Lei Seca

Um espaço para discutir as grandes questões. Editor-chefe: Luiz Augusto

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Advogado, vive em São Paulo

quinta-feira, julho 19, 2007

Nós estamos mortos

Nós, brasileiros, morremos também. Estamos defuntos, como aqueles corpos carbonizados no avião. Demos um duplo twist carpado no ar e aterrisamos do outro lado da avenida. Morremos na contramão atrapalhando o tráfego. Apodrecemos e queimamos dentro de nossas carcaças. Já éramos, não mais somos, finados estamos.
Tivemos nosso Onze de Setembro particular. A diferença é que nós arremessamos aquele avião fora da pista. Escolhemos aquele gente no poder, lhes demos força. E eles lotearam as infraerros com barnabés, dividiram as licitações fajutas, autorizaram o funcionamento das rampas de lançamento assassinas.
Nós somos nossa própria Al-Qaeda. Rasgamos nossos próprios pulsos. Regredimos com vontade e velocidade. Voltamos aos tempos anteriores à Santos-Dumont, não podemos mais voar. Vamos aos poucos regredindo aos tempos das capitanias hereditárias. Em pouco tempo estaremos de volta às cavernas. Quiçá pararemos nossa involução no estado de amebas, ou nadaremos mais uma vez no caldo primordial.
São Paulo. Seus habitantes são federações de ilhas distantes. Estrelas em galáxias diferentes. Vivemos nessa cidade pensando apenas no litoral.
Se alguém nos perguntar sobre nosso dia, e sobre nossas novidades, podemos dizer, com ar largado: “Aqui em São Paulo? Ah, um avião escorregou em Congonhas e caiu no meio da rua, bateu num prédio. Vocês viram aquela bola de fogo? Ah, fim de semana tem praia, viu?”.
Nada me deixa mais triste, ao dizer para alguém que sou de Santos, ouvir: “E por que você não mora lá?” Ou “Você vai e volta?” Morar aqui é anti-natural, ninguém acredita que é possível, com nosso ar sujo e nossa selvageria. Eu falo que quero a alta-cultura, meu trabalho está aqui, insisto em passar os fins de semana nestas bandas. Por isso fico.
Mas a toada é de ganhar o máximo de dinheiro possível além-mar (aqui) e voltar para Portugal (o litoral norte, Alphaville, o interior, Campos do Jordão, Atibaia). Não ficamos, não estamos nem aí. Os aviões despencam em nossas ruas e nem parece que foi em nossa cidade, parece coisa de uma reprise esquecida. Foi longe demais, em outro bairro, outro planeta. Apenas causou alguns quilômetros a mais de congestionamento.
Nós estamos mortos.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Guto



É isso ai!!!
A verdade que poucos querem enxergar , ou por incompetencia pelo descaso ou por falta de seriedade em tocar a coisa publica,
Adalberto

19/7/07 09:26  

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