Lei Seca

Um espaço para discutir as grandes questões. Editor-chefe: Luiz Augusto

Nome:

Advogado, vive em São Paulo

segunda-feira, abril 30, 2007

Historia

Conheci hoje Bath. Dois mil anos de historia, desde a ocupacao romana.
Fui tambem para Stonehenge. Cinco mil anos, data da pre-historia. Bem menor do que eu imaginava. Um circulo de pedras misterioso.
Nos somos antigos. Mas nao tanto quanto pensamos. Somos aqueles quinze segundos finais na historia do planeta, se o tempo da Terra fosse medido num dia.

sábado, abril 28, 2007

Na Inglaterra

Apos uma viagem longa, estou na Inglaterra, escrevendo de um teclado desconfigurado.
Tenho que ser breve, ate o cyber-cafe e caro aqui (notem a falta de acentos)
Quase fui barrado na alfandega, onde um agente chato examinou toda a minha documentaçao, dinheiro, itinerario, etc., na suspeita que eu fosse um imigrante ou Mohammed Atta em potencial.
Londres e uma cidade muito bonita. Emocao ao visitar a abadia de Westminster, onde estao os restos mortais de tudo quanto e ingles importante, inclusive Mr. Churchill. TODOS os monarcas ingleses sao coroados aqui desde 1.066. Uma igreja pelo menos duas vezes mais antiga que o Brasil.
A National Gallery tem uma coleçao de quadros inacreditavel. Fiquei la duas horas e nao vi tudo.
Bom, interrompo essa transmissao para voltar as ferias.

quarta-feira, abril 25, 2007

Mulheres ao redor do mundo

México: O aborto é descriminado na Cidade do México, contra a pressão da Igreja. Ponto para as mulheres.

Irã: Mulheres que não se vistam adequadamente estão sujeitas a serem expulsas de Teerã e a tomar chibatadas. Acho que esses caras, que ameaçam maltratar mulheres de mini-saia, não são muito chegados... Que tipo de animal faria isso? Merecem é queimar no mármore do inferno. Ridículos!

Inté!

Meus leitores,

Como já adiantei neste espaço, estarei viajando por alguns dias.
Espero que os arquivos sejam suficientes para acalmá-los antes que vocês abandonem de vez este blog.
Tenham paciência. Não me deixem só (hmmm, o último que pediu isto se deu mal. Ou não...).

segunda-feira, abril 23, 2007

Mini-conto: Embarque

"Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai à porta do avião. Coragem para a luta".

FIM, OU UM NOVO COMEÇO.

(Explicação: Quinta-feira embarco para a Europa. É a segunda vez que vou para a exterior com recursos próprios, a quarta viagem no total.
As duas primeiras vezes que saí do Brasil, para os EUA, foi com "paitrocínio". Se pude ir antes, e se hoje posso ir com minhas pernas, foi por causa deles. Muito obrigado, meus pais!
A frase do conto é adaptação do início de O Ateneu, de Raul Pompéia, a quem agradeço postumamente.

domingo, abril 22, 2007

As massas excedentárias

Nós passamos por elas, e não damos a mínima. Vejo-as através do vidro do carro, seja guardadas numa prisão, ou amontoadas no que chamamos de favelas.
São a areia na engrenagem, as massas pelas quais ninguém se responsabiliza, as hordas.
Moradores de rua, guardadores de carro, vendedores de bala nos sinais, bandidos soltos ou presidiários, camelôs, desempregados ou subempregados da classe baixa até a a classe média despencando para a baixa, vítimas de Aids na África, refugiados em campos.
As massas excedentárias.
A economia e o crescimento da população vai jogando cada vez mais gente num limbo em que não há muitas opções de sobrevivência. A normalidade seria cada um que quisesse ter o seu emprego, fonte de renda ou negócio próprio. Se a pessoa fica marginalizada, sem poder ter um espaço na sociedade oficial, recorrendo ao crime ou à funções que por si só são um excesso, como guardar carros ou fazer malabarismos nos sinais (exemplo urbano brasileiro), dependendo de esmolas oficiais, ou vivendo em locais do mundo sem água ou habitação decente, alguns poderiam entender que essas pessoas estariam sobrando.
Um jurista as definiu como as "que não deveriam ter nascido, e, já que nasceram, deveriam morrer o mais rápido possível".
São os alvos potenciais do aborto tardio pós-nascimento, a que Philip K. Dick se referiu no conto "As pré-pessoas"
E daí para o raciocínio de que a solução é exterminá-las é um pulo. Aconteceu no Reich nazista. Aconteceu na ex-Iugoslávia. Aconteceu em Ruanda. Está acontecendo no Sudão.
É um perigo. Ou botamos nossas cabeças para funcionar e achar uma solução para essas pessoas, para essa economia, para esse mundo que não dá chance a todos, , ou os defensores futuros da solução de sangue surgirão.
Alguém resumiu a situação melhor do que eu:

"A assustadora coincidência da explosão populacional moderna com a descoberta de aparelhos técnicos que, graças à automação, tornarão ´supérfluos´ vastos setores da população até mesmo em termos de trabalho, e que, graças à energia nuclear, possibilitam lidar com essa dupla ameaça com o uso de instrumentos ao lado dos quais as instalações de gás de Hitler pareceriam brinquedos de uma criança maldosa - tudo isto deve bastar para nos fazer tremer." (Hanna Arendt, Eichmann em Jerusalém - Um relato sobre a banalidade do mal. SP: Companhia das Letras, 2006)

sábado, abril 21, 2007

Massacre de pobre vale menos

Em 1972, 13 manifestantes católicos foram mortos na Irlanda por soldados ingleses, ao protestar contra a ocupação da ilha. Esse fato inspirou uma famosíssima música do U2 (Sunday Blood Sunday) e um filme de Paul Greengrass (Domingo Sangrento).
Os nossos massacres, como Candelária, Baixada Fluminense, etc., não valem um versinho de samba na caixinha de fósforo.
(Exceção feita ao Carandiru, que é filme, música dos Racionais e livro do Drauzio Varella).

sexta-feira, abril 20, 2007

A nossa Virginia Tech

Passou sem destaque o aniversário de dois anos do massacre na Baixada Fluminense, ocorrido em 30 de março de 2005, que matou 30 pessoas (um pouco a menos que na Virginia Tech), cometido por um bando de "policiais" militares. As vítimas foram sendo mortas a tiros e a esmo, em bares, nas ruas, e até na via Dutra.
Como foi no Terceiro Mundo, nessa terra que tem menos de 1% do comércio mundial, e ninguém morto falava inglês, ninguém se interessou.

Desejo e distância

Aforismo:

O desejo nasce da proximidade.

Corolários:

Cobiçamos o que nos é vizinho.
A mulher do próximo nos parece mais atraente que a Angelina Jolie.
O carro novo do vizinho nos é mais agressivo que a fortuna do Bill Gates.
O operário mal-pago sonha mais com o aumento no holerite do que em ser o dono da fábrica.

quarta-feira, abril 18, 2007

"Felicidade é uma arma quente"

Antes os últimos acontecimentos nos EUA, não pude deixar de pensar na canção "Happiness is a warm gun", de Lennon e McCartney, cujo título está traduzido acima.
O próprio Lennon, em 1980, viria a tombar com cinco tiros de um atirador enlouquecido.

"When I hold you in my arms
and I feel my finger on you trigger
I know nobody can do no harm"

"Quanto eu tenho você em meus braços
E sinto meu dedo no seu gatilho
Eu sei que ningúem poderá fazer mal"

segunda-feira, abril 16, 2007

O que Prison Break pode nos ensinar

Aparte todo o suposto estudo e parca fama intelectualóide que tenho, adoro um bom enlatado americano. Eles fazem a melhor TV da atualidade. Os seriados que me caem na mão, assisto, desprezando até últimos lançamentos de cinema. Lost, Roma, Sopranos, 24 Horas, vejo tudo.
Um desses programas é Prison Break, focado em Michael Scofield, um genial engenheiro que se faz prender na prisão de Fox River (*) , que ajudou a projetar, para tentar libertar seu irmão do corredor da morte.
Terminei a primeira temporada e estou esperando lançarem a segunda em DVD.
Com um pouco de olhar crítico, aparte me divertir à beça com o programa, e exageros narrativos à parte, aprendi algumas lições sobre o "sistema" americano, e que não custaria a nós copiar:
- Uma fuga de cadeia, nos EUA, é um evento tão raro, que vira até show de televisão. Se fosse banal ninguém iria querer ver. Eles levam essa afronta ao Estado tão a sério que tentar fugir, com ou sem violência, é crime punido pesadamente (aqui só é crime se houver violência, os bandidos aqui tem um jus fugendi (é isso?). E como o slogan do show diz, a fuga é só o começo. (Spoiler a seguir) Michael Scofield e seus companheiros de fuga são alvo de verdadeira caçada humana pelos policiais de Illinois, carcereiros, FBI, guardas de fronteira, Chuck Norris e Jack Bauer.
Como é em Pindorama? Temos fuga todo dia. Cada uma é apenas mais uma. Ouvimos relatos de fuga mastigando pão de manhã e de noite, sem perder o sono. Para quem foge, fugiu, tá livre.
- Nos EUA, a morte de um carcereiro ou policial é um ataque ao Estado, investigada e punida com rigor. Aqui, já morreram neste ano no Rio mais de 40 policiais. Nem na Chicago de Al Capone (um dos cenários da série) se matava tanto.
- Na Gringolândia ter ou usar celular na cadeia é crime. Aqui não é nem falta grave na Lei de Execuções Penais.
Enfim, se houvesse uma versão brasileira de Prison Break, ela não duraria muitas temporadas, como a série americana pretende. Aqui duraria uns dois episódios. No primeiro o bandido iria se preparar, subornando os guardas e comprando um celular. No segundo, sairia pelo portão da frente do xadrez.

* - Todo programa da Fox tem algo metalinguístico, como o Fox Mulder, do Arquivo X)

domingo, abril 15, 2007

Notícias de minha guerra particular

Estou em guerra. As minhas batalhas consistem em enfrentar pedintes, flanelinhas, crianças malabaristas e seus pais gigolôs, ladrões de carro, hackers, e toda a espécie de assaltante, aqui na cidade de São Pauloição. Quase sempre estou na condição de vítima.
Quem acompanha este blog leu o relato do furto do som do meu, por enquanto, carro (Uma noite no cinema). Pois bem. Quinta passada, visitei um amigo na mesma região. Como o carro, à parte ele mesmo, já não tinha nada furtável, deixei-o na rua. Acreditava também tolamente no ditado: um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Cai.
Com uma cerveja na mão, caminho até a janela do apartamento de meu amigo e olho para a rua, para meu carro, dando uma checada que pensei que seria inútil (*). Há uma moça com um guarda-chuva enorme olhando para dentro do veículo, parada. Suspeito. De dentro do carro, em algo surreal para mim, sai calmamente um sujeito balançando a cabeça. Ele não achou nada para levar. Os dois seguem seu caminho e passam embaixo da minha janela.
O sangue ferve e xingo os dois. Eles me escutam, não apressam o passo e nem olham para cima, despreocupados. Meu impulso era jogar a garrafa, na cabeça deles, torcendo para que ela se espatifasse em cerveja e sangue. Contenho-me.
Digo tchau aos amigos e vou até o carro, que já era da galera, pensei. Tudo revirado no banco, nada levado. Mas agora a porta não fecha direito. Da próxima vez vou deixar tudo aberto e um cartaz dizendo que já levaram tudo, para poupar-lhes o trabalho. Ladrões 2 X Eu 0.
(*) Nota - Por acaso foi útil a checada? Só serviu para me irritar com o cinismo dos outros.
Agora outra história. Sábado à noite. Eu e um casal de amigos rumo a um bar em Santos. Paro o carro na rua. Não havia estacionamentos, já aprendi a lição, mas fazer o quê? Um flanelinha corre até o carro e já quer abrir a porta para mim, como se a rua fosse um hotel do qual ele fosse o gerente. Raiva. Ele quer um adiantamento, digo fulo que só na volta.
Vamos andando devagar até o bar. Lembro que havia esquecido o celular no carro e volto para pegá-lo. Aí vejo que uma viatura de polícia havia parado e estava revistando o flanelinha, mãos no capô. Ele é levado embora detido. Num momento Seinfeld, penso: "Bom, agora não vou precisar pagá-lo". Riso sincopado. Uma pequena vingança. Ladrões 2 X Eu 1.
Mas essa contagem é inútil. Não há muito que eu possa fazer. Deveria ter ido à polícia denunciar as duas invasões do carro, mas... Nesse jogo, tudo o que podemos fazer é perder.

sábado, abril 14, 2007

Um debate temporão: aborto

Com muitos anos de atraso, o Brasil começa a discutir a fundo a questão do aborto, por isso ele é temporão, tardio. E, em trocadilho involuntário, o responsável pelo começo é o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
Habemus ministro! Finalmente alguém com coragem de enfrentar a hipocrisia reinante. O aborto aqui só é permitido para quem tem dinheiro. Quem não tem que se vire com a agulha de crochê. Milhares de internações no SUS por complicações posteriores a abortos malfeitos, fora as mulheres mortas e lares desestruturados.
Gozado que sempre o que defende a cadeia para as mulheres que abortam é sempre um homem, que não vai ficar grávido, ou criar um filho indesejado. O Direito Penal, parafraseando o poeta, é o refúgio dos covardes.
Se estivéssemos falando de um país em que todas as mulheres tivessem pleno acesso à informação e à anticoncepcionais, vá lá. Mas aqui é a República Federativa do Brasil, país onde algumas Câmaras de Vereadores querem impedir até a distribuição da pílula do dia seguinte. E em que a Igreja Católica quer que as mães de fetos anencefálicos levem essas sofridas gestações até o fim. Há muita gente sem cérebro andando por aí.
Eles não podem querer impor os preceitos de uma religião a todo um país laico e sem religião oficial.
Nos Estados Unidos o aborto é permitido desde 1973. Portugal recentemente aprovou. O Brasil, com sua proibição, deve estar na companhia de outros países ridículos que ainda tratam o aborto como uma questão de polícia.
Força, ministro! Vamos discutir a questão, sim.

quarta-feira, abril 11, 2007

Buenos Aires - parte 2

Inveja de Borges

Um espírito domina Buenos Aires, mais que todos os vivos que lá habitam. É o fantasma de Jorge Luis Borges, o genial escritor criador de universos.
As revistas de turismo e os guias da cidade sempre destacam os lugares por onde Borges andou, viveu, se inspirou e criou. A Viagem e Turismo do mês passado trouxe interessante texto de Larry Rother (sim, aquele mesmo), que destaca a presença de Borges em Buenos Aires.
A foto abaixo é do museu de cera da Boca, e retrata os gauchos, brigões argentinos da fronteira, e que, como lembrado por Larry, fizeram parte de muitas estórias de Borges:
A seguir, o Museu Nacional de Bellas Artes:



Não sei se Borges chegou a visitá-lo, provavelmente sim. Uma surpresa grata, com obras de Van Gogh, Rembrandt, Goya, Picasso e Pollock. Destaque são alguns desenhos de Xul Solar, artista argentino que foi amigo de Borges. Ainda segundo Larry, os dois costumavam se reunir e trocar histórias de sagas escandinavas. Não pude visitar o recomendado museu Xul Solar, dedicado à sua obra.

Borges adorava tigres, e os mencionou muito em suas histórias. Consta que visitava o zôo de Palermo, que pude conhecer. Abaixo, a foto de um tigre branco:Borges, Borges, quanta atenção a ele! Era um gênio. Chego a invejá-lo. Nunca escreverei nada perto do que ele escreveu. Nenhuma cidade, das várias que habitei e vivo, terão tantas referências minhas, ou me serão sinônimas, como Buenos Aires é de Borges.

Dele, dizem que escreveu tal conto ou poema no café tal. De mim, dirão que escrevi petições na Liberdade, em São Paulo, ou que me reunia com os amigos de nome Rafael ou Rodrigo para bater papo furado com cerveja, e não sagas escandinavas com artistas de nomes pomposos. Borges visitava os animais do zôo. Eu assisto enlatados americanos antes de dormir.
Ao estilo de seus contos, Borges se repetirá infinitamente em Buenos Aires. Eu apenas serei uma vaga lembrança em muitas cidades, até o oblívio. Preciso exorcizar Borges. Só me resta começar a ler de novo suas Obras Completas. Faltou o último volume.

segunda-feira, abril 09, 2007

Buenos Aires - Parte 1

Prefaciais
Volto de uma breve ausência deste blog, que se deu por um bom motivo. Estive em Buenos Aires, capital da Argentina, neste feriado. Creio ter coletado material para alguns alguns posts interessantes. Vamos lá.

My own private Buenos Aires
Voltei da cidade, que não conhecia, num estado muito bom. Lugar com seus defeitos, mas não tenho vontade de criticar nada. Lixo e cachorros mal-educados nas ruas, táxis velhos, uma sensação de abandono em certos lugares. Deixa para lá.
Parece São Paulo, mas numa versão bizarro. Ou melhor, numa versão cool.
Culinária à moda da Espanha. Carnes. Doces. Helados. Cafés. Tudo muito bom. Fartei-me.
Arquitetos e designers de interiores parecem ter invadido certas áreas da cidade e feito o que bem entendem. Negrito e sublinhado no bem. Caprichado demais. Uma aula.
Eu e minha noiva parecíamos por vezes passear numa cidade nossa. Só nossa. Ficamos num hotel com apenas cinco quartos, cada um decorado num estilo. Até o que é propositalmente largado fica legal. Ficamos no Youkali (www.youkali.com.ar), cheio de detalhes pitorescos, como velas de macumba em forma de boi, globos de discoteca acesos para ninguém e totens misteriosos enfeitando os aposentos.
O nosso quarto, denominado drung drung:

(Com minhas coisas largadas nos criados-mudos, fica quase um quadro à moda vanitas, dos pintores antigos. Falta só o crânio humano...).

O som também é cool. Leitor, se queres uma trilha sonora para este relato, por óbvio, é o tango. Procure os discos ou baixe pela rede qualquer coisa de Astor Piazolla ( já morto) ou Dino Solluzi, que são criadores estilosos da velha escola. Por um cruzamento bacana, ouça o tango eletrônico, com Gotan Project ou Otros Aires.

Recentes apreciadores do tango, fomos a um lugar expoente da velha escola, o intimista Bar Sur, por si só ponto turístico-histórico da cidade. Tivemos um show espetacular, com pianistas virtuoses e dançarinos endiabrados.
(Um adendo, se me permitem. Há um estilo de vida em Buenos Aires que é o casal de tango. Um homem e uma mulher, casados ou amigados, que vivem juntos de seu trabalho, procurando se aperfeiçoar e se apresentar em lugares melhores, uma espécie de carreira).

Uma foto de um casal dançarino do Bar Sur (esses não são casados):


(O simpático velhinho ao fundo é um dos pianistas do Bar)

Por onde andávamos, a beleza estava no olho do observador, com arte nas ruas, escondida e só revelável aos olhos treinados. Este painel estava no Caminito:

E no mesmo bairro, o dono de um boteco homenageia o bruxo Rasputin, o poder por trás do trono czarista dos Romanov:


Tudo muito, muito cool. E muito particular, como se fosse uma cidade diferente para cada um que a habita ou visita.

(A seguir, no próximo post, o editor deste blog relata como descobriu que sente uma profunda inveja de Borges)

quarta-feira, abril 04, 2007

Exterminadores da classe média

Por Maria Inês Dolci (publicado com autorização da autora)

Folha de S. Paulo - 27/3/2007

Sem classe média, não há país que cresça de forma sustentada. Não há espetáculo do crescimento

A CLASSE média é o sal da economia. São famílias formadas por profissionais liberais, pequenos industriais e comerciantes, e alguns níveis de funcionários públicos, do comércio e da indústria (Houaiss). Não são ricos, mas têm um padrão de consumo que move a economia.Sem classe média, não há país que cresça de forma sustentada. Não há espetáculo do crescimento. Não há uma classe de consumidores organizada, que conheça e defenda seus direitos. E os pobres se eternizam, pois não há ascensão social possível.
Devido ao que representa para a economia e a sociedade, a classe média deveria ser muito bem tratada. Não é. Tem sido ostensivamente dizimada por sucessivos aumentos de impostos, além da criação de inúmeros tributos. Até a idéia do imposto único foi pervertida e transformada na CPMF, que drena o dinheiro da economia produtiva para os cofres dos incompetentes governos brasileiros, em todos os níveis.
Nos últimos governos (dois FHC e dois Lula), a classe média tem pagado todas as contas, como o pacote de "bondades" para os eleitores, digo, os mais pobres. E, ainda, os rios de dinheiro que irrigam as férteis capitanias dos banqueiros.
Não bastasse tudo isso, ainda são massa de manobra para acalmar os companheiros sindicais, em um dos últimos suspiros dos neocons brasileiros, ditos de esquerda. Para aplacar a fome desses companheiros, nada como a carne, o sangue e os ossos dos trabalhadores que, sem opção, se transformaram em pessoas jurídicas, os chamados PJs.
O crime que eles cometeram? Independência e empreendedorismo, dois palavrões nesse país que odeia o lucro, a livre iniciativa e tudo o que não cheire a beija-mão do pai-governo, ou do pai-sindicato.
Na mesma cesta, são imolados também os sócios de cooperativas de trabalho, porque não têm "registro em carteira", a água benta que exorciza os malvados capitalistas (que, aliás, têm outras plagas bem mais interessantes para investir do que esse Brasilti, grande como o Brasil, com crescimento de Haiti).
É claro que ninguém nunca se preocupou com os milhões de brasileiros que ficarão à deriva se o Congresso não tiver a decência e a dignidade de derrubar o veto à emenda 3 da lei que criou a Super-Receita.
Que simplesmente proibia o auditor fiscal de multar empresas formadas essencialmente por uma única pessoa que presta serviços para outras empresas.
Ou seja, para os exterminadores da classe média, tanto faz que milhões fiquem sem emprego. O importante é que não ousem atualizar nossa arcaica e superada legislação trabalhista. A classe média se assemelha, hoje, às ilhas do Pacífico que vão desaparecer com o aquecimento global. Triste é que o futuro do Brasil também derreta com elas.
Enquanto os PJs perdem o sono, e temem pela sobrevivência de suas famílias, a corte discute aumento de salário para o presidente da República e para seus ministros. Verdugos não costumam ter peso na consciência, mesmo.

terça-feira, abril 03, 2007

Uma noite no cinema

Segunda-feira. Tirei a noite para assistir O cheiro do ralo no Espaço Unibanco. Paro o carro numa rua lateral e vou.
Gente estranha na fila, aqueles tipos exóticos de São Paulo. Havia uma agitação incomum no ar, e percebi depois que era uma pré-estréia do filme Cartola, sobre o cantor e compositor de sambas. Uma moça era insistentemente fotografada por um profissional. Devia ser atriz do filme. Tudo lotado.
Na minha sala, começam os trailers. Dois filmes irão estrear. Hércules C-56 (é isso?), nome do avião que levou os presos políticos trocados pelo embaixador americano durante a ditadura, e Batismo de Sangue, com a história do Frei Betto e de outros freis dominicanos que lutaram, adivinhe só, contra a ditadura. O primeiro filme com certeza irá falar bem do Zé Dirceu, um dos presos trocados, em conveniente momento para sua campanha de anistia. O outro irá falar bem do Frei Betto, figura petista de destaque durante o governo de Lula I.
(Pausa para o momento cri-crítico. Por que tanta festa para quem pegou em armas contra a ditadura com o intento de transformar esse Brasil numa Cuba, numa União Soviética? Os pequenos burgueses tem mesmo que morrer? Por que nenhum filme é feito sobre o coitado do Mario Kozel, mero sentinela explodido por terroristas? Quanto dinheiro foi captado pela Lei Rouanet para esses filmes?)
Começa O cheiro do ralo. Engraçado. Bizarro. Uma obsessão de um pobre diabo pela bunda de uma garçonete, os odores de seu banheiro, e a humilhação contra gente necessitada. Final redentor desnecessário. Mas gostei.
Eu e os outros espectadores somos expulsos da sala por um caminho que nos faz atravessar outra sala de cinema. Posso de relance ver que algo acontece no Espaço Unibanco. Barulho de festa e copos. Risadas.
Na rua, volto até o Espaço. Um coquetel de lançamento do Cartola. Entro, ninguém me incomoda. Tomo cerveja, refrigerante. Como canapés ruins. Circulo. Festa estranha com gente esquisita. Penteados modernos. Não converso com ninguém, saio.
Caminho até o carro. Aperto o botão da trava e nada. O carro já está aberto. Sento no carro com uma sensação dos diabos. Acendo a luz e vejo o painel rasgado, num serviço porco e violento, e o conteúdo do porta-luvas esvaziado no banco do passageiro. Meu som (no painel) e a respectiva frente (no porta-luvas) haviam sido levados, mais nada. Eu acabava de virar estatística da criminalidade.
Era a segunda vez que meu carro era arrombado. Da outra vez, quatro anos atrás, levaram só a frente, mas arrombaram o vidro. Recolhi os cacos com a mão e com um aspirador. A mesma sensação de estupro, boca seca e raiva.
O som será vendido por mixaria, para comprar drogas. Eu que trabalhei por ele, terei que gastar mais horas de trabalho para comprar outro.
Dirijo para casa, conformado e bovino. Não farei B.O.. Penso em Zé Dirceu e seu Hércules. Penso em Frei Betto e seu batismo de sangue. Eles devem estar dando risada desse pequeno burguês assaltado. Esse é o mundo que vocês sonharam? O safado que levou meu som nada mais é que um revolucionário contra o sistema, como vocês foram? É isso?
Demorei a pegar no sono.

segunda-feira, abril 02, 2007

Xô CPMF!

Venho divulgar uma campanha de apoio mais útil. A "Xô CPMF" visa extinguir esse injusto tributo, o "imposto do cheque" que arrecada 38 bilhões anuais. O que é feito com essa montanha de dinheiro? Engordar os cofres da União. Ela será extinta esse ano, mas o governo não vai querer perder esse dinheiro fácil, e vai passar o usual rolo compre$$or no Congresso Nacional para aprovar uma emenda constitucional prorrogando-a.
É uma batalha por bilhões. Dinheiro que poderia ficar em nosso bolso e dinamizar nossa economia.
Só resta a nós, súditos, nos mobilizarmos. Entrem no site da campanha: http://www.xocpmf.com/ e assinem o manifesto.
Em tempo, a "Xô CPMF" só tem 11 mil assinaturas até agora, e diz respeito a todos nós. A campanha em prol do Henry Sobel, lançada neste fim de semana, já tem 30 mil.

domingo, abril 01, 2007

Corrente ridícula em apoio ao fã de gravatas

Recebi um e-mail, com uma corrente ridícula:

"Amigo, (a)Colocamos no ar uma carta de solidariedade ao rabino Sobel, à qual vc pode aderir, clicando em http://www.petition online.com/ petsobel/ petition. html.É muito importante apoiá-lo com o seu nome nesse momento tão triste.Repasse também aos seus amigos.Imagine o quanto poderia significar para ele cada simples gesto deretribuição pelo tanto que ele já fez.

Prezado senhor Henry Sobel,O lamentável episódio que o envolveu mostra que todos somos humanos eninguém está livre de atitudes irracionais e autodestrutivas.O acontecido em nada diminui a importância que o rabino Henry Sobeltem para o desenvolvimento da comunidade judaica brasileira, nosentido de uma abertura às melhores causas e ao diálogo ecumênico.Neste momento extremamente difícil de sua vida, na véspera do Pessache da Páscoa, apelamos à comunidade judaica e ao público brasileiro amanter o espírito de compreensão e compaixão, valorizando no homempúblico Henry Sobel aquilo que o destaca em todo o seu longo históricode realizações:- por sua rara coragem de perseverantemente lutar pelas causas daJustiça, dos Direitos Humanos e pela Paz entre os povos, mesmo quandocontrariando as poderosas forças dominantes.Com respeito e solidariedade,Assine em http://www.petition online.com/ petsobel/ petition. html , e envie para os amigos.Shalom!"

O sr. Henry Sobel fez muito pela comunidade, viva! Cometeu um erro, que seja.
Mas quando rico branco rouba, ele é cleptomaníaco ou tem distúrbios de personalidade.
Quando é preto pobre, é simplesmente bandido, é isso?
A lei é igual para todos? Ou alguns são mais iguais que os outros?
Há muita gente (pobres, lógico) presa por furto de xampu, margarina, bolacha. Não chegou à minha lista de e-mails nenhuma corrente de solidariedade para elas.
Menos hipocrisisa, minha gente. Menos...