Por Maria Inês Dolci (publicado com autorização da autora)
Folha de S. Paulo - 27/3/2007
Sem classe média, não há país que cresça de forma sustentada. Não há espetáculo do crescimentoA CLASSE média é o sal da economia. São famílias formadas por profissionais liberais, pequenos industriais e comerciantes, e alguns níveis de funcionários públicos, do comércio e da indústria (Houaiss). Não são ricos, mas têm um padrão de consumo que move a economia.Sem classe média, não há país que cresça de forma sustentada. Não há espetáculo do crescimento. Não há uma classe de consumidores organizada, que conheça e defenda seus direitos. E os pobres se eternizam, pois não há ascensão social possível.
Devido ao que representa para a economia e a sociedade, a classe média deveria ser muito bem tratada. Não é. Tem sido ostensivamente dizimada por sucessivos aumentos de impostos, além da criação de inúmeros tributos. Até a idéia do imposto único foi pervertida e transformada na CPMF, que drena o dinheiro da economia produtiva para os cofres dos incompetentes governos brasileiros, em todos os níveis.
Nos últimos governos (dois FHC e dois Lula), a classe média tem pagado todas as contas, como o pacote de "bondades" para os eleitores, digo, os mais pobres. E, ainda, os rios de dinheiro que irrigam as férteis capitanias dos banqueiros.
Não bastasse tudo isso, ainda são massa de manobra para acalmar os companheiros sindicais, em um dos últimos suspiros dos neocons brasileiros, ditos de esquerda. Para aplacar a fome desses companheiros, nada como a carne, o sangue e os ossos dos trabalhadores que, sem opção, se transformaram em pessoas jurídicas, os chamados PJs.
O crime que eles cometeram? Independência e empreendedorismo, dois palavrões nesse país que odeia o lucro, a livre iniciativa e tudo o que não cheire a beija-mão do pai-governo, ou do pai-sindicato.
Na mesma cesta, são imolados também os sócios de cooperativas de trabalho, porque não têm "registro em carteira", a água benta que exorciza os malvados capitalistas (que, aliás, têm outras plagas bem mais interessantes para investir do que esse Brasilti, grande como o Brasil, com crescimento de Haiti).
É claro que ninguém nunca se preocupou com os milhões de brasileiros que ficarão à deriva se o Congresso não tiver a decência e a dignidade de derrubar o veto à emenda 3 da lei que criou a Super-Receita.
Que simplesmente proibia o auditor fiscal de multar empresas formadas essencialmente por uma única pessoa que presta serviços para outras empresas.
Ou seja, para os exterminadores da classe média, tanto faz que milhões fiquem sem emprego. O importante é que não ousem atualizar nossa arcaica e superada legislação trabalhista. A classe média se assemelha, hoje, às ilhas do Pacífico que vão desaparecer com o aquecimento global. Triste é que o futuro do Brasil também derreta com elas.
Enquanto os PJs perdem o sono, e temem pela sobrevivência de suas famílias, a corte discute aumento de salário para o presidente da República e para seus ministros. Verdugos não costumam ter peso na consciência, mesmo.