Lei Seca

Um espaço para discutir as grandes questões. Editor-chefe: Luiz Augusto

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Advogado, vive em São Paulo

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Moça fortinha

Essa eu tirei com o celular. Que belezinha, não?

terça-feira, janeiro 15, 2008

Eu Poético

Estou deitado no meu quarto em Santos, folheando as páginas de um livro. Ouço batidas na porta, é minha mãe.
- Oi Guto, está ocupado?
- Não. Pode entrar (largo o livro).
Ela tem a expressão preocupada, senta na poltrona.
- Filho, tenho me angustiado. São essas coisas que você escreve, nesse seu site... Está tudo bem?
- Claro que sim.
- Eu acho que você não está. Li outro dia um texto, o Hotel em Amsterdão.
- É “O Hóspede em Ams-ter-dam” – respondo, com o nome do texto correto, e uma pronúncia melhor – O que é que tem?
- Você está contando da sua viagem para a Holanda ali.
- Não estou não.
- Está sim.
- Não estou não.
- Não responde que é feio. É você! O papo sobre terminar com a namorada, o que acabou mesmo acontecendo na volta. E aquela parte sobre cair da janela, se afogar no canal, sobre beber sozinho no quarto do hotel? Você fez tudo isso lá?
- Claro que não. Aquilo é ficção. Aliás, eu seria um fenômeno se tivesse caído de uma janela, me afogado num canal e estivesse aqui falando com você.
- Você tem usado drogas?
- O quê?
- Na Holanda é todo mundo louco, e a maconha é liberada. Você fumou?
- Não! Por quê? Isso está escrito lá?
- Não, mas fiquei pensando, desde que li aquilo. Tem ainda aquele outro texto, o Oitavo Passo. Sobre o rapaz que quer parar de beber e vai conversar com as ex-namoradas. Nele você fala que andou bebendo, largou a garrafa, e foi falar com a namorada em Guarulhos. Bom, você nunca teve namorada em Guarulhos. Mas teve em Osasco, você estava falando de Osasco.
- Não estava.
- Estava.
- Não estava.
- Estava. Era aquela moça, qual o nome dela?
- Deixa para lá. Mãe, você está confundindo as coisas. Nunca leu Fernando Pessoa? “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente”.
- E desde quando você é poeta? Ou tem capacidade de inventar essas coisas todas? Aquilo é você. Meu filho, eu entendi que você está sofrendo. Mas ao invés de nos contar, fica ali se expondo, que vergonha. Contando sua vida para todos. Ah, os vizinhos, a família...
- Chega! Aquilo não sou eu. É meu Eu Poético.
- Seu o quê?
- Eu Poético. Ou Eu Lírico. É quando o escritor ou poeta expressa sentimentos que não tem. Eu disfarço o que sinto. Eu posso escrever uma história com meu nome, Luiz Augusto, mas não quer dizer que seja eu mesmo. Posso escrever um poema de amor sem amar ninguém. Posso ficar furioso com alguém, dizer que vou matá-la, mas isso não é a sério. Você acha que o Seinfeld, do seriado que leva o nome dele, é daquele jeito na vida real?
- Olha filho, só sei que estou muito preocupada. Essa conversa ainda não acabou. Eu vou ficar de olho.
Ela sai do quarto, batendo a porta. Apanho de novo o livro que eu lia, Admirável Mundo Novo, do Aldous Huxley. O trecho dizia: “Lá em cima, no quarto, o Selvagem lia Romeu e Julieta”.
Suspiro:
- Ninguém compreende um artista.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Elvis Presley, Corinthians e a Teoria do Caos

Segundo um exemplo clássico da Teoria do Caos, o bater das asas de uma borboleta na China cria tempestades em Nova York. Ora, essa Teoria pode justificar qualquer coisa. Uma decepção amorosa, a erupção de um vulcão, um acidente de carro. Tudo pode ser obra do acaso e de uma série de variáveis que influem umas nas outras, gerando resultados imprevisíveis.
Mas, após rigorosos estudos, pude concluir que até resultados esportivos podem ser influenciados por eventos que a princípio parecem não tem nada a ver. Mas o caos explica. E a conclusão (bombástica) à qual cheguei, é a seguinte: enquanto o Rei do Rock Elvis Presley cantou, de 1.954 a 1.977, o Sport Club Corinthians, time de futebol paulista, não foi campeão.
Senão, me acompanhem. O Corinthians foi campeão paulista em 1.954. Depois, ficaria ao sereno, até 1.977, sem títulos. O que acontecia? Por que o Timão não ganhava mais? Por que teriam os corintianos que amargar as gozações dos palmeirenses por tanto tempo?
A explicação estava bem longe dali. Em 5 de julho de 1.954 um rapaz de 19 anos entrava com seu violão num estúdio da Sun Records em Memphis, Tennessee , EUA. Segundo o que se diz por aí, ele queria gravar um disco de presente para a sua mãe. Mas um produtor esperto o descobriu, e o resto é história.
Esse jovem no estúdio era Elvis Presley, e aquela data é para muitos o começo de sua carreira profissional e o marco zero do Rock, ritmo do qual ele seria sagrado Rei. Ele seguiu em frente, rumo ao mega-estrelato. Soltou seu vozeirão. Requebrou seus quadris. Deixou as mulheres loucas e os homens com inveja. Criou um ritmo e ditou estilos. Fez filmes. Entrou e saiu do Exército. Usou drogas. Tornou-se uma lenda em Las Vegas. Atirou em televisões. Habitou a mansão de Graceland, em sua querida Memphis. Até que um dia, em 16 de agosto de 1977, ele foi encontrado morto em sua casa.
Elvis podia até saber dos efeitos que causava na juventude mundial. Mas jamais soube que, a muitas milhas dali, um time de futebol brasileiro atravessou um grande túnel escuro por sua causa. Após erguer a taça de Campeão Paulista de 1.954, o Corinthians não ganhou nenhum campeonato, por muito tempo. O futebol é cruel. Ninguém lembra dos vices. “No time for losers”, como cantou Freddie Mercury, vocalista do Queen.
O Corinthians, nessa época, tentou de tudo. Troca de times, contratações, macumbas, novenas. Nada funcionava. Os “quase” foram se acumulando, como em 1.974, quando o glorioso Palmeiras (meu time) impediu que os gaviões pusessem suas garras sujas na taça do Campeonato Paulista, provocando choro e ranger de dentes na Fiel, que já esperava há duas décadas.
Só em 13 de outubro de 1.977, na gestão do folclórico Vicente Matheus, o Corinthians voltou a gritar “Campeão”. Foi em cima da Ponte Preta, num jogo bastante contestado, mas válido, com um gol de Basílio aos 36 minutos do segundo tempo.
Mas isso só aconteceu porque, quase dois meses antes, em 16 de agosto de 1.977, Elvis havia morrido. Nunca mais ele cantaria, para a felicidade corintiana. Como um distorcido galo Chantecler, que com seu canto fazia o sol se levantar (ou assim acreditava o galo), enquanto Elvis faturou dinheiro com sua música o Corinthians não ganhou títulos.
Só há um furo nessa história, e alguns, fanáticos por mesas-redondas futebolísticas, já devem ter percebido. Na verdade, o Campeonato Paulista de 1.954 foi decidido em 6 de fevereiro de 1.955, por uma dessas confusões típicas de calendário que os cartolas brasileiros costumam criar. Eu, devoto da Teoria do Caos, acho que isso foi feito apenas para melar a presente crônica, que seria escrita 53 anos depois.
Assim, o Corinthians ainda conseguiu ganhar um campeonato apesar de Elvis Presley. Mas a quase-coincidência de datas é muito interessante. A fila do Corinthians foi de 6 de fevereiro de 1955 a 13 de outubro de 1.977. A carreira profissional de Elvis Presley foi de 5 de julho de 1.954 a 16 de agosto de 1.977.
Bem, vamos acreditar que os poderes de Elvis não estavam plenamente desenvolvidos no começo de sua carreira. E quando atingiram seu auge, em 1.955, começaram a impedir que o Corinthians ganhasse qualquer coisa, até sua morte. É uma Teoria boa demais para ser descartada. Quando a lenda torna-se fato, publique-se a lenda. E, segundo a Teoria da Fila, enquanto Elvis Presley cantou o Corinthians não ganhou. E estamos conversados.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

O que nós podemos ensinar ao Prison Break

Resgato post meu de abril de 2007:

"O que Prison Break pode nos ensinar
Aparte todo o suposto estudo e parca fama intelectualóide que tenho, adoro um bom enlatado americano. Eles fazem a melhor TV da atualidade. Os seriados que me caem na mão, assisto, desprezando até últimos lançamentos de cinema. Lost, Roma, Sopranos, 24 Horas, vejo tudo.Um desses programas é Prison Break, focado em Michael Scofield, um genial engenheiro que se faz prender na prisão de Fox River (*) , que ajudou a projetar, para tentar libertar seu irmão do corredor da morte.Terminei a primeira temporada e estou esperando lançarem a segunda em DVD.Com um pouco de olhar crítico, aparte me divertir à beça com o programa, e exageros narrativos à parte, aprendi algumas lições sobre o "sistema" americano, e que não custaria a nós copiar:- Uma fuga de cadeia, nos EUA, é um evento tão raro, que vira até show de televisão. Se fosse banal ninguém iria querer ver. Eles levam essa afronta ao Estado tão a sério que tentar fugir, com ou sem violência, é crime punido pesadamente (aqui só é crime se houver violência, os bandidos aqui tem um jus fugendi (é isso?). E como o slogan do show diz, a fuga é só o começo. (Spoiler a seguir) Michael Scofield e seus companheiros de fuga são alvo de verdadeira caçada humana pelos policiais de Illinois, carcereiros, FBI, guardas de fronteira, Chuck Norris e Jack Bauer.Como é em Pindorama? Temos fuga todo dia. Cada uma é apenas mais uma. Ouvimos relatos de fuga mastigando pão de manhã e de noite, sem perder o sono. Para quem foge, fugiu, tá livre.- Nos EUA, a morte de um carcereiro ou policial é um ataque ao Estado, investigada e punida com rigor. Aqui, já morreram neste ano no Rio mais de 40 policiais. Nem na Chicago de Al Capone (um dos cenários da série) se matava tanto.- Na Gringolândia ter ou usar celular na cadeia é crime. Aqui não é nem falta grave na Lei de Execuções Penais.Enfim, se houvesse uma versão brasileira de Prison Break, ela não duraria muitas temporadas, como a série americana pretende. Aqui duraria uns dois episódios. No primeiro o bandido iria se preparar, subornando os guardas e comprando um celular. No segundo, sairia pelo portão da frente do xadrez."

De lá para cá nós não aprendemos nada, vide que as nossas prisões continuam infernais e pululando de celulares.
Mas vi que nós ensinamos algo aos norte-americanos. Vejo no site da Fox sobre o seriado (http://www.fox.com/prisonbreak/showinfo/) que, na terceira temporada, o personagem principal, Michael Scofield, está detido numa prisão no Panamá, Sona, livremente inspirada no nosso antigo Carandiru (leiam o terceiro parágrafo do texto maior). Sona é um presídio abandonado pelos próprios carcereiros, e na qual os presos dominam a situação, repleto de violência e até mesmo de travestis.
É isso aí, Brasil, fazendo escola e mostrando o que tem de melhor para o mundo...