Brincadeira de condomínio fechado
Após um dia estafante em sua firma o Sr. Roberto Dias, típico profissional de meia-idade bem sucedido, chega no seu sedã de luxo aos portões do condomínio fechado em que mora com sua família. Ultrapassa a cancela, a guarita, os homens de preto, e segue por ruas de sonho até sua casa. Vive num comercial de margarina. Ambiente controlado e inexpugnável. O resto do mundo fica lá fora.
Tudo está quieto. Ele apanha os jornais do dia, liga a TV de plasma e desaba na poltrona. Está ali, nem lendo direito, tampouco prestando atenção nos canais, quando chega seu filho, Júnior, nove anos de idade. O menino deita no chão, a seus pés.
- Oi pai!
Roberto mal levanta os olhos das cotações da Bolsa:
- Oi filho, tudo bem?
- Tudo. Eu estava na praça, brincando com o Segundinho, com o Filho e com o Netinho.
- Ah, e do que vocês brincavam (bom momento para fusões, é a manchete)?
- De polícia e ladrão
- Puxa, os garotos ainda brincam disso? E o que cada um era (aumenta volume da TV)?
O Segundinho era o Jaqui Bauer. O Filho era o Decster. E o Netinho era o Sauier.
- Mas quem são esses (vira página do jornal)?
- Ah, são heróis de seriados da TV. Do 24 horas, do Decster, e do Losti. Bem, tinha um outro pessoal brincando com a gente, filhos dos serventes, aqueles que ficam na creche dos funcionários. Eles eram os vilões, mas ninguém conhecido. Nós éramos os principais, e eles tinham um plano para explodir a garage bandi, a gourmê area e o launge.
- E o que os seus amigos fizeram, Junior (Natura domina mercado)?
- O Segundinho, digo, o Jaqui Bauer, torturou todo mundo até descobrir onde estavam as bombas.
- Nossa, sério (risco-Brasil em queda)?
- Brincadeira, né? Ele descobriu que tinha um outro terrorista escondido. Aí o Filho, digo, o Decster, foi até lá, e matou a pessoa na frente de todo mundo, para dar uma lição a eles.
- Que imaginação (puxa, a Bovespa subiu 120 pontos hoje...)!
- Pois é. Aí demos pelo sumiço do Sauier. Ele tinha ido dar uma volta com uma menina, a Alanis. Acho que eles tão ficando. Acabou perdendo tudo, o bobo.
- E você, era quem? Brincou ou só viu eles brincarem (assista hoje no jornal das oito...)?
- Eu era o Toni Soprano, também do seriado. Foi eu que coloquei as bombas, para distrair a polícia. Ia chegar um carregamento grande hoje, de um caminhão roubado. Eu fiquei na espera, jogando cartas e assistindo um stripitisi. Aí o Jaqui Bauer e o Decster vieram me prender.
- Você foi preso? – O Sr. Dias larga enfim o jornal, para pegar um drinque no bar.
- Claro que não. Eu subornei tudo mundo e escapei. A mãe está em casa? To com fome. Mãe!!!
O menino corre escada acima, em direção aos quartos. O pai tem orgulho do filho, tão inteligente, e com tanta imaginação.
Era mais simples quando ele, há muito tempo atrás, brincava disso. Só havia dois papéis a escolher. Talvez um dia irá deixar seu herdeiro passear fora dos muros do condomínio. Ele merece. Apanha de novo o jornal. Sorve o uísque.
Tudo está quieto. Ele apanha os jornais do dia, liga a TV de plasma e desaba na poltrona. Está ali, nem lendo direito, tampouco prestando atenção nos canais, quando chega seu filho, Júnior, nove anos de idade. O menino deita no chão, a seus pés.
- Oi pai!
Roberto mal levanta os olhos das cotações da Bolsa:
- Oi filho, tudo bem?
- Tudo. Eu estava na praça, brincando com o Segundinho, com o Filho e com o Netinho.
- Ah, e do que vocês brincavam (bom momento para fusões, é a manchete)?
- De polícia e ladrão
- Puxa, os garotos ainda brincam disso? E o que cada um era (aumenta volume da TV)?
O Segundinho era o Jaqui Bauer. O Filho era o Decster. E o Netinho era o Sauier.
- Mas quem são esses (vira página do jornal)?
- Ah, são heróis de seriados da TV. Do 24 horas, do Decster, e do Losti. Bem, tinha um outro pessoal brincando com a gente, filhos dos serventes, aqueles que ficam na creche dos funcionários. Eles eram os vilões, mas ninguém conhecido. Nós éramos os principais, e eles tinham um plano para explodir a garage bandi, a gourmê area e o launge.
- E o que os seus amigos fizeram, Junior (Natura domina mercado)?
- O Segundinho, digo, o Jaqui Bauer, torturou todo mundo até descobrir onde estavam as bombas.
- Nossa, sério (risco-Brasil em queda)?
- Brincadeira, né? Ele descobriu que tinha um outro terrorista escondido. Aí o Filho, digo, o Decster, foi até lá, e matou a pessoa na frente de todo mundo, para dar uma lição a eles.
- Que imaginação (puxa, a Bovespa subiu 120 pontos hoje...)!
- Pois é. Aí demos pelo sumiço do Sauier. Ele tinha ido dar uma volta com uma menina, a Alanis. Acho que eles tão ficando. Acabou perdendo tudo, o bobo.
- E você, era quem? Brincou ou só viu eles brincarem (assista hoje no jornal das oito...)?
- Eu era o Toni Soprano, também do seriado. Foi eu que coloquei as bombas, para distrair a polícia. Ia chegar um carregamento grande hoje, de um caminhão roubado. Eu fiquei na espera, jogando cartas e assistindo um stripitisi. Aí o Jaqui Bauer e o Decster vieram me prender.
- Você foi preso? – O Sr. Dias larga enfim o jornal, para pegar um drinque no bar.
- Claro que não. Eu subornei tudo mundo e escapei. A mãe está em casa? To com fome. Mãe!!!
O menino corre escada acima, em direção aos quartos. O pai tem orgulho do filho, tão inteligente, e com tanta imaginação.
Era mais simples quando ele, há muito tempo atrás, brincava disso. Só havia dois papéis a escolher. Talvez um dia irá deixar seu herdeiro passear fora dos muros do condomínio. Ele merece. Apanha de novo o jornal. Sorve o uísque.
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