Lei Seca

Um espaço para discutir as grandes questões. Editor-chefe: Luiz Augusto

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Advogado, vive em São Paulo

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Entrevista com o Extirpador-Geral da República

Consegui agendar uma entrevista exclusiva com um servidor público que não existe e que ocupa um cargo jamais criado, o Extirpador-Geral da República. Sua função é identificar todos os cargos e instituições que ele considere inúteis da República Federativa do Brasil e cortá-las do Orçamento. É trabalho inglório. Ressalvo já que todas as opiniões aqui contidas são de exclusiva responsabilidade do Extirpador-Geral (abreviado com a sigla EGR), já que o próprio entrevistador não descarta a possibilidade de ocupar uma dessas rentáveis sinecuras, antes que a tesoura enferrujada de parca do EGR acabe com a mamata. A entrevista:

LA: Boa tarde, senhor EGR
EGR: Boa tarde. Pode me chamar de Herges.
LA: Senhor Herges, qual será o primeiro corte?
EGR: O Senado. Inteiro.
LA: Por quê?
EGR: Ora, porque é uma piada existir outra Casa de Leis federais, sendo que já existe a Câmara dos Deputados.
LA: E a representação dos Estados, Dr. Herges, como fica?
EGR: Meu jovem, me responda sinceramente. Você acha que o Piauí é igual a São Paulo? Que o voto de um acreano vale o mesmo que, sei lá, dez fluminenses? Tenha dó (bate na mesa e bufa).
LA. Certo. E depois?
EGR: Corto de uma penada essas leis trabalhistas, da década de 1940, que já não protegem ninguém.
LA: E o que acontece?
EGR: Isso acaba com o emprego de um monte de juízes trabalhistas e de procuradores do Trabalho. Transformarei todos em Procuradores DE trabalho (risos nervosos). É o fim também dos sindicalistas e de seus sindicatos pelegos.
LA: E em seguida?
EGR: Acabo com o Superior Tribunal de Justiça
LA: Mas por que, seu Herges?
EGR: Por razões pessoais. Lá é um Tribunal que em tese serve para “unificar a legislação federal”, etc. Meu filho, advogado, mandou um recurso para lá e o mesmo não foi conhecido por “faltarem peças essenciais”, segundo as regras processuais, vê se pode...
LA: O que faltava?
EGR: Uma única procuração do advogado da parte contrária. Aí pensei com meus botões. Se essa Corte faz de tudo para não julgar um recurso, ela está negando justiça. Não precisaria existir. É uma estrutura cara apenas para recusar recursos das partes em litígio e chamar mais gente de ministro. E ainda tem uma sede cara, com projeto do Niemeyer (enfático).
LA: E qual seria a missão seguinte?
EGR: De uma canetada só acabo com todos aqueles cargos em comissão, onde se penduram parentes e correligionários para todos os gostos. Acabo todos os Tribunais de Conta, que não fiscalizam nada. Acabo com o Ministério da Igualdade Racial, que quer criar o racismo no país, e com os outros ministérios inúteis. Acabo com as exigências de reconhecimento de firma, autenticação de documentos e outros registros sem utilidade, o que mata todos os cartórios de notas (dá pulos na cadeira, eufórico).
LA: Parece que não vai sobrar nada, seu Herges. Qual a próxima medida?
EGR: Após deixar Brasília um verdadeiro deserto, sem trocadilho, só restará uma coisa a fazer. Demito todos os servidores do meu órgão. Assino minha própria demissão, apago as luzes do prédio, tranco tudo e entrego as chaves de volta ao Presidente da República.
LA: Sucesso em sua missão, senhor EGR. Obrigado pela entrevista
EGR: Eu é que agradeço.
Avisei desde o começo, até para me eximir de culpa ou dolo. Esse servidor não existe, é como o Saci ou a Mula-Sem-Cabeça. Dá para acreditar nesse papo de ele próprio se demitir? É um piadista, né? Mas tudo o que aqui foi dito pode ser a ele atribuído. Não venham me processar depois.