Lei Seca

Um espaço para discutir as grandes questões. Editor-chefe: Luiz Augusto

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Advogado, vive em São Paulo

domingo, abril 22, 2007

As massas excedentárias

Nós passamos por elas, e não damos a mínima. Vejo-as através do vidro do carro, seja guardadas numa prisão, ou amontoadas no que chamamos de favelas.
São a areia na engrenagem, as massas pelas quais ninguém se responsabiliza, as hordas.
Moradores de rua, guardadores de carro, vendedores de bala nos sinais, bandidos soltos ou presidiários, camelôs, desempregados ou subempregados da classe baixa até a a classe média despencando para a baixa, vítimas de Aids na África, refugiados em campos.
As massas excedentárias.
A economia e o crescimento da população vai jogando cada vez mais gente num limbo em que não há muitas opções de sobrevivência. A normalidade seria cada um que quisesse ter o seu emprego, fonte de renda ou negócio próprio. Se a pessoa fica marginalizada, sem poder ter um espaço na sociedade oficial, recorrendo ao crime ou à funções que por si só são um excesso, como guardar carros ou fazer malabarismos nos sinais (exemplo urbano brasileiro), dependendo de esmolas oficiais, ou vivendo em locais do mundo sem água ou habitação decente, alguns poderiam entender que essas pessoas estariam sobrando.
Um jurista as definiu como as "que não deveriam ter nascido, e, já que nasceram, deveriam morrer o mais rápido possível".
São os alvos potenciais do aborto tardio pós-nascimento, a que Philip K. Dick se referiu no conto "As pré-pessoas"
E daí para o raciocínio de que a solução é exterminá-las é um pulo. Aconteceu no Reich nazista. Aconteceu na ex-Iugoslávia. Aconteceu em Ruanda. Está acontecendo no Sudão.
É um perigo. Ou botamos nossas cabeças para funcionar e achar uma solução para essas pessoas, para essa economia, para esse mundo que não dá chance a todos, , ou os defensores futuros da solução de sangue surgirão.
Alguém resumiu a situação melhor do que eu:

"A assustadora coincidência da explosão populacional moderna com a descoberta de aparelhos técnicos que, graças à automação, tornarão ´supérfluos´ vastos setores da população até mesmo em termos de trabalho, e que, graças à energia nuclear, possibilitam lidar com essa dupla ameaça com o uso de instrumentos ao lado dos quais as instalações de gás de Hitler pareceriam brinquedos de uma criança maldosa - tudo isto deve bastar para nos fazer tremer." (Hanna Arendt, Eichmann em Jerusalém - Um relato sobre a banalidade do mal. SP: Companhia das Letras, 2006)