Lei Seca

Um espaço para discutir as grandes questões. Editor-chefe: Luiz Augusto

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Advogado, vive em São Paulo

terça-feira, dezembro 22, 2009

Pára, João Pedro!

O título acima, com acento diferencial e tudo (protesto contra a reforma ortográfica), será provavelmente o grito mais ouvido em jardins de infância e parques daqui a alguns anos, causando muita confusão. As mães e tias (as professoras) vão ter que chamar os Joões Pedros por números a fim de distinguir uns dos outros.
Vai aqui o alerta. A população de Joões Pedros (ou Joãos? Escolham...) não pára de subir no Brasil. Em breve haverão mais Jotapês (será esse o apelido deles?) no mundo que Maomés (Mohameds), nome bastante comum planeta afora.
Por quê esse fenômeno me chamou a atenção? Eu ando por aí, meus amigos. Toda vez que alguma conhecida está grávida, pergunto o nome do rebento. Pergunto por desencargo de consciência. Já sei o que a moça vai dizer:
- É João Pedro.
Se elas tivessem me dado só uma chance de adivinhar eu teria acertado. Foi assim das últimas cinco vezes que perguntei. E será das próximas vinte, trinta vezes. É o nome da moda. É bíblico. É um evangelista e o primeiro papa. É irresistível, pegou de vez.
Por que as jovens mamães brasileiras adotaram entusiasticamente essa combinação de nomes? Algumas deixam só Pedro (em grande número também), há João isolado, mas o João Pedro é insuperável.
Como tantos Jotapês se diferenciarão uns dos outros no futuro? As mamães estão pensando nisso? Creio que não. Cada mãe imagina seu filho como único, futuro ganhador do Nobel ou Presidente da República. Por isso os Jotapês serão forçados a ter uma agenda de adultos, com escola de manhã e as tardes tomadas de Kumon, natação, karatê, inglês e malabares. Fora o catecismo no domingo. Epa, até saí do assunto da crônica.
Jovens mãezinhas, vocês são mulheres esclarecidas. São modernas, conciliam maternidade, carreira, casamento, atenção à família, lêem os livros apoiados pela crítica. Custa um pouco mais de imaginação para escolher o nome daquele que será seu herdeiro, sangue do seu sangue, carne da tua carne? Vocês iam gostar que sua mãe tivesse escolhido vossos nomes só porque todas as outras mães achavam bonito? Por quê era modinha?
Há tantas figuras históricas que dariam bons nomes. Façam a lição de casa, o nome é para sempre. Pesquisem a enciclopédia, fucem os bons sebos. Assurbanipal, Nabucodonosor, Akénaton, fica a dica.
Vocês gostam dos apóstolos, mas ignoram o próprio Jesus. Por quê? Só por causa do triste fim dele? Não esqueçam que João Batista (não o evangelista) teve a cabeça servida numa bandeja para seus inimigos e que Pedro morreu crucificado de ponta-cabeça.
Está cheio de Júlio César por aí e ninguém faz ressalva de que ele morreu esfaqueado. Marco Antônio também não terminou muito bem. Nem o Luís XVI. E são nomes bem comuns.
Só me resta avisar: pára, João Pedro.