Na rua Javari
Na soleira de casa o jornal anunciava: Juventus e Portuguesa se enfrentam pelo Paulista, na rua Javari. É hoje! Eu tinha que ir.
Não sou grande entusiasta de futebol. Alguém já disse que é como um filme que segue sempre o mesmo o roteiro. Mas ir em estádios é algo que me agrada. O contato com os populares é interessante. E sempre quis ir no estádio do Juventus. Homenagearia as minhas raízes italianas. Trata-se de um campo histórico do futebol brasileiro.
A ida ao campo envolvia um certo planejamento. É dia do rodízio de veículos na cidade de São Paulo, o que me deixava a pé. Iria até o metrô Bresser e depois andaria ou pegaria um táxi até o local da partida. Havia uma outra questão. Como sair do escritório para assistir um jogo por volta das quatro da tarde? Aí o rodízio me salvava, pois o dia em que fico sem carro das cinco às oito é o dia em que tenho que forçosamente sair mais cedo. Desculpa boa. Só teria que sair quinze minutos antes do normal. Compenso isso chegando uma hora mais cedo.
Mas quem poderia ir comigo, num dia de trabalho, ao jogo? Tento um amigo que tem uma agenda de trabalho mais flexível, mas nada dele atender o celular. Pena. Lá vou eu, só.
Um aniversário de colegas quase me impede de empreender a “fuga” do trabalho. Mas, destemido, vou. Após um curto trajeto de metrô, chego à Mooca, na Zona Leste paulistana. O tempo urge. Um táxi me deixa perto da Javari.
Perto do estádio torcedores dos dois times já se provocam. Camisas roxas do Juventus e as cores da Portuguesa se destacam aqui e ali. Churrasquinho e cerveja são servidos nos botecos.
Na porta do campo uma fila imensa desencoraja os atrasados. Muita gente já desiste. Bate-boca e confusão. A polícia tenta acalmar os ânimos. Parece o fim da linha para mim. Mas eis que sou abordado por um cambista amigo, que me vende o ingresso desejado com pouco ágio. Seria falso?
O ingresso é aceito. Adentro o estádio. Verdadeira várzea. Tudo lotado. Cabem pouco mais de três mil pessoas. É como um ginásio de esportes maior, mas aberto. Torcidas organizadas separadas (a tropa de choque impõe respeito). Sento atrás do gol do Juventus. Procuro evitar as câmeras, vai que meu chefe assiste a TV bem na hora...
Vou torcer para o Juventus, viva a italianada! Deixarei o meu Palmeiras por duas horas. Pequena chifrada sem maiores conseqüências.
O jogo rola no gramado ruim. O campo é muito, muito perto dos torcedores. Se eu cuspir, pega em alguém. Literalmente se pode sentir os choques dos jogadores. O movimento e a cantoria das pessoas me distrai, e eu mal vejo o primeiro gol do Juventus, lá do outro lado, marcado por Lima. Apoteose. O lado juventino vibra, e os portugas choram. O Moleque Travesso faz mais uma das suas, sempre subestimando os incautos.
Que belo time, que belo esquadrão! Juventus amigo, do meu coração!
Colo o olho no jogo, e logo sai o segundo gol, de Marcus Vinicius. Tudo vira carnaval. Mas logo vem um atacante da Portuguesa e desconta, bem nas minhas fuças.
Acaba o primeiro tempo. Resolvo pegar um lugar melhor, nas laterais. Munido de um sanduíche de presunto (será?), rodo pelo estádio. Um busto de Pelé anuncia: o gol mais bonito da carreira do Rei foi feito ali mesmo, na rua Javari. Isso eu lembro de ter ouvido no documentário Pelé Eterno. Ele deu um “chapéu em quatro jogadores adversários, incluindo o goleiro. Mas isso não foi filmado, uma pena.
Rumo à arquibancada, que surpresa! Encontro meu amigo Makarius, habitante da Mooca, curtindo suas férias com futebol. Seus irmãos estão na arquibancada. Junto-me a eles, embaixo de uma área coberta.
Começa o segundo tempo. Aí percebo que um ex-campeão do mundo abrilhanta a partida. Vampeta enverga a camisa 8 do Juventus. Não gosto dele. Mistura de vampiro com capeta. Deu cambalhotas na rampa do Planalto. Posou nu numa revista gay. E, isso é o pior de tudo, jogou muito tempo pelo Corinthians. Puxo o coro, sem sucesso: Ei, Vampeta, vai...vocês sabem o quê...
Makarius, mais carismático, começa a gritar: Juventus, e ô, Juventus, e ô, e seu grito se espalha pelas arquibancadas, para o ódio dos lusitanos.
Pombos nos ameaçam, voando sobre nossas cabeças, com suas armas letais, verdes ou brancas.
A partida segue. Allan Dellon (hã?) do Juventus, marca o terceiro. Logo vêm outro gol da Portuguesa. A nação juventina começa a pedir o fim da partida. E chega o apito final. Juventus 3, Portuguesa 2. Até que fui pé-quente, não?
Meu amigo me oferece uma carona de carro até o metrô. Passamos pela praça mais feia da Mooca, de nome justamente “Viva a Mooca”.
Sobrevivo aos trens lotados e chego em casa. O Juventus ganha mais um torcedor. O que farei se ele jogar contra o Palmeiras? Não é possível ser salomônico a este ponto...fico com o Palmeiras.
Mas conhecer um lugar é passar a se importar com ele. E agora sei que na rua Javari, bairro da Mooca, São Paulo, há o maior e melhor campo de várzea do mundo.
Não sou grande entusiasta de futebol. Alguém já disse que é como um filme que segue sempre o mesmo o roteiro. Mas ir em estádios é algo que me agrada. O contato com os populares é interessante. E sempre quis ir no estádio do Juventus. Homenagearia as minhas raízes italianas. Trata-se de um campo histórico do futebol brasileiro.
A ida ao campo envolvia um certo planejamento. É dia do rodízio de veículos na cidade de São Paulo, o que me deixava a pé. Iria até o metrô Bresser e depois andaria ou pegaria um táxi até o local da partida. Havia uma outra questão. Como sair do escritório para assistir um jogo por volta das quatro da tarde? Aí o rodízio me salvava, pois o dia em que fico sem carro das cinco às oito é o dia em que tenho que forçosamente sair mais cedo. Desculpa boa. Só teria que sair quinze minutos antes do normal. Compenso isso chegando uma hora mais cedo.
Mas quem poderia ir comigo, num dia de trabalho, ao jogo? Tento um amigo que tem uma agenda de trabalho mais flexível, mas nada dele atender o celular. Pena. Lá vou eu, só.
Um aniversário de colegas quase me impede de empreender a “fuga” do trabalho. Mas, destemido, vou. Após um curto trajeto de metrô, chego à Mooca, na Zona Leste paulistana. O tempo urge. Um táxi me deixa perto da Javari.
Perto do estádio torcedores dos dois times já se provocam. Camisas roxas do Juventus e as cores da Portuguesa se destacam aqui e ali. Churrasquinho e cerveja são servidos nos botecos.
Na porta do campo uma fila imensa desencoraja os atrasados. Muita gente já desiste. Bate-boca e confusão. A polícia tenta acalmar os ânimos. Parece o fim da linha para mim. Mas eis que sou abordado por um cambista amigo, que me vende o ingresso desejado com pouco ágio. Seria falso?
O ingresso é aceito. Adentro o estádio. Verdadeira várzea. Tudo lotado. Cabem pouco mais de três mil pessoas. É como um ginásio de esportes maior, mas aberto. Torcidas organizadas separadas (a tropa de choque impõe respeito). Sento atrás do gol do Juventus. Procuro evitar as câmeras, vai que meu chefe assiste a TV bem na hora...
Vou torcer para o Juventus, viva a italianada! Deixarei o meu Palmeiras por duas horas. Pequena chifrada sem maiores conseqüências.
O jogo rola no gramado ruim. O campo é muito, muito perto dos torcedores. Se eu cuspir, pega em alguém. Literalmente se pode sentir os choques dos jogadores. O movimento e a cantoria das pessoas me distrai, e eu mal vejo o primeiro gol do Juventus, lá do outro lado, marcado por Lima. Apoteose. O lado juventino vibra, e os portugas choram. O Moleque Travesso faz mais uma das suas, sempre subestimando os incautos.
Que belo time, que belo esquadrão! Juventus amigo, do meu coração!
Colo o olho no jogo, e logo sai o segundo gol, de Marcus Vinicius. Tudo vira carnaval. Mas logo vem um atacante da Portuguesa e desconta, bem nas minhas fuças.
Acaba o primeiro tempo. Resolvo pegar um lugar melhor, nas laterais. Munido de um sanduíche de presunto (será?), rodo pelo estádio. Um busto de Pelé anuncia: o gol mais bonito da carreira do Rei foi feito ali mesmo, na rua Javari. Isso eu lembro de ter ouvido no documentário Pelé Eterno. Ele deu um “chapéu em quatro jogadores adversários, incluindo o goleiro. Mas isso não foi filmado, uma pena.
Rumo à arquibancada, que surpresa! Encontro meu amigo Makarius, habitante da Mooca, curtindo suas férias com futebol. Seus irmãos estão na arquibancada. Junto-me a eles, embaixo de uma área coberta.
Começa o segundo tempo. Aí percebo que um ex-campeão do mundo abrilhanta a partida. Vampeta enverga a camisa 8 do Juventus. Não gosto dele. Mistura de vampiro com capeta. Deu cambalhotas na rampa do Planalto. Posou nu numa revista gay. E, isso é o pior de tudo, jogou muito tempo pelo Corinthians. Puxo o coro, sem sucesso: Ei, Vampeta, vai...vocês sabem o quê...
Makarius, mais carismático, começa a gritar: Juventus, e ô, Juventus, e ô, e seu grito se espalha pelas arquibancadas, para o ódio dos lusitanos.
Pombos nos ameaçam, voando sobre nossas cabeças, com suas armas letais, verdes ou brancas.
A partida segue. Allan Dellon (hã?) do Juventus, marca o terceiro. Logo vêm outro gol da Portuguesa. A nação juventina começa a pedir o fim da partida. E chega o apito final. Juventus 3, Portuguesa 2. Até que fui pé-quente, não?
Meu amigo me oferece uma carona de carro até o metrô. Passamos pela praça mais feia da Mooca, de nome justamente “Viva a Mooca”.
Sobrevivo aos trens lotados e chego em casa. O Juventus ganha mais um torcedor. O que farei se ele jogar contra o Palmeiras? Não é possível ser salomônico a este ponto...fico com o Palmeiras.
Mas conhecer um lugar é passar a se importar com ele. E agora sei que na rua Javari, bairro da Mooca, São Paulo, há o maior e melhor campo de várzea do mundo.
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