Lei Seca

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segunda-feira, fevereiro 19, 2007

O desfile de carnaval, em seus bastidores

Por obra e graça do acaso, eu e a minha pequena fomos convidados para desfilar na Mancha Verde, escola de samba paulistana, no desfile do sábado passado.
Era nossa primeira vez. Nossa fantasia seria de árvore, numa ala que seria uma floresta parcialmente destruída.
Chegamos a um barracão na Pompéia bem cedo, e ficamos aguardando algumas horas até o momento em que ônibus levariam todos os foliões até o Sambódromo do Anhembi.
O enredo da escola era sobre o Apocalipse, o último livro da Bíblia, e o fim do mundo. Achei meio indigesta a escolha de um tema religioso para a festa pagã de um estado supostamente laico, mas enfim... E a letra do samba era ininteligível (sempre tenho medo de escrever essa palavra. Ela tem a soletração difícil. E ela própria é ininteligível para alguns).
No primeiro contato com a fantasia percebi que uma pequena maratona nos aguardava naquela noite. Era uma roupa, oras, de árvore. Metade era uma árvore frondosa, com galhos, folhas, etc., e a outra metade era uma árvore decrépita, como uma planta-zumbi, uma parcela inv(f)ernal e dantesca de algo vivo. Havia um ombreiro pesado, onde galhos desabrochavam. Sentia-me como a Barbárvore, do Senhor dos Anéis.
Todos estavam empolgados para colocar logo as fantasias, mas percebi que aquele peso ficaria com a gente um bom tempo. Deixei para a última hora.
Subimos nos ônibus, carregando as fantasias pesadas. Todos queriam gritar “Porco” ou “Palmeiras”, inclusive eu, mas o Denis, diretor da ala, gritava de volta, querendo evitar briga:
- Gente, nada de futebol.
Após um breve percurso, estávamos no Anhembi. Fomos colocados em nossa posição e ficamos aguardando até a hora do desfile.
De um profissionalismo total a organização do carnaval e da escola. Chegamos na hora necessária, com transporte, tudo direitinho, e o mesmo se deu na saída. Nada de tumulto.
A espera pelo momento de desfilar é um momento surreal. Temos contato com todas as alas, inclusive de outras escolas, e vemos uma fantasia mais louca que a outra. Ficamos sentados com as demais “árvores”. Algumas tomavam cerveja, refrigerante, comiam, fumavam. Era como ver aqueles filmes em que o Papai Noel fuma e está sempre de pileque, com a roupa vermelha amarfanhada.
Chega a hora. Começamos a caminhar até o Sambódromo. Fogos de artifício explodem bem baixo. Parece Ano Novo.
Anda-se bastante até chegar à passarela. A expectativa vai aumentando até por o primeiro pé na avenida. As árvores trombam o tempo todo, os galhos se enroscam.
Tirando a torcida do Palmeiras, o resto da platéia não parecia muito empolgada. O pessoal dos camarotes parecia mais ocupado em encher a cara e xavecar.
Minha pequena depois diria que o pessoal não estava nem aí.
O diretor de nossa ala, nosso amigo Denis, corria de um lado a outro para manter a cadência dos passistas e para garantir que não houvesse espaços na ala.
Do nosso canto do desfile não se percebe nada do que está acontecendo. Vejo a ala anterior e a seguinte, e um pouco atrás o último carro alegórico, lotado de siliconadas.
Quando as câmeras de TV se aproximam todos dão uma caprichada no passo. O mesmo diante dos jurados.
Para a glória suprema e perpétua de meu desfile sou avisado de que aparecemos na Globo. É a apoteose. Apareço como o único close e em primeiro plano da nossa ala. Sou, finalmente, um quase-famoso. Galvão, filma eu!
Assisto ao desfile gravado e só então tenho uma noção do quadro geral. Foi um desfile bonito.
Confesso que ganhei um respeito danado pelo pessoal que organiza o desfile e por quem desfila. É um trabalho árduo.
Às quatro da manhã conseguimos dormir. Suados, exaustos e cobertos de purpurina. Só no terceiro banho pós-desfile ela saiu.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Irmaozinho querido, te vi na tv!!!!! Estava LINDO!!! É isso aí... já teve seus 15 minutos de fama!!!

21/2/07 21:15  

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