Lei Seca

Um espaço para discutir as grandes questões. Editor-chefe: Luiz Augusto

Nome:

Advogado, vive em São Paulo

sábado, junho 30, 2007

Bath e Stonehenge

(A Magical Mistery Tour continua.)
Saio de Londres um pouco e vou para Bath, via trem. Cidade ligada à ocupação romana, com mais de 2.000 anos de história. Era um famoso balneário, freqüentado pelos patrícios. Visito as termas, construídas acima de uma fonte de águas cálidas, e de gosto muito ruim, como pode provar.

Bem perto estava a Abadia de Bath. Mas o lugar verdadeiramente de interesse era a Crescent Mile, rua dos ricaços, com casas vizinhas formando uma meia-lua. Porsches, Audis e BMW´s estavam estacionados no meio-fio.


Ali perto, um típico jardim inglês:

Visitei também a Pulteney Bridge, num estilo que lembrou Veneza:


Após o almoço embarco numa excursão de van para Stonehenge, o círculo de pedras pré-histórico. Uma hora de viagem para ir, uma hora lá e outra para voltar.Entrada cara, e não havia muito o que ver. Dá impressão de ser armadilha para turistas, mas não se pode esquecer que aquelas pedras tem mais de cinco mil anos, e que até hoje ninguém sabe para que elas serviam. Talvez para a "ritual dance in the sun", da canção Mind Games, do John Lennon.

Aqui fica o registro de minhas lentes, para a posteridade:

Na volta, uma dupla de italianos perdidos volta com nossa excursão, e posso demonstrar meu conhecimento de palavrões na língua de Dante. Porco Dio!

No próximo capítulo, o castelo de Windsor e Oxford.

quarta-feira, junho 27, 2007

Londres - Parte 2 - Na City

Outro dia lá. A estação de metrô lotada pela manhã faz com que eu tenha que pegar um dos famosos ônibus de dois andares. Desço na City londrina, um dos centros financeiros mundiais. Por ser fim de semana, não há aquela agitação. Gostaria de ter visto a correria, mas nem sempre se pode ser Deus.
Os sinos da Catedral de St. Paul (nosso São Paulo) dobravam, convocando os fiéis à missa.

Esse templo quase foi destruída na blitz, o bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial, evento que é uma das obsessões londrinas. Finge ser um fiel (Londres vale uma missa!) e entrei na igreja. O acesso estava vedado a turistas. Missa em inglês é chique. Oh Lord...
O passeio continua, e vou até a Tate Modern, do outro lado do Tâmisa. Não adianta, não gosto de arte moderna. Um monte de rabiscos aleatórios numa tela, e temos um novo milonário. Mande eles pintarem um retrato de alguém que pareça humano no final... Vi uma obra do festejado Pollock, até eu faria aquilo.

Próxima parada, a Torre de Londres, palco de decapitações, raptos, torturas e muito sangue. Ana Bolena perdeu a cabeça por lá. Um complexo antigo, erguido pelo próprio fundador da Inglaterra, Guilherme, o Conquistador. É o lar das Jóias da Coroa, valiossíma coleção de brilhantes.
Um visual da Torre Branca, dentro do complexo:


Perto dali, a famosa Tower Bridge, cartão postal londrino:

Passei o resto do dia mais sossegado, sem tirar mais fotos.

Ainda falarei mais de Londres, mas no dia seguinte eu fui para Bath, e visitei Stonehenge, o que narrarei em breve.

domingo, junho 24, 2007

Londres - Parte 1 - Às margens do Tâmisa

Esse é o livro do Genesis da minha viagem.
Após desembarcar nas Ilhas Britânicas e me desvencilhar da inquisitiva Alfândega, livro-me das malas no hotel e ganho as ruas londrinas, sem maiores delongas. Mesma roupa do embarque no dia anterior, sigo direto para o Tâmisa. Eis o famoso rio:

Caminho a esmo, encantado com as coisas típicas de Londres. As cabines telefônicas, os ônibus de dois andares, os penteados punks. Quando percebo, passo Trafalgar Square e estou na Picadilly Circus, a famosa praça, diante dos cavalos rampantes.

Iluminação de neon e muita gente circulando. Os teatros anunciam um musical mais fantástico que o outro. Um deles é sobre o grupo de rock Queen. Freddie Mercury domina a cena:



Volto ao hotel e como meu primeiro fish and chips
No dia seguinte estou de volta ao Tâmisa, desta vez para embarcar na London Eye, a roda-gigante. Vista fantástica do Parlamento e do Big Ben.

Ao sair da roda, mais da atividade típica do turista, o flanar inconseqüente. Vou até o Parlamento, fechado no sábado, e visito a vizinha Abadia de Westminster, morada final dos reis ingleses. Acho o ingresso muito caro, dez libras, e incorporo hábitos escoceses aos meus costumes. Vendo minha entrada a um casal sueco. Almoço grátis...
Passo o resto da tarde na National Gallery, na Trafalgar Square. Admiro algumas das mais importantes pinturas da história da arte. Haja espaço para mencionar algumas. Fico apenas na Vênus no Espelho, de Velázquez. Vou até Covent Garden, o bairro boêmio. Gente dia e noite, e Chinatown logo ali.

Na praça acima, alguns dias depois, assistiria a uma fantástica apresentação de uma banda de reggae.
Passo ainda pelo pub mais antigo de Londres, o Lamb & Flag:


No dia seguinte haveria mais Londres. Não percam a narrativa.

sexta-feira, junho 22, 2007

Breve nota, a pedidos, sobre a invasão da reitoria da USP

Fiquei meio quieto sobre esse assunto. Mas acho que, na qualidade de ex-aluno da USP, tenho algo a dizer.
A solução para a invasão era simples. Cortar água e luz do prédio e cercá-lo (ningúem entra, só sai). Tão logo conseguida a reintegração de posse, promover a retomada o mais pacífica possível, com uma tropa preparada para carregar qualquer recalcitrante (que estão doidos para apanhar), sem pancadaria desnecessária e as inúteis "bombas de efeito moral". Parte desse solução foi sugestão do Mauro Chaves, na sua coluna no Estadão, há algum tempo atrás.
Mas essa era a solução imediata, para tão logo foi anunciada a invasão. A necessidade de um mandado de reintegração judicial também é discutível, pois o Código Civil permite o desforço imediato, o que permitiria a intervenção do poder público no primeiro sinal de invasão.
Se pancadaria houvesse por parte dos invasores ela já seria notícia de dois meses atrás, e eles estariam sujeitos à expulsão dos cursos e indiciamento pelos crimes cometidos (ainda estão, mas nem todos serão pegos).
Agora, que a invasão se arrasta, o risco de um confronto não está afastado, e a inquietação dos rebeldes sem causa se alastra por outras universidades, tudo demonstra que a paciência foi excessiva e que o governo só perdeu com sua opção errada.
O Estado demonstrou fraqueza. Um péssimo exemplo para o ente coletivo que, nós, o povo, esperamos que tenha o monopólio da força. Que lição para os infratores da lei, presos ou soltos, que estão por aí.
A "solução" querida pelo governo de São Paulo foi digna de Pedro. O Grande, czar da Rússia? Pedro, o primeiro papa?
Não. Está mais para Pedro, o Banana, nosso segundo imperador. Ou talvez aquele, o Pedrinho, na casa em que todos querem usar o troninho. Quanta pu-si-la-ni-mi-da-de...

quinta-feira, junho 21, 2007

Apetite pantagruélico

Sob o título acima foi publicada carta no Estadão de hoje, de minha autoria. Era parte do post "Aritmética de vacas e bois", que lancei terça passada no blog. Eles alteraram o número de vacas de que Pantagruel se servia para 4.600, mas tudo bem. Fez o apetite petista parecer maior ainda.

quarta-feira, junho 20, 2007

A Patrulha Eco-Futuro

(Conto)

Após o almoço no refeitório da empresa, um homem entra no banheiro e escolhe um reservado. Faz suas necessidades mais fecundas, com um tanto de esforço, e sai. Ele é um tanto gordinho, de meia-idade.
Vai à pia. A água escorre pela torneira. Lava as mãos, enchendo-as de sabonete, e as enxágua. Esfrega água no rosto e nos poucos cabelos, com força. Apanha uma maçaroca de papel e procura se secar. Fecha a torneira. Sai do banheiro. Tem um pressentimento ruim.
Está indo de volta à sua sala quando sente um tapinha nas costas. É um homem jovem, mais baixo e magro. Está todo de verde e vermelho, usa um quepe. Lembra um jóquei de cavalos. Tem um sorriso de gerente, impessoal, e diz:
- Bom dia senhor. Sou da Patrulha Eco-Futuro.
- Ah, sim. – Estou frito. – pensou. Não hoje. O jovem continuou:
- Pude ver que o senhor almoçou no refeitório. A sua refeição foi arroz, feijão, três pedaços de bife bovino, ovos, fritas, tudo pesando 575 g, e tomou uma garrafa de Coca-Cola de 600 ml, correto?
- Sim?
- Bom, o senhor sabe que as plantações de arroz, feijão e batata ocupam o espaço que deveria ser dos animais silvestres. Logo, vou ter que aplicar uma multa pelo consumo de produtos agrícolas.
- Correto. – Disse sem convicção.
- E o senhor ingeriu 210 g de carne bovina. O senhor está ciente que os animais consomem toneladas de vegetais para fornecer os bifes, além do consumo de água. São muitos litros de água para cada quilo de carne produzida. Você vai ter que pagar uma multa por isso também.
- Bom, os animais bebem água. Eles urinam e suam, a água não fica retida neles. – Tentou argumentar.
- O senhor tem um ponto aí. Mas e as toneladas de vegetais, que ocupam espaço que deveria ser das árvores que reduzem o efeito estufa? E dos animais silvestres. Fora a flatulência dos bichos, que liberam metano e ajudam a aquecer a atmosfera. A multa é inevitável. Um adicional pelos ovos, também.
O homem suava em bicas. O patrulheiro continuou:
- E a Coca-Cola? São quatro litros de água para produzir um litro de Coca. O senhor tem que pagar a taxa pelos 2,4l desperdiçados (foi uma garrafa de 600 ml).
Uma pausa. Prosseguiu:
- O senhor em seguida foi ao troninho e evacuou. A vossa própria flatulência causa também o aquecimento global. Há de se comprar um selo verde antes de usar o banheiro, o que cobre também os custos do esgoto e da despoluição. E o senhor deixou a torneira aberta por cinco minutos e nove segundos. Há uma punição por cada segundo adicional aos três primeiros. Foram 306 segundos! Muito grave. O senhor usou também papel ao se exnxugar. Multa para você e para a empresa.
O patrulheiro pega um talão eletrônico. Calcula a multa e o preço dos selos verdes e os mostra no visor para o aturdido infrator. Acrescenta:
- Pagamento imediato, viu
Ele sua. Pega a carteira no bolso de trás, resignado. Passa o cartão ao patrulheiro, que desconta créditos suficientes pelas infrações.
O homem está indo embora, arrastando os passos, quando ouve:
- Ah, notei ainda que o senhor tem 89 kg de massa, para uma altura de 1,76m. Isso é sobrepeso, não pode. Faz com que os transportes públicos tenham que gastar mais combustível para transportá-lo.
- Isso dá multa?
- Ah não. Só estou lembrando o senhor. A passagem dos coletivos já leva em conta essa diferença. Tenha um bom dia.
O homem fica no corredor, aturdido, olhando para o patrulheiro que se afasta a passos ligeiros. Fica em dúvida sobre o que iria almoçar amanhã.

terça-feira, junho 19, 2007

Aritmética de vacas e bois

Sobre vacas:

1-) Alguns fatos. O governo federal possui 22.189 cargos de confiança, ditos comissionados. O PT está muito envididado. Os seus filiados tem que pagar dízimo por qualquer cargo público ocupado, seja concursado ou comissionado. Logo, parece que a melhor maneira de obter dinheiro é ocupar mais e mais postos na máquina pública, com o apetite de Pantagruel, o menino gigante criado por Rabelais, e que era amamentado com o leite de 17.913 vacas.
Ooops, parece que os petistas já ultrapassarem o infante Pantagruel, que se servia de menos tetas. Quantas tetas tem a vaca brasileira?
A isso, o deputado petista Maurício Rands chama "induzir o desenvolvimento da economia". De quem, cara pálida, do PT e seus papagaios? Acendam vela para Santa Edwiges e nos deixem em paz!

Sobre bois:

2-) Renan Calheiros, presidente do senado (assim mesmo, em minúscula) e criador de gado, afirma ser uma espécie de George Soros do mundo frigorífico, que consegue obter 60% de rentabilidade de cada uma de suas reses vendidas. Um representante da CNA (Confederação Nacional de Agricultura) quase caiu na gargalhada em pleno Jornal Nacional, agora há pouco, ao ser indagado pelo repórter por esses índices de aproveitamento milagrosos (na vida real, o número é por volta de 15%; no Nordeste é menor ainda). Quanto mais se mexe na titica dos bois, mais fedida a coisa fica...

segunda-feira, junho 18, 2007

Deslumbramento

O nosso presidente proclama que o Brasil era auto-suficiente em petróleo, e não era nada disso. Diz algo como a economia estar no melhor momento desde a proclamação da República. Reclama dos brasileiros, que vivem falando mal do próprio país, e da imprensa, que só mostraria desgraças. Toma para si feitos que não são seus e empurra para outros o que é sua culpa. Cerca-se de gente da pior espécie e nunca tem responsabilidade pelas nomeações. Detesta o cotidiano enfadonho dos gabinetes e despachos e adora estar na rua, viajando, discursando, etc. Bom, ainda bem, vai que ele ficasse trabalhando e tendo idéias mirabolantes, seria pior, dado o seu absoluto despreparo em administração, contabilidade, direito e economia.
Triste deslumbramento. Reclama dos poucos que ainda tem massa crítica e paciência para apontar o dedo para o que está errado. Queria que ficássemos com cara de paisagem e achando tudo perfeito, como ele faz?
Meu senhor, desça do Aerolula e visite Cumbicas ou Congonhas. Tente pegar um avião como qualquer mortal, e veja o que é se sentir avacalhado por aquela senhora ministra e aquele que está apenas na defesa da própria incompetência. Dirija um carro pela Fernão Dias e tente sair vivo da experiência. Vá para as imediações do Complexo do Alemão e desvie de balas perdidas. Depois o senhor diz se o Brasil é igual à Suiça.
Cadê o raio dos cara-pintadas? Ah é, estão ocupados invadindo a USP.

domingo, junho 17, 2007

York, York

Solidário com os leitores, que não devem estar muito dispostos a esquentar a cabeça no domingo, e comigo próprio, meio indisposto (!) a comentar os fatos que ocupam o noticiário brazuca, disponibilizo uma série de fotos de York, cidade do norte inglês que visitei naquela minha viagem da qual ninguém mais aguenta ouvir falar (meus conhecidos fogem ao me ver chegar com o álbum embaixo do braço).
York já foi habitada por vikings e estava no meio da confusão entre ingleses e escoceses, há muito tempo atrás. Muita briga. Razão das antigas muralhas preservadas que cercam seu centro histórico:
A Clifford Tower, torreão medieval e isolado:

Um ângulo da York Minster (maior catedral gótica ao norte dos Alpes, segundo o guia):
E seus vitrais (confesso que não paguei para entrar lá, isto é obra de um paparazzo amador):

Uma foto do interior do National Railway Museum, maior exposição sobre ferrovias do mundo (pelo menos é o que diz o guia):

Por ora é só. Para quem ainda tiver paciência, ainda mostrarei aqui fotos de Londres, Bélgica e da Holanda.

quinta-feira, junho 14, 2007

Goya

"O sono da razão produz monstros"
Essa frase tem o mesmo impacto de "Saturno devorando seus filhos", ou "Os fuzilamentos de 3 de maio", não?

sexta-feira, junho 08, 2007

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa

terça-feira, junho 05, 2007

Escócia - Parte 3 (final)

Último dia de Escócia. Acordo sabendo que teria uma verdadeira maratona pela frente. O plano era conhecer antes do sol se por o Loch Ness e as montanhas Caingorn, pontos de relativa distância um do outro.
Pego um ônibus de linha para ir ao Loch Ness. Da janela já se podia ver o lago se estendendo por grande extensão, água muito azul, nem sinal do famoso monstro. Desço nas imediações das ruínas do Castelo Urquhart, destruído pelos governantes escoceses no fim de século XVII a fim de impedir que ele caísse nas mãos dos rebeldes jacobitas. Aqui:

Não achei necessário entrar no castelo, já que tinha uma boa visão dele de uma colina. O Loch Ness ao fundo era sua moldura. E nada do monstro. Após um tempo de contemplação, caminho em direção à vila mais próxima, por três quilômetros, e aprecio a paisagem rural escocesa. Após um quilometro o lago sumiu de vista, e ele não era visível da vila, lotada de lojas de suvenires. Vejo enfim o monstro na forma de bichos de pelúcia.
Pego o ônibus de volta a Inverness e sem perda de tempo embarco no trem para Aviemore, cidade mais próxima da estação de esqui da montanha Caingorn, que eu pretendia visitar. Horas de deslocamento e outro ônibus mais tarde, e estou em seu sopé. Embarco no trem funicular rumo ao topo da montanha, a sexta mais alta do Reino Unido, mas nem assim tão alta, meros 1.200 m.

Já no topo, uma decepção. Verdadeiro pico da neblina, que não deixava ver nada, e bem menor que o nosso. Sequer havia neve, que caia em flocos mais parecidos com chuva. A promessa era uma visão de até 150 km das outras montanhas elevadas. Valeu a tentativa, estive lá.
Caingorns é também o nome para um parque nacional que parece impressionante e gigantesco, mas que não pude visitar.
Consigo uma carona com um adorável casal britânico e volto a tempo de pegar um trem mais cedo para Inverness. Devo me recompor, pois no dia seguinte iria para York, na Inglaterra, e que é uma outra história. Tomo enfim um uísque, chamada de “água da vida” pelos locais, em homenagem a tudo. Da Escócia ficou a lembrança de visões fantásticas da natureza, de uma cidade agitada e repleta de arte como Edimburgo, de vilas pitorescas, de um povo animado, e de muita chuva. E do meu sobrenome honorário, Macleod. Só pode haver um...


domingo, junho 03, 2007

Escócia - Parte 2

Cenas do capítulo anterior: O editor deste blog conhece Edimburgo, seu castelo, e as vielas da Royal Mile.

Na segunda embarco numa excursão, ciceroneada por um guia clone do Sean Connery (com sotaque e kilt) que passaria pelo Loch Lomond, um belo lago, mas que para a maioria não é tão famoso quanto seu primo mais ao norte, o Ness. Um passeio de barco pelo Lomond por fim permite que eu veja a tão aguardada natureza da Escócia, com árvores impressionantes nas margens e uma massa de água selvagem se chocando contra o casco de nossa embarcação.
A chuva começa a atrapalhar o passeio. Logo me conformo com a informação de um porta-copo no pub de que na Escócia chove 312 dias por ano. Brilliant, como eles dizem.
Próximo ponto da excursão é a cidade de Stirling. Lá é cultuada a figura de Robert Bruce e William Wallace, retratados no filme Coração Valente, de Mel Gibson. Visitamos o castelo, menor que o de Edimburgo, mas também precioso e imponente. Uma estátua de Robert Bruce, que assumiu o trono da Escócia após derrotar os ingleses vigia a entrada do castelo, e à distância, além dos campos, fica o monumento a William Wallace, rebelde contemporâneo de Bruce, e morto em Londres.
Este é Robert Bruce, o 17º de sua linhagem, pelo que disseram no Coração Valente:
Terça, de novo em Edimburgo, tenho mais uma manhã para explorar a cidade. Aproveito para visitar os acervos de arte e cultura locais. Vou ao Museu Nacional da Escócia (National Museum of Scotland), com interessantes exposições de cunho científico e homenagens às pessoas que fizeram a glória do país. Um segredo bem guardado é o terraço panorâmico, de onde se avistam os telhados de Edimburgo e as agulhas das igrejas.
Essencial é a visita à Galeria Nacional da Escócia (National Gallery of Scotland), especializada em pinturas, e que guarda obras de Ticiano, Poussin e Velásquez.
No fim do dia, outro trem, desta vez para Inverness, cidade mais ao norte, e que usaria de base para explorar as Highlands. Chego e hospedo-me num simpático Bed and Breakfast, chamado Alban House, espécie de hotel em que uma família aluga quartos para os visitantes.
Outro dia. Sigo a sugestão que um guia me deu ainda em Londres, caso eu quisesse mesmo ver belas paisagens e pego o trem para Kyle of Lochalsh, à oeste.
A dica não fora em vão. Pela janela do trem, nas duas horas e meia do trajeto, é como se eu estivesse assistindo ao mais perfeito documentário sobre as Terras Altas jamais visto. Ao vivo. Montes, lagos e rios se descortinam diante de meus olhos a todo o tempo. Água não parece faltar para os escoceses, pois esta serpenteia de todas as formas pelos diversos vales. Neve derretida escorre de uma montanha. As águas abrigam o reflexo distorcido dos montes, morros e árvores, como na pintura “Cisnes refletindo elefantes” de Salvador Dalí. Vida imita a Arte. Vejam:
Modéstia à parte, muito boas, não?

Chego à pequena vila de Kyle, cidade de pescadores e marinheiros que parece saída do filme Popeye, de Robert Altman. Habitantes vestidos de capas de chuva e gorros. De lá sai uma ponte que vai até a mística ilha de Skye. Arrisco a ida, sob pena de perder o trem de volta para Inverness. Pego um ônibus, já sabendo que ficaria poucas horas na ilha. Chego tão somente até ao vilarejo de Bradford, sem avançar muito para o interior.
Apesar de ver pouco da ilha, percebi que Skye é realmente um lugar mágico. Consegui fazer boas caminhadas. Uma trilha à beira do oceano, escoltado por aves marinhas, e uma em meio à floresta, onde árvores derrubadas pelo vento parecem ter sido arrancadas pelas mãos de um gigante furioso. Uma montanha, ao fundo, dominava a paisagem da ilha:


Placas em inglês e gaélico indicavam as direções:


Mas, parafraseando Manuel Bandeira, o passeio foi o que poderia ter sido e não foi. Pego um folheto de anúncio do Castelo Dunvegan, sede do clã Macleod. O sorridente chefe do clã, um tiozinho de cabelo branco e saia, o 29º desde a fundação da linhagem, há 850 anos, convida os visitantes de Skye a irem até as terras do castelo. Fico triste, pois é longe, no interior da ilha. Mais tardes, pesquisas pós-viagem me diriam que o chefe atual do clã já é outro, o 30º, um jovem. Rei morto, rei posto...
Deixo Skye, de volta à Kyle, com a Escócia na alma. Penso em mudar meu nome para Macleod, que aliás é o sobrenome do personagem de Cristopher Lambert no filme “Highlander, o guerreiro imortal”. Seu lema: “Só pode haver um”. Alguns escoceses são mesmo duros de matar, com seus clãs sobrevivendo por séculos à fome e à guerra, e estão aí até hoje para contar a história.
Voltando para Inverness, tenho outras duas horas e meia de Terras Altas pela janela do trem. Brilliant.

No terceiro e último episódio, nosso herói busca o monstro do Lago Ness, vê um castelo derrubado, e sobe uma montanha, tudo num só dia.

sexta-feira, junho 01, 2007

Novidades culturais na Av. Paulista

1-) Se vocês não foram, corram já para o Conjunto Nacional e visitem a nova Livraria Cultura. Ficou gigante. Há uma seção separada só para música clássica e instrumental. Trombei com vários conhecidos lá. Sobre ela, leiam a coluna do Ignácio de Loyola Brandão no Caderno 2 do Estadão de hoje (Só São Paulo faria uma livraria assim).

2-) No prédio do Citibank há uma exposição bacana com obras de Romero Britto, um brasileiro cuja arte o levou a rodar o mundo. Confiram uma amostra: