Resenhas tardias: Alpha Dog
Em certos lugares, por ser um certo crime raro, ele pode se tornar um assunto por muito tempo. Vi quando a Inglaterra começou a se preocupar com o sumiço da pequena Madeleine, abduzida em Portugal, e que gerou um drama nacional. Lá, os seqüestros são tão raros que podem monopolizar o noticiário da BBC e da CNN por dias.
No Brasil um caso desse teria logo que dar espaço ao escândalo da vez, ou ao próximo delito. Seria apenas mais um crime.
Os EUA não são o que podemos chamar de uma terra segura. É melhor do que aqui, mas eles também atiram uns nos outros sem motivo. Mas os seqüestros são mais raros, e eles são ricos,e podem dar vazão às suas obsessões, narrando em livros e filmes alguns casos mais marcantes.
Uma fissura dos americanos é a história de Jesse James Hollywood, o garotão da Califórnia que constou na lista dos mais procurados do FBI, acusado de seqüestrar e matar o jovem Nick Markowitz, de apenas 15 anos. Sua história, embora com nomes trocados, é narrado no filme Alpha Dog, de Nick Cassavettes.
O diretor já havia feito o filme Um Ato de Coragem, sobre um pai que obtém um transplante vital para o filho por força de armas, ameaçando a equipe médica. Não gostei. Não acho que os fins justifiquem os meios. Achei aquele filme uma bobagem perigosa e pervertida. Em Alpha Dog ele se redimiu um pouco.
O tal Alpha Dog é Jesse, o líder da matilha, o macho alfa, pequeno traficante e sibarita. Esse era mesmo seu nome, não era apelido. Jesse James, como uma distorcida homenagem de seu pai ao bandoleiro do faroeste, Hollywood como sobrenome.
Por conta de uma dívida que o meio-irmão de Nick Markowitz tinha com Jesse, o jovem é raptado meio sem propósito, como uma espécie de refém, pelo bando do traficante, garotões de classe média metidos no crime. No começo até amarrado e amordaçado, aos poucos Nick vai gostando da situação, que vê como uma espécie de fuga da família careta. Passa a acompanhar Jesse e seu bando em baladas, usa drogas, bebe álcool, curte garotas, joga videogame, toma sol, uma espécie de feriado. Nick tem a chance de escapar, mas não quer. O rapaz estava curtindo tanto o cativeiro, diversas casas com piscina e festas, que ninguém que falou com o jovem percebeu que um crime grave estava em progresso. A atenção o lisonjeou e o cegou.
Mas, apesar da vítima se divertir, ainda é seqüestro. Alertado pelo advogado de que os seqüestradores poderiam pegar prisão perpétua, Jesse James vislumbra que só há uma solução, sangrenta, para obter a impunidade. Uma cova rasa no deserto, sem cruz ou lápide, para Nick. Apesar das inúmeras testemunhas do caso, o bando de James foi em frente com seu plano assassino. Nick, tendo o que parecia ser o tempo de sua vida, ingênuo, sequer percebeu o que era sendo tramado às suas costas.
A cena da mãe real de Nick, narrando o que houve com o filho, no filme, é arrasadora. Uma mulher deformada pela obesidade, depressiva e desolada. Um reality-show do diabo.
No que o filme se destaca? Creio que é mostrar que uma situação que parece simples pode descambar para um problema insolúvel. Uma versão prática da “banalidade do mal”, o termo clássico de Hanna Arendt, em que um bando de jovens desregrados e bom-vivant terminam por destruir vidas motivados por mesquinharias (uma pequena dívida de drogas). E todo crime não é uma bobagem? Os mortos em latrocínios por causa da carteira vazia nos saúdam.
Jesse James, após muito tempo, foi preso neste nosso Brasil, em Saquarema. Vivia com uma mulher grávida de cinco meses de um filho seu. Se a polícia chegasse após o nascimento da criança ele não poderia ter sido extraditado (furos de nossa lei e jurisprudência...). Azar dele e muita sorte dos que acreditam em Justiça. Aguarda julgamento e pode pegar parar no corredor da morte, como mandante do seqüestro trágico. O assassino que matou Nick e outros envolvidos pegaram diversas penas, como prisão perpétua e pena de morte.
É de se pensar. Por que o Brasil é um destino preferido de bandidões internacionais?
Alpha Dog é uma pequena boa obra. De um crime para nós, brazucas de coração endurecido pela realidade, infelizmente quase banal, o diretor tirou uma história que vale a pena ser contada. Entretenimento de primeira e um alerta.
Ficha Técnica – Alpha Dog, EUA/2006, 122 min. Drama. Dir. Nick Cassavettes
No Brasil um caso desse teria logo que dar espaço ao escândalo da vez, ou ao próximo delito. Seria apenas mais um crime.
Os EUA não são o que podemos chamar de uma terra segura. É melhor do que aqui, mas eles também atiram uns nos outros sem motivo. Mas os seqüestros são mais raros, e eles são ricos,e podem dar vazão às suas obsessões, narrando em livros e filmes alguns casos mais marcantes.
Uma fissura dos americanos é a história de Jesse James Hollywood, o garotão da Califórnia que constou na lista dos mais procurados do FBI, acusado de seqüestrar e matar o jovem Nick Markowitz, de apenas 15 anos. Sua história, embora com nomes trocados, é narrado no filme Alpha Dog, de Nick Cassavettes.
O diretor já havia feito o filme Um Ato de Coragem, sobre um pai que obtém um transplante vital para o filho por força de armas, ameaçando a equipe médica. Não gostei. Não acho que os fins justifiquem os meios. Achei aquele filme uma bobagem perigosa e pervertida. Em Alpha Dog ele se redimiu um pouco.
O tal Alpha Dog é Jesse, o líder da matilha, o macho alfa, pequeno traficante e sibarita. Esse era mesmo seu nome, não era apelido. Jesse James, como uma distorcida homenagem de seu pai ao bandoleiro do faroeste, Hollywood como sobrenome.
Por conta de uma dívida que o meio-irmão de Nick Markowitz tinha com Jesse, o jovem é raptado meio sem propósito, como uma espécie de refém, pelo bando do traficante, garotões de classe média metidos no crime. No começo até amarrado e amordaçado, aos poucos Nick vai gostando da situação, que vê como uma espécie de fuga da família careta. Passa a acompanhar Jesse e seu bando em baladas, usa drogas, bebe álcool, curte garotas, joga videogame, toma sol, uma espécie de feriado. Nick tem a chance de escapar, mas não quer. O rapaz estava curtindo tanto o cativeiro, diversas casas com piscina e festas, que ninguém que falou com o jovem percebeu que um crime grave estava em progresso. A atenção o lisonjeou e o cegou.
Mas, apesar da vítima se divertir, ainda é seqüestro. Alertado pelo advogado de que os seqüestradores poderiam pegar prisão perpétua, Jesse James vislumbra que só há uma solução, sangrenta, para obter a impunidade. Uma cova rasa no deserto, sem cruz ou lápide, para Nick. Apesar das inúmeras testemunhas do caso, o bando de James foi em frente com seu plano assassino. Nick, tendo o que parecia ser o tempo de sua vida, ingênuo, sequer percebeu o que era sendo tramado às suas costas.
A cena da mãe real de Nick, narrando o que houve com o filho, no filme, é arrasadora. Uma mulher deformada pela obesidade, depressiva e desolada. Um reality-show do diabo.
No que o filme se destaca? Creio que é mostrar que uma situação que parece simples pode descambar para um problema insolúvel. Uma versão prática da “banalidade do mal”, o termo clássico de Hanna Arendt, em que um bando de jovens desregrados e bom-vivant terminam por destruir vidas motivados por mesquinharias (uma pequena dívida de drogas). E todo crime não é uma bobagem? Os mortos em latrocínios por causa da carteira vazia nos saúdam.
Jesse James, após muito tempo, foi preso neste nosso Brasil, em Saquarema. Vivia com uma mulher grávida de cinco meses de um filho seu. Se a polícia chegasse após o nascimento da criança ele não poderia ter sido extraditado (furos de nossa lei e jurisprudência...). Azar dele e muita sorte dos que acreditam em Justiça. Aguarda julgamento e pode pegar parar no corredor da morte, como mandante do seqüestro trágico. O assassino que matou Nick e outros envolvidos pegaram diversas penas, como prisão perpétua e pena de morte.
É de se pensar. Por que o Brasil é um destino preferido de bandidões internacionais?
Alpha Dog é uma pequena boa obra. De um crime para nós, brazucas de coração endurecido pela realidade, infelizmente quase banal, o diretor tirou uma história que vale a pena ser contada. Entretenimento de primeira e um alerta.
Ficha Técnica – Alpha Dog, EUA/2006, 122 min. Drama. Dir. Nick Cassavettes
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