Acepipes, quitutes e baculejo
Certa feita fui convidado para uma festa-surpresa de aniversário. De outra pessoa. Se fosse minha não faria jus ao nome. Veio tarde. Já tinha idade suficiente para ter ido em várias, mas aquela foi a primeira.
Como funciona? Os convidados chegam cedo e, lógico, antes do aniversariante. Geralmente é organizada por um parente próximo que resida junto com o homenageado. No caso, era a esposa de um amigo meu a anfitriã. Fomos bem recebidos com vinho e com a chamada “finger food”, acepipes que podem ser comidos com os dedos. É até meio chato com o aniversariante, que perde parte da comida e da festa. O segredo está em fazer os alimentos durarem até a sua chegada, pelo menos.
E houve este risco. Nosso homenageado não chegava. É um workaholic, trabalha muito, e ficou ainda preso no trânsito. Mas, enfim, foi anunciada sua chegada. Ele está subindo, dizia o porteiro.
Apagam-se as luzes. Todos se escondem. Numa comédia ruim, todos pulariam de seus esconderijos quando a vítima entrasse, e esta teria um infarto ou síncope, gerando algumas risadas na platéia.
Nesta festa, ficamos apenas na expectativa. As velas foram acesas. A cera derretia no bolo, já nas mãos da dedicada esposa, e nada de seu marido chegar. Os números que formavam os anos de vida já estavam quase na lona quando este enfim entrou. Parabéns! Viva! Foi surpresa real para ele. Eu sempre achava que os homenageados sempre suspeitavam de algo.
Rolava a festa, que se transforma num evento normal após a chegada. Todo mundo relaxa, os momentos pré-chegada são muito tensos.
Conversava na varanda com o meu amigo quando deparo num outro evento na calçada, oito andares abaixo. Uma viatura de polícia, com estrépito, sobe a guia e intercepta um elemento na calçada, que pedalava uma bicicleta, fechando a passagem. Sua magrela cai no chão e ele é rendido, logo sendo levado pelos policiais a assumir a posição clássica de detenção. Pernas afastadas e mãos na parede. O que os populares chamam de “baculejo”.
A palavra me veio imediatamente à cabeça. Consulto o Aurélio. Entre a palavra bacul (bastão, caule) e baculífero (planta cuja haste pode servir de bastão ou bengala) não há nada, onde deveria estar baculejo, termo pelo qual o povo conhece a revista pessoal.
Pois bem, de volta ao baculejo em questão. Continuo de olho na cena. Meu amigo não parece muito interessado. Estranho essa indiferença. “Você está vendo isso?”
“Ah. É um malandro que roubava bicicletas aqui na área. A polícia já estava de olho nele”.
Parecia que ele falava de um ladrão de estimação da vizinhança. “Que danado. Levou outra bicicleta”...
Fim da linha para o bandido. De lá eu podia ver até o seu rosto e sua expressão preocupada. Aquele baculejo era apenas o começo de tudo, do fim, e isso devia passar pela sua cabeça. Se ele nunca tinha sido preso ele iria ver muitas coisas naquela mesma noite, e nos dias que viriam. Seria interrogado, talvez até com um pouco mais de ênfase. Conheceria uma carceragem lotada. Teria um susto com colegas de cela piores que ele. Sofreria violências. Seria transferido para um presídio. Faria uma viagem ao fórum e confrontaria um juiz. Condenado, ficaria um bom tempo vendo o sol nascer quadrado.
Do alto, alguns andares acima, eu provava quitutes diversos e tomava vinho. Nada naquela noite me prometia surpresa alguma. Nenhum baculejo estava vindo no meu caminho. Não perguntei por quem as sirenes dobravam, não eram por mim.
Como funciona? Os convidados chegam cedo e, lógico, antes do aniversariante. Geralmente é organizada por um parente próximo que resida junto com o homenageado. No caso, era a esposa de um amigo meu a anfitriã. Fomos bem recebidos com vinho e com a chamada “finger food”, acepipes que podem ser comidos com os dedos. É até meio chato com o aniversariante, que perde parte da comida e da festa. O segredo está em fazer os alimentos durarem até a sua chegada, pelo menos.
E houve este risco. Nosso homenageado não chegava. É um workaholic, trabalha muito, e ficou ainda preso no trânsito. Mas, enfim, foi anunciada sua chegada. Ele está subindo, dizia o porteiro.
Apagam-se as luzes. Todos se escondem. Numa comédia ruim, todos pulariam de seus esconderijos quando a vítima entrasse, e esta teria um infarto ou síncope, gerando algumas risadas na platéia.
Nesta festa, ficamos apenas na expectativa. As velas foram acesas. A cera derretia no bolo, já nas mãos da dedicada esposa, e nada de seu marido chegar. Os números que formavam os anos de vida já estavam quase na lona quando este enfim entrou. Parabéns! Viva! Foi surpresa real para ele. Eu sempre achava que os homenageados sempre suspeitavam de algo.
Rolava a festa, que se transforma num evento normal após a chegada. Todo mundo relaxa, os momentos pré-chegada são muito tensos.
Conversava na varanda com o meu amigo quando deparo num outro evento na calçada, oito andares abaixo. Uma viatura de polícia, com estrépito, sobe a guia e intercepta um elemento na calçada, que pedalava uma bicicleta, fechando a passagem. Sua magrela cai no chão e ele é rendido, logo sendo levado pelos policiais a assumir a posição clássica de detenção. Pernas afastadas e mãos na parede. O que os populares chamam de “baculejo”.
A palavra me veio imediatamente à cabeça. Consulto o Aurélio. Entre a palavra bacul (bastão, caule) e baculífero (planta cuja haste pode servir de bastão ou bengala) não há nada, onde deveria estar baculejo, termo pelo qual o povo conhece a revista pessoal.
Pois bem, de volta ao baculejo em questão. Continuo de olho na cena. Meu amigo não parece muito interessado. Estranho essa indiferença. “Você está vendo isso?”
“Ah. É um malandro que roubava bicicletas aqui na área. A polícia já estava de olho nele”.
Parecia que ele falava de um ladrão de estimação da vizinhança. “Que danado. Levou outra bicicleta”...
Fim da linha para o bandido. De lá eu podia ver até o seu rosto e sua expressão preocupada. Aquele baculejo era apenas o começo de tudo, do fim, e isso devia passar pela sua cabeça. Se ele nunca tinha sido preso ele iria ver muitas coisas naquela mesma noite, e nos dias que viriam. Seria interrogado, talvez até com um pouco mais de ênfase. Conheceria uma carceragem lotada. Teria um susto com colegas de cela piores que ele. Sofreria violências. Seria transferido para um presídio. Faria uma viagem ao fórum e confrontaria um juiz. Condenado, ficaria um bom tempo vendo o sol nascer quadrado.
Do alto, alguns andares acima, eu provava quitutes diversos e tomava vinho. Nada naquela noite me prometia surpresa alguma. Nenhum baculejo estava vindo no meu caminho. Não perguntei por quem as sirenes dobravam, não eram por mim.
2 Comments:
Bacana Gutão!! Nosso Delegado Reg. de Turismo adora tomar um baculejo ahahahahah Rafael campos
É, e ele ainda fala para o guarda que ele tem três horas para parar com aquela brincadeira gostosa...
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