O crime do padre Júlio
Pelo que se lê em toda parte, parece que a grande ameaça aos católicos são os próprios sacerdotes. Ao menos nos EUA. Indenizações milionárias são pagas a quem foi seviciado e abusado na infância por padres. Algumas dioceses cogitaram pedir falência para escapar da conta.
Ecos desse escândalo demoraram a chegar no Brasil. Dizer que aqui não há padres que gostam de criancinhas é como o Presidente do Irã ter declarado que naquele país não existem homossexuais. Sim, infelizmente, nós temos esse tipo de clérigo.
Se as denúncias se confirmarem, o nosso caso mais notório será o do “padre de passeata” Júlio Lancelotti. Esse religioso, extorquido por um bandido durante três anos, entregou a este R$ 80 mil. A ameaça era não ver exposto um caso de abuso de um adolescente. E o dinheiro pode ter sido tirado da ONG que o padre comanda, que recebe mais de meio milhão de reais da Prefeitura de São Paulo. Escândalo suculento, envolvendo verbas públicas e sexo com menores.
Muitos provérbios populares me vêm à cabeça com esse affair Lancelotti:
- Onde há fumaça há fogo
- Casa de ferreiro, espeto de pau
- Quem não deve não teme
- Diga-me com quem andas e te direi quem és
- Quem com ferro fere com ferro será ferido
Teria sido melhor que Lancelotti tivesse lido outros Provérbios, os da Bíblia, do livro de mesmo nome: “Meu filho, se os pecadores te atraírem com teus afagos, não condescendas com eles (capítulo 1, versículo 10)”. Ou o versículo 1 do capítulo 6, perfeito para quem aceita dar garantias de crédito a bandidos que compram carros de luxo: “Meu filho, se ficares por fiador do teu amigo, deste por ele a tua mão a um estranho; com as palavras da tua boca te meteste no laço, e ficaste preso pela tua própria linguagem”.
Lógico, não se está falando que o padre Júlio é culpado. Ele é inocente até que se prove o contrário. Acho que o assunto é outro. A mãe da questão é a castração que a Igreja Católica Apostólica Romana impõe aos seus integrantes. O celibato clerical.
Alexandre Herculano, grandeescritor português, já se ocupava da questão no século XIX, em citação clássica (até manjada):
“Eu, por minha parte, fraco argumentador, só tenho pensado no celibato à luz do sentimento e sob a influência da impressão singular que desde verdes anos fez em mim a idéia da irremediável solidão da alma a que a igreja condenou os seus ministros, espécie de amputação espiritual, em que para o sacerdote morre a esperança de completar a sua existência na terra (Euríco, o Presbítero)”.
A Igreja sustenta uma posição anacrônica, e cara. Não entendo esse repúdio ao sexo, coisa tão natural quanto dormir ou respirar. Não há vida sem ele, exceto as unicelulares. E se impõe que padres, freiras e monges vivam como se não tivessem uma parte de seus corpos, sem poder unir suas vidas às de outras pessoas.Ora, a vida sempre encontra um jeito. Os abusos nascem porque a Igreja condena um padre a viver como um eunuco, sem que possa casar e constituir família. Daí os ataques aos jovens de seu rebanho. Daí os abusos. Daí as indenizações milionárias e os escândalos.
Ecos desse escândalo demoraram a chegar no Brasil. Dizer que aqui não há padres que gostam de criancinhas é como o Presidente do Irã ter declarado que naquele país não existem homossexuais. Sim, infelizmente, nós temos esse tipo de clérigo.
Se as denúncias se confirmarem, o nosso caso mais notório será o do “padre de passeata” Júlio Lancelotti. Esse religioso, extorquido por um bandido durante três anos, entregou a este R$ 80 mil. A ameaça era não ver exposto um caso de abuso de um adolescente. E o dinheiro pode ter sido tirado da ONG que o padre comanda, que recebe mais de meio milhão de reais da Prefeitura de São Paulo. Escândalo suculento, envolvendo verbas públicas e sexo com menores.
Muitos provérbios populares me vêm à cabeça com esse affair Lancelotti:
- Onde há fumaça há fogo
- Casa de ferreiro, espeto de pau
- Quem não deve não teme
- Diga-me com quem andas e te direi quem és
- Quem com ferro fere com ferro será ferido
Teria sido melhor que Lancelotti tivesse lido outros Provérbios, os da Bíblia, do livro de mesmo nome: “Meu filho, se os pecadores te atraírem com teus afagos, não condescendas com eles (capítulo 1, versículo 10)”. Ou o versículo 1 do capítulo 6, perfeito para quem aceita dar garantias de crédito a bandidos que compram carros de luxo: “Meu filho, se ficares por fiador do teu amigo, deste por ele a tua mão a um estranho; com as palavras da tua boca te meteste no laço, e ficaste preso pela tua própria linguagem”.
Lógico, não se está falando que o padre Júlio é culpado. Ele é inocente até que se prove o contrário. Acho que o assunto é outro. A mãe da questão é a castração que a Igreja Católica Apostólica Romana impõe aos seus integrantes. O celibato clerical.
Alexandre Herculano, grandeescritor português, já se ocupava da questão no século XIX, em citação clássica (até manjada):
“Eu, por minha parte, fraco argumentador, só tenho pensado no celibato à luz do sentimento e sob a influência da impressão singular que desde verdes anos fez em mim a idéia da irremediável solidão da alma a que a igreja condenou os seus ministros, espécie de amputação espiritual, em que para o sacerdote morre a esperança de completar a sua existência na terra (Euríco, o Presbítero)”.
A Igreja sustenta uma posição anacrônica, e cara. Não entendo esse repúdio ao sexo, coisa tão natural quanto dormir ou respirar. Não há vida sem ele, exceto as unicelulares. E se impõe que padres, freiras e monges vivam como se não tivessem uma parte de seus corpos, sem poder unir suas vidas às de outras pessoas.Ora, a vida sempre encontra um jeito. Os abusos nascem porque a Igreja condena um padre a viver como um eunuco, sem que possa casar e constituir família. Daí os ataques aos jovens de seu rebanho. Daí os abusos. Daí as indenizações milionárias e os escândalos.