvez com esse passe livre das delícias eu continue na ilusão de que são só os outros, os redundantes estranhos desconhecidos, que tomam guaraná com veneno, andam de moto sem capacete, recebem tiros ou morrem de alcoolismo ou de amor.
Como um bônus pela fidelidade, a entrada VIP do mundo me daria a opção de evitar filas ou os impostos, ou os dois. Com opções de assento na janelinha do trem ou na primeira fila do show.
Ou na última do cinema, devidamente acompanhado de minha garota. Sem nunca aparecer lanterninha ou sentir cheiro de pipoca com manteiga.
Não haverão gorilas de boate ou moças com a lista de convidados na mão me barrando para qualquer coisa que eu resolva fazer.
Enquanto o passe não vem, sigo ranzinza, espremido no metrô, no trânsito, nesse mundo lotado e caduco.