Lei Seca

Um espaço para discutir as grandes questões. Editor-chefe: Luiz Augusto

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Advogado, vive em São Paulo

domingo, junho 03, 2007

Escócia - Parte 2

Cenas do capítulo anterior: O editor deste blog conhece Edimburgo, seu castelo, e as vielas da Royal Mile.

Na segunda embarco numa excursão, ciceroneada por um guia clone do Sean Connery (com sotaque e kilt) que passaria pelo Loch Lomond, um belo lago, mas que para a maioria não é tão famoso quanto seu primo mais ao norte, o Ness. Um passeio de barco pelo Lomond por fim permite que eu veja a tão aguardada natureza da Escócia, com árvores impressionantes nas margens e uma massa de água selvagem se chocando contra o casco de nossa embarcação.
A chuva começa a atrapalhar o passeio. Logo me conformo com a informação de um porta-copo no pub de que na Escócia chove 312 dias por ano. Brilliant, como eles dizem.
Próximo ponto da excursão é a cidade de Stirling. Lá é cultuada a figura de Robert Bruce e William Wallace, retratados no filme Coração Valente, de Mel Gibson. Visitamos o castelo, menor que o de Edimburgo, mas também precioso e imponente. Uma estátua de Robert Bruce, que assumiu o trono da Escócia após derrotar os ingleses vigia a entrada do castelo, e à distância, além dos campos, fica o monumento a William Wallace, rebelde contemporâneo de Bruce, e morto em Londres.
Este é Robert Bruce, o 17º de sua linhagem, pelo que disseram no Coração Valente:
Terça, de novo em Edimburgo, tenho mais uma manhã para explorar a cidade. Aproveito para visitar os acervos de arte e cultura locais. Vou ao Museu Nacional da Escócia (National Museum of Scotland), com interessantes exposições de cunho científico e homenagens às pessoas que fizeram a glória do país. Um segredo bem guardado é o terraço panorâmico, de onde se avistam os telhados de Edimburgo e as agulhas das igrejas.
Essencial é a visita à Galeria Nacional da Escócia (National Gallery of Scotland), especializada em pinturas, e que guarda obras de Ticiano, Poussin e Velásquez.
No fim do dia, outro trem, desta vez para Inverness, cidade mais ao norte, e que usaria de base para explorar as Highlands. Chego e hospedo-me num simpático Bed and Breakfast, chamado Alban House, espécie de hotel em que uma família aluga quartos para os visitantes.
Outro dia. Sigo a sugestão que um guia me deu ainda em Londres, caso eu quisesse mesmo ver belas paisagens e pego o trem para Kyle of Lochalsh, à oeste.
A dica não fora em vão. Pela janela do trem, nas duas horas e meia do trajeto, é como se eu estivesse assistindo ao mais perfeito documentário sobre as Terras Altas jamais visto. Ao vivo. Montes, lagos e rios se descortinam diante de meus olhos a todo o tempo. Água não parece faltar para os escoceses, pois esta serpenteia de todas as formas pelos diversos vales. Neve derretida escorre de uma montanha. As águas abrigam o reflexo distorcido dos montes, morros e árvores, como na pintura “Cisnes refletindo elefantes” de Salvador Dalí. Vida imita a Arte. Vejam:
Modéstia à parte, muito boas, não?

Chego à pequena vila de Kyle, cidade de pescadores e marinheiros que parece saída do filme Popeye, de Robert Altman. Habitantes vestidos de capas de chuva e gorros. De lá sai uma ponte que vai até a mística ilha de Skye. Arrisco a ida, sob pena de perder o trem de volta para Inverness. Pego um ônibus, já sabendo que ficaria poucas horas na ilha. Chego tão somente até ao vilarejo de Bradford, sem avançar muito para o interior.
Apesar de ver pouco da ilha, percebi que Skye é realmente um lugar mágico. Consegui fazer boas caminhadas. Uma trilha à beira do oceano, escoltado por aves marinhas, e uma em meio à floresta, onde árvores derrubadas pelo vento parecem ter sido arrancadas pelas mãos de um gigante furioso. Uma montanha, ao fundo, dominava a paisagem da ilha:


Placas em inglês e gaélico indicavam as direções:


Mas, parafraseando Manuel Bandeira, o passeio foi o que poderia ter sido e não foi. Pego um folheto de anúncio do Castelo Dunvegan, sede do clã Macleod. O sorridente chefe do clã, um tiozinho de cabelo branco e saia, o 29º desde a fundação da linhagem, há 850 anos, convida os visitantes de Skye a irem até as terras do castelo. Fico triste, pois é longe, no interior da ilha. Mais tardes, pesquisas pós-viagem me diriam que o chefe atual do clã já é outro, o 30º, um jovem. Rei morto, rei posto...
Deixo Skye, de volta à Kyle, com a Escócia na alma. Penso em mudar meu nome para Macleod, que aliás é o sobrenome do personagem de Cristopher Lambert no filme “Highlander, o guerreiro imortal”. Seu lema: “Só pode haver um”. Alguns escoceses são mesmo duros de matar, com seus clãs sobrevivendo por séculos à fome e à guerra, e estão aí até hoje para contar a história.
Voltando para Inverness, tenho outras duas horas e meia de Terras Altas pela janela do trem. Brilliant.

No terceiro e último episódio, nosso herói busca o monstro do Lago Ness, vê um castelo derrubado, e sobe uma montanha, tudo num só dia.